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Governo boliviano premia jornais do país que publicam versões irônicas em miniatura

O Ministro de Cultura da Bolívia, Pablo Groux, premiou os oito jornais do país que publicam a chamada "Imprensa Escrita em Miniatura da Alasita da cidade de La Paz", informou a agência de notícias Prensa Latina. O prêmio foi concedido depois que, no último dezembro, esses jornais foram incluídos no registro regional da Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), segundo o jornal Página Siete.

Os “periodiquitos” ("jornaizinhos"), como são conhecidas as versões reduzidas dos principais veículos escritos do país, são impressos em 24 de janeiro, no dia da festa ancestral da “Alasita” (compra-me, no idioma aymara) da cidade de La Paz (oeste do país), informou a AFP. A Feira de Alasita é um ambiente de compra e venda de todos os tipos de artigos em miniatura que tem suas origens nos tributos ao deus indígena “Ekeko”, deus benfeitor da colheita e da fertilidade, acrescentou a AFP.

Da mesma forma, os principais jornais da Bolívia publicam réplicas de seus formatos e edições pequenas, de 10X14 cm, cujo objetivo é ironizar figuras públicas da política, do entretenimento e do esporte, acrescentou a  AFP. Nessa edições, os nomes das figuras públicas geralmente são alterados e acompanhados por fotomongatens. Seu preço oscila entre um boliviano (14 centavos de dólar) e 2,50 bolivianos (35 centavos de dólar), acrescentou a agência.

Assim, a versão miniatura do jornal Página Siete teve o título “Chile oferece 10 mil garrafas d'água do mar para resolver questão marítima", em referência à tensão entre os dois países por causa das reivindicações da Bolívia por uma saída pelo mar, após perdê-la em sua guerra contra o Chile.

As relações difíceis entre os governantes da Bolívia e do Chile, Evo Morales e Sebastián Piñera, também foram inspiração para o título do jornal miniatura La Razón, que dizia “Evín (Evo) dá uma joelhada em Cuevastián (Sebastián) pela questão do mar", recordando a joelhada nos testículos que Morales deu em um jogador do time oposto em um jogo amistoso após reclamar de jogo bruto", explicou a AFP.

Segundo o escritor Antonio Paredes, citado pela Prensa Latina, a produção desses jornais data de 1846 e eles nasceram com o “objetivo de fazer críticas sociais e políticas de forma sarcástica, o que não mudou até hoje". Segundo Jesús Ilusco, historiador e pesquisador citado pelo jornal Página Siete, esses jornais, “que são publicados de forma jocosa e questionadora, têm elementos muito próprios da época".

Para Groux, esses jornaizinhos "são uma verdadeira expressão de liberdade, de luta contra o poder em forma de sátira", e acrescentou que seu próximo objetivo é propor que façam parte do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, acrescentou a agência Prensa Latina.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.