No dia 7 de junho, quando se comemora o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, o jornalismo no Brasil terá outro motivo para celebrar. Um grupo de 30 organizações jornalísticas online inovadoras, independentes e comprometidas com a diversidade e a democracia aproveitaram esta data para o lançamento oficial da Ajor - Associação de Jornalismo Digital.
O lançamento já havia sido antecipado no dia 3 de maio deste ano em um anúncio no Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital, organizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, que desde agosto de 2020 tem ajudado na formação da Ajor. A ideia original de criar a associação nasceu das organizações jornalísticas nativas digitais que realizavam o Festival 3i - Jornalismo Inspirador, Inovador e Independente.
A Ajor é fundada pelas seguintes organizações: Agência Amazônia Real; Agência Mural; Agência Saiba Mais; Alma Preta; data_labe; Eco Nordeste; Énois Laboratório de Jornalismo; Gênero e Número; InfoAmazonia; Instituto O Joio e O Trigo; JOTA; MyNews; Nexo Jornal; Nós, mulheres da periferia; Periferia em Movimento; Plural; Portal Catarinas; Projeto #Colabora; Repórter Brasil e Revista Afirmativa. As organizações que, além de fundadoras, fazem parte da composição do Conselho Executivo e Deliberativo são: ((o))eco; Agência Pública; Aos Fatos; Congresso em Foco; Marco Zero Conteúdo; Maré de Notícias Online; Meio; Ponte Jornalismo; Rádio Novelo e Revista AzMina.
A Ajor surge num momento em que os veículos digitais se multiplicam, ganham espaço e reconhecimento no país. Nesse contexto, a associação tem como missão principal o fortalecimento do jornalismo digital brasileiro.
No comunicado de lançamento, a Ajor afirma que as suas atividades vão ter três eixos de atuação:
O comunicado destaca ainda que mais de 20 das 30 organizações fundadoras têm mulheres e pessoas negras em posição de liderança. A diversidade também aparece na pluralidade de membros, com "associadas em todas as regiões do país, com diferentes modelos de negócio e tipos de produção de conteúdo".
"As organizações que fazem parte da Ajor estão há alguns anos liderando a inovação no jornalismo brasileiro – são vencedoras de grants, estão sendo procuradas por aceleradoras e figuram em listas de 'start-ups para se ficar de olho' e todo ano figuram nos principais prêmios jornalìsticos do Brasil e do mundo. Essas organizações precisam de uma entidade que represente seus interesses, fomente esse jornalismo inovador e defenda a democracia nesse momento crucial da história", afirmou a primeira presidente da Ajor, Natalia Viana, diretora executiva da Agência Pública, à LatAm Journalism Review (LJR).
“A Ajor nasce com uma tarefa histórica no Brasil: consolidar as mídias emergentes para permitir uma maior diversidade no jornalismo em um ambiente que sempre foi muito concentrado", completa Viana.
Maia Fortes, secretária executiva da Ajor, afirma que a variedade de membros é um dos pontos fortes da associação. "A Ajor nasce consciente dos principais desafios vividos pelo jornalismo digital brasileiro e se propõe a responder a eles em diferentes frentes, fortalecendo iniciativas que ampliam o acesso à informação de qualidade para a sociedade", disse Fortes à LJR.
“A Ajor é um passo importante para o jornalismo brasileiro. A reunião de tantas organizações diferentes reforça que a diversidade na imprensa, que deve continuar livre e independente, é fundamental para a democracia. Estamos felizes em fazer parte desta força coletiva”, afirmou Cíntia Gomes, diretora institucional da Agência Mural de Jornalismo das Periferias, no comunicado.
A Ajor começou a ser articulada pelos organizadores do Festival 3i de Jornalismo Inspirador, Inovador e Independente durante a última edição do evento, no Rio de Janeiro, em novembro de 2019. Em agosto de 2020, diretores das organizações representadas no conselho curador do Festival 3i passaram a fazer reuniões virtuais regulares para construir a Ajor e, mais tarde, convidaram outras organizações para participar do projeto. O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas participou desde o início desse processo, ajudando na criação e estruturação da Ajor.
“Ficamos muito honrados quando o conselho curador do Festival 3i nos convidou a ajudar na construção da Ajor”, contou o professor Rosental Alves, fundador e diretor do Centro Knight. “Desde aquele convite, durante o Festival 3i de 2019, nos pusemos mãos à obra para ajudar no que fosse possível, usando nossa experiência de ter auxiliado jornalistas a formar outras organizações pela América Latina afora, como a Abraji, no Brasil; a Fopea, na Argentina; e o Consejo de Redacción, na Colômbia, entre outras”.
Para apresentar a associação, o Conselho da Ajor vai fazer uma live em 10 de junho, às 19h, com a presença do professor Alves. O evento vai ser transmitido pelos canais do Youtube e do Facebook da associação.
Atividades e novos membros
A associação está aberta a outras organizações que queiram se associar. "A Ajor pretende ser a maior organização de jornalismo digital do Brasil. Estamos ainda em fase inicial, mas temos como visão crescer em número de afiliadas, sempre privilegiando organizações que estão fazendo jornalismo de excelência em seus temas ou territórios", assegurou Viana.
No site da Ajor, estão descritas algumas das condições que o veículo deve ter para poder se candidatar, além de descrever as faixas de contribuição financeira com as quais os associados devem se comprometer (é possível obter isenção). Há também um formulário para que a organização postule o ingresso na Ajor.
Como membro, o meio de comunicação tem direito a alguns benefícios, como participar de atividades e eventos e usufruir de parcerias com organizações educacionais e empresas de tecnologia.
Desde antes do lançamento, uma das atividades que tem sido promovida dentro da Ajor são as Conversas em Off, reuniões quinzenais sigilosas para discutir questões estratégicas de negócios e buscar soluções a partir das experiências de cada membro. As associadas também possuem um grupo de Whatsapp e de email, além de uma newsletter, que vai trazer informações, entre outras coisas, sobre oportunidades, prêmios e editais de financiamento.
A Ajor mantém ainda o Momentos de Escuta, voltados à discussão de boas práticas de diversidade, bem como uma Comunidade de Tec, formada pelas equipes de tecnologia dos membros, com foco em segurança digital – a comunidade compartilha desafios, pensa em soluções conjuntas e apoia as associadas que não têm equipes fixas de desenvolvedores.
Também está previsto um suporte na busca de apoio jurídico em caso de processos abusivos contra as associadas. No site, a Ajor diz que já tem uma parceria com a Rede Liberdade e busca outras organizações para ampliar essa rede de assistência jurídica.