Por Alejandro Martínez
A organização mexicana Periodistas de a Pie apresentou, no dia 2 de dezembro, na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, seu mais recente esforço coletivo, a publicação Entre las Cenizas: Historias de Vida en Tiempos de Muerte. A obra conta "histórias de resistência, solidariedade e esperança protagonizadas por mulheres e homens anônimos que sofreram com a violência desatada na guerra contra o narcotráfico no México.
No entanto, para Marcela Turati, jornalista da revista Proceso e uma das fundadora da organização, o livro não apenas busca inspirar os mexicanos atingidos pela desesperança, mas também jornalistas que querem contar histórias além da tragédia.
“Entre las Cenizas busca pagar uma das dívidas do jornalismo mexicano, que se concentrou em mostrar o horror da violência ligada ao tráfico e os envolvidos na guerra como protagonistas”, disse a organização em comunicado.
Além de reunir 10 crônicas de alguns dos jornalistas mais importantes na área de direitos humanos no México, "Entre las Cenizas" é um exemplo de reflexão sobre o exercício do jornalismo em uma zona de conflito e os méritos do trabalho em grupo para guiar e fortalecer um projeto.
Turati falou recentemente con o Centro Knight sobre o desafio de fazer o livro e buscar, em equipe, uma nova abordagem para a violência no país.
Entre las Cenizas terá uma tiragem limitada, mas pode ser baixado gratuitamente na página do livro, na qual também estão disponíveis 10 vídeos, que acompanham cada história.
Centro Knight: Por que escolheram esse tema?
Marcela Turati: Sabemos que as pessoas querem ler essas histórias. As pessoas estão cansadas de ler sobre o narcotráfico da perspectiva do horror. Muitos jornalistas nos disseram que as pessoas lhes diziam que não liam mais sobre o assunto, que desligavam a TV, e isso é muito preocupante. Queríamos conseguir que as pessoas não sentissem repulsa, que quisessem saber do que tinha acontecido. Não são histórias "leves", mas de gente que está se organizando.
Muita gente muito desesperançada nos perguntava o que era possível fazer, quero fazer algo, mas não sei por onde começar. Nós nos perguntamos: Como contar o que está o que acontecendo, mas a partir de outros pontos de vista? Pensando nisso, buscamos exemplos de quem já está fazendo algo.
No dizemos: Faça como eles, mas oferecemos 10 histórias nas quais, apesar das ameaças e do horror, as pessoas fizeram algo para mudar a história.
CK: Todos os participantes do projeto trabalharam anteriormente na cobertura de alguns dos efeitos mais brutais da guerra contra o narcotráfeco. Dado o tom tão distindo desta livro, o que ele representa para vocês como jornalistas?
MT: Para nós, jornalistas, é uma pausa depois de seis anos cobrindo coisas horríveis, de não entender o que acontecia, de sentir que não havia esperança, de que não havia futuro. Também foi como oxigênio. Dizíamos: “vamos fazer isso, escrever de outra maneira, e ver o que acontece". E foi muito difícil. Parece um livro simples, mas teve vários truques e segredos.
CK: Como os quais?
MT: Como o roteiro das coisas que tínhamos que focar para educarmos o olhar e a mira para onde iríamos atirar. Definimos que queríamos relatar caso de pessoas que se organizaram para pedir justiça por seus mortos e seus desaparecidos, para defender o seu terrítório contra narcotraficantes ou que se disponibilizaram para ajudar outras pessoas que sofriam do mesmo mal, como os imigrantes.
Queríamos evitar a tendência de focar heróis solitários. Queríamos destacar esforços coletivos. Alguns jornalistas estavam “encantados” com casos isolado e corríamos o risco de fazer propaganda deles. Por isso, pedíamos sempre uma visão mais abrangente. Foi difícil também ter uma organização homogênea. Não queríamos passar a ideia de que tudo isso pudesse ser simples.
Alguns de nós as vezes ficamos muito aproximos desses casos, nos desiludíamos, e diziamos “Só encontramo isso, este caso é muito pequeno, a investigação deveria se melhor”. Jornalistas são impacientes, nós queremos notícias super espetáculares. Mas temos que nos limitar a escrever o que vemos, sem exaltar e nem demeritar. Quando essas situações aconteciam, nos perguntávamos: “Em qual momento nos decepcionamos com a história?, O que gerou a decepção?, Qual era a expectativa?, O que realmente encontramos?, Havia a possibilidade de reescrever o caso de um outro jeito?, O que podería ser aproveitado?”. Foi uma grande aprendizagem para todos.
Leia a entrevista completa, em espanhol, aqui.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.