texas-moody

Mapa colaborativo de incêndios em favelas de São Paulo ilustra as possibilidades da apuração distribuída

Ao compartilhar no Facebook uma planilha do Google Docs com o levantamento inicial dos incêndios em favelas paulistas, a jornalista Patrícia Cornils teve uma resposta surpreendente. Várias pessoas começaram a colaborar com a pesquisa, que acabou se transformando no Fogo no Barraco. A iniciativa, um mapa interativo que cruza os dados dos incêndios com a valorização imobiliária nas proximidades das áreas atingidas, é um exemplo da força da apuração distribuída e das possibilidades jornalísticas da colaboração online.

Segundo a jornalista, a planilha ganhou dimensão quando ela resolveu abrir o processo e pedir ajuda em rede. "Não tinha expectativa nenhuma a não ser começar a reunir informação mais fundamentada sobre os incêndios, porque estava preocupada e curiosa com o que vinha - vem - acontecendo. Acho que o mapa só ganhou relevância quando se tornou mapa, ou seja, quando as pessoas conseguiram visualizar mais concretamente o tanto de incêndios que está rolando", explicou ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Patrícia não sabe precisar quantas pessoas ajudaram no levantamento, mas comemora o resultado do trabalho coletivo, que já compilou mais de 700 casos de incêndios em favelas. As principais fontes da pesquisa compartilhada são matérias jornalísticas e informações da defesa civil. "As pessoas participaram sem outro incentivo além da necessidade que elas veem de levantar essa discussão e investigar o tema", ressaltou a jornalista.

Entre os colaboradores, o programador Pedro Moraes foi o responsável por transformar os dados em mapa. Embora não se conhecessem, Pedro e Patrícia já faziam parte da Transparência Hacker, comunidade online que articula ideias e projetos com uso de tecnologia para fins de interesse da sociedade. Segundo Moraes, o aplicativo foi criado em software livre, com o código aberto para novos usos, e precisa de mais desenvolvedores web para avançar. No site da iniciativa, há uma explicação de como contribuir.

Veículos como o britânico The Guardian e o americano New York Times já lançaram projetos de investigação colaborativa, como o "Investigate your MP’s expenses" e o "The High Price of Creating Free Ads", que angariaram participação massiva. Porém, iniciativas como o Fogo no Barraco mostram que a apuração distribuída não precisa partir de meios de comunicação para ser bem-sucedida. "A possibilidade de colaboração na internet descentralizou a atividade da produção que a gente chama de 'jornalística'. Neste sentido, qualquer pessoa pode ser um repórter. Buscar dados, fazer pesquisas, consultar fontes, cruzar informações. E isso é muito, muito legal. É um jornalismo sem intermediários, sem o 'jornalista'", comenta Patrícia.

Para continuar o processo, um blog da iniciativa está aberto a novas ideias e qualquer um pode postar contribuições.

Note from the editor: This story was originally published by the Knight Center’s blog Journalism in the Americas, the predecessor of LatAm Journalism Review.