Em 2020, o InSight Crime comemora dez anos fazendo reportagens aprofundadas e investigações jornalísticas nos lugares mais perigosos e sobre as gangues criminosas mais violentas da América Latina.
O InSight Crime é uma organização híbrida, "parte meio de comunicação, parte think tank e parte uma instituição de pesquisa acadêmica", conforme descrito por seus fundadores. Seu foco é o crime organizado presente em grande parte das Américas. Em sua década de atuação, redefiniu a forma como se faz cobertura internacional na região.
“Isso não é algo que pode ser feito à distância, de longe; você tem que estar no lugar e nós estamos no terreno”, disse o cofundador e codiretor Steven Dudley em uma videoconferência sobre os dez anos.
Jornalistas e pesquisadores do InSight Crime cobriram, em inglês e espanhol, como o crime organizado evoluiu para uma forma moderna de escravidão e é uma das causas do deslocamento de pessoas nos países latino-americanos. Também investigaram a violência sistemática contra migrantes entre a América Central e o México e o impacto da legalização de algumas drogas em alguns países da região. Além disso, cobriram o custo humano e econômico das atividades criminosas no México.
Uma de suas investigações mais recentes e de grande impacto foi “O narcotraficante invisível: nas pegadas do Memo Fantasma”. A investigação em seis partes foi conduzida ao longo de vários anos, na Colômbia e na Espanha, e trata da ascensão e subsequente exílio do ex-traficante de drogas e líder do temido exército paramilitar das Autodefensas Unidas de Colombia (AUC). Esta investigação ganhou o Prêmio Nacional de Jornalismo Simón Bolívar da Colômbia em novembro de 2020.
O InSight Crime começou com um grupo de trabalho de cinco pessoas em 1º de dezembro de 2010, em Medellín, Colômbia. Dudley, um jornalista americano, e o jornalista britânico Jeremy McDermott, lançaram seu site com análises e perfis de grupos criminosos, personalidades, países e iniciativas de segurança no México e na Colômbia. Seus escritórios principais continuam sendo em Washington D.C., EUA, e em Medellín.
A falta de uma cobertura diária e de reportagens investigativas e analíticas no ecossistema midiático da região foi o que os levou a apresentar sua proposta de iniciativa à Open Society Foundations, segundo o site da entidade. Na ocasião, contaram com o apoio institucional da organização colombiana Fundación Ideas para la Paz (FIP).
“Existe uma estranha dicotomia no mundo de hoje, em que temos acesso a enormes quantidades de informações, mas ainda temos muito pouca informação necessária para tomar decisões e adotar estratégias para lidar com os problemas fundamentais de nosso tempo”, escreveram em sua primeira proposta de projeto em 2010.
No início, começaram escrevendo de três a cinco artigos por semana sobre capturas e apreensões, analisando com maior profundidade o funcionamento dos grupos criminosos e sua evolução. Eles fizeram uma análise sobre a guerrilha Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC), e também sobre a expansão vertiginosa de uma organização criminosa emergente na época, Los Zetas, no México.
“O que estamos tentando fazer é combinar da melhor forma possível as informações que temos disponíveis e apresentar um quadro mais completo e matizado do crime organizado, a forma como funciona e, com sorte, também uma avaliação muito clara dos esforços do Estado para fazer frente ao crime organizado ”, disse Dudley recentemente em uma palestra para estudantes de jornalismo da Universidade do Texas em Austin.
Em 2012, o InSight Crime se tornou uma fundação com o apoio da Câmara de Comércio de Medellín. Naquele ano, também começaram a fazer uma análise anual com base em suas investigações, sobre os avanços e mutações do crime organizado na região que tenta identificar padrões e tendências. Essa análise é apresentada a cada ano sob o nome de "Game Changers" (ponto de inflexão). A edição 2020 será lançada no final deste ano.
Seu site em espanhol foi lançado em 2014, para fortalecer seu impacto junto ao público latino-americano.
De acordo com o InSight Crime, entre 300 mil e 400 mil leitores acessam o conteúdo do seu site e das suas redes sociais todos os meses. A maioria de seus leitores está em Washington D.C., entre outras capitais mundiais, segundo a organização.
Dudley e McDermott têm um processo de treinamento para recrutar jornalistas que pode levar até um ano. Geralmente convocam jovens jornalistas recém-formados ou com mestrado. Eles os treinam para trabalhar em ambientes hostis, em primeiros socorros, em técnicas de entrevista, nessa mistura de jornalismo e academia. Aqueles que sobrevivem e querem ficar são os que trabalham na InSight Crime, disse McDermott na videoconferência de aniversário.
Eles sempre fazem uma análise de risco antes de cobrir algum lugar. Eles nunca vão a algum terreno sem alguém local para acompanhá-los. Quando é necessário ir a um local de alto risco, eles fazem isso por apenas algumas horas. "A segurança é sem dúvida uma das coisas mais importantes para nós", tanto para sua equipe quanto para suas fontes, disse McDermott.
Este ano, a pandemia da COVID-19 dificultou o trabalho de investigação e de reportagem de campo, de acordo com Dudley, mas eles estabeleceram os protocolos necessários para aqueles que precisam sair para reportar nas ruas. "Não é a mesma coisa, tem sido definitivamente difícil", disse Dudley.
No futuro, eles vão expandir seu espectro de investigações, investigando crimes relacionados ao meio ambiente, cujas consequências muitas vezes aceleram a destruição da natureza em diferentes níveis, segundo Dudley. Eles também vão analisar o papel das mulheres nos grupos do crime organizado.
“Não esperávamos ter 50 pessoas trabalhando para nós, não pensávamos que iríamos fazer projetos em 17 países em um único ano, que é o que fizemos no ano passado, não pensamos que poderíamos ter funcionários que falassem meia dúzia de idiomas, e que vão estar operando em mais de uma dúzia de países ”, disse Dudley. "Todas essas coisas nunca poderíamos ter previsto, mas suponho que se olhássemos para o futuro e pudéssemos prever alguma coisa, seria que o crime organizado continuaria conosco ... e com certeza nós também estaremos."
*Esta história foi escrita originalmente em espanhol e foi traduzida por Marina Estarque.