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Jornalista brasileiro ameaçado de morte é assassinado por pistoleiros no Paraguai, em região perigosa

Por Júlio Lubianco e Marina Estarque

O jornalista brasileiro Lourenço Veras, conhecido como Léo Veras, diretor de redação do site Porã News, foi assassinado na noite desta quarta-feira, dia 12 de fevereiro, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. A cidade é vizinha à brasileira Ponta Porã.

O jornalista foi atingido por cerca de 12 tiros de pistola 9 milímetros por três pistoleiros que invadiram a sua casa enquanto ele jantava com a sua família, informou o G1. O site comandado por Léo Veras cobria a fronteira entre Brasil e Paraguai e publicava informações sobre o crime organizado e políticos da região.

O chefe de polícia de Amambay, departamento paraguaio cuja capital é Pedro Juan Caballero, disse que o assassinato pode estar relacionado à atividade profissional do jornalista, segundo o ABC Color. Ignacio Rodríguez Villalba disse ainda que Léo Veras chegou a contar com escolta policial “há oito ou dez anos” por conta das ameaças que recebia na época.

“Segundo certas informações, (o crime foi cometido devido a) publicações que ele fez sobre o crime organizado. Nos últimos tempos, ele fez muitas publicações na fronteira. É o que parece,” disse o policial à rádio ABC Cardinal.

O promotor paraguaio Marco Amarilla, que participa da investigação do caso, disse que Léo Veras vinha sendo ameaçado de morte.

“Ele recebeu ameaças nesses últimos dias. Ele estava nervoso, estava inquieto, estava temeroso. Em uma conversa que manteve com sua esposa, ele se despediu, praticamente. Ele disse: ‘Amor, se cuida, cuida das crianças’. Praticamente se despede de sua família. Ou seja, já sabia que iriam matá-lo”, afirmou o promotor segundo o G1.

Há menos de um mês, Léo Veras deu entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, sobre a atuação de facções criminosas de narcotraficantes na fronteira. Na entrevista, ele diz vinha recebendo ameaças de morte através de mensagens de texto no celular.

“Ele aprofundava suas investigações jornalísticas, isso incomodava os mafiosos da fronteira e foi por isso que eles o mataram. Sempre falava sobre ameaças, mas na fronteira eles não acreditam em você até que aconteça,” disse o jornalista Santiago Benítez à rádio paraguaia Universo 970 AM.

O Sindicato de Jornalistas do Paraguai divulgou uma nota em que lamenta a morte do jornalista e exige das autoridades garantias de vida e segurança para outros profissionais trabalhando na região.

Dor e raiva nos invadem novamente diante do décimo nono colega assassinado em nosso país. Vimos que mais uma vez os grupos criminosos tentam apagar a voz dos jornalistas por meio de balas e violência, diante da cumplicidade de um Estado totalmente infestado pela máfia e pela narcopolítica,” diz o sindicato na nota.

Em 2017, Veras deu entrevista para o Projeto Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que apura assassinatos de jornalistas e comunicadores no exercício da profissão. Ele falou na ocasião sobre as mortes dos jornalistas Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, o Paulo Rocaro, e Luiz Henrique Rodrigues Georges, o “Tulu”, ocorridas em 2012. No vídeo, ele admite ser alvo de um possível atentado.

“Eu sempre peço que não seja tão violenta a minha morte, que não seja com tantos disparos de fuzil. Se um pistoleiro quer te matar, ele vem na sua porta, manda você abrir e ele vai te dar um disparo. Eu espero que seja só um disparo para não estragar tanto,” disse Veras em 2017.

A Abraji cobrou “agilidade das autoridades no esclarecimentos das circunstâncias do crime”, em nota publicada sobre o assassinato. A associação informou que está avaliando a inclusão do caso no Programa Tim Lopes. “Todo assassinato de jornalista é uma tentativa de calar o mensageiro, comprometendo a liberdade de imprensa,” disse a entidade.

Segundo a Abraji, fontes próximas a Léo Veras relataram que o jornalista estava preocupado com as consequências da fuga de 75 presos, a maioria ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), da penitenciária regional em janeiro de 2020.

A entidade reforçou a “necessidade de autoridades acompanharem, com rigor, ameaças a jornalistas e comunicadores”. “É dever do Estado prover todos os meios possíveis para garantir a segurança dos profissionais de imprensa”, disse.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) também publicaram nota em que lamentam o assassinato e cobram uma investigação e punição dos responsáveis.

“A apuração criteriosa e rápida da morte de Léo Veras, assim como dos demais homicídios de jornalistas, é fundamental para combater a impunidade, principal causa da continuidade desse tipo de crime”, afirmou.

Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) também se manifestou e exigiu que as autoridades brasileiras colaborem com as investigações. A federação disse que Veras tinha ficado conhecido por suas reportagens policiais sobre o crime organizado na região.

“A violência contra jornalistas atinge a categoria e toda a sociedade. Os profissionais são diretamente atingidos, mas a liberdade de imprensa, garantidora do direito à informação, fica ameaçada. Sem Jornalismo não há democracia”, conclui a nota.

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) disse que já havia denunciado as ameaças contra o jornalista em 2013. Na época, uma mensagem recebida por Veras dizia que ele estava “na lista de pessoas a serem executadas na zona de fronteira”.

“Vou continuar fazendo o meu trabalho como eu faço todos os dias. Não existe ameaça que me impossibilite. Não vou me trancar em casa por causa disso”, disse na ocasião.

O Foro de Periodistas Paraguayos (FOPEP) também emitiu um comunicado em que lamenta a morte do jornalista. “O Fopep exorta as autoridades do Ministério do Interior a realizar uma investigação profunda para encontrar os assassinos do colega atacado na sua própria casa e posteriormente morto a caminho do hospital. Da mesma forma, exige proteção imediata dos colegas da zona, diante da insegurança reinante e a falta de garantias para realizar o trabalho de informar”, afirmou.

A entidade termina a nota defendendo a liberdade de expressão como um pilar da democracia. “Um Estado que não protege os seus jornalistas é um Estado falido”.

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