Em meio à polêmica gerada pelo recente assassinato de uma jornalista de Veracruz, no México, e as críticas contra o governador do estado, o mandatário publicou em sua conta do Twitter posts que vinculam Josele Márquez, conhecido como 'El Chichi', ao homicídio e assegurando que o crime organizado é o verdadeiro inimigo da imprensa.
Márquez, apontado como chefe dos Los Zetas no estado, foi capturado no último dia 2 de fevereiro. A jornalista Anabel Flores Salazar foi sequestrada em sua casa em Veracruz por um grupo de homens armados na madrugada de 8 de fevereiro, e seu corpo foi encontrado no dia 9, no estado de Puebla.
No dia 13 de fevereiro, o governador de Veracruz, Javier Duarte, postou em sua conta no Twitter que Márquez foi enviado a uma prisão federal. Em outro tweet, Duarte vinculou Márquez a autoria intelectual do crime de Flores Salazar e a um ataque ao jornal El Buen Tono de Veracruz. No entanto, não ficou claro se Márquez foi acusado formalmente pela morte da jornalista ou se sua mudança de presidio está vinculada ao crime.
Duarte também publicou um tweet com uma imagem de reprodução de um post no Facebook, assegurando que teria sido escrito por Flores Salazar após a prisão de Márquez, sobre quem seria seu sucessor dentro da organização de Los Zetas. No entanto o perfil do Facebook, esta sob um nome diferente do jornalista. O governador disse que ela havia usado um pseudônimo.
A jornalista cobria assuntos de segurança para o jornal El Sol de Orizaba, de Veracruz, e colaborava com outros veículos. Ela tinha um filho de quatro anos e um bebê.
A promotoria de Veracruz publicou um comunicado poucas horas após saber do sequestro da jornalista, relacionando a repórter a um membro de uma organização criminosa, e assegurou que "esgotaram todas as linhas de investigação", incluindo essa relação.
O vínculo mencionado se refere à prisão de um homem que seria parte de uma organização criminosa em um restaurante onde estava a jornalista, em agosto de 2014. Segundo a organização Artigo 19, a mulher do homem preso declarou à polícia que a jornalista estava no local por casualidade e que até começou a registrar a prisão. Um policial retirou o celular da jornalista, segundo a Artigo 19.
O assassinato da jornalista repercutiu nacional e internacionalmente. Além do aumento da violência contra jornalistas, organizações rechaçaram a criminalização dos jornalistas. Organizações como a Unesco, a Relatoria Especial para Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), a União Europeia, a ONU Mulheres, a Artigo 19, entre outras, se pronunciaram sobre o caso.
Carlos Lauría, diretor e coordenador do programa das Américas da CPJ, disse que o governador de Veracruz deveria renunciar, segundo uma coluna publicada pelo portal Univisión.
Embora Lauría tenha dito que Duarte não poderia ser acusado como único responsável pela violência no estado, “pode ser considerado responsável pelo fracasso para realizar justiça em qualquer dos casos e pelo ambiente tão viciado para o exercício do jornalismo”, disse Lauría.
Segundo a CPJ, durante o governo de Duarte, que começou em 2010, ao menos 12 jornalistas foram assassinados por motivos que podem estar vinculados à profissão - e três estão desaparecidos.
Segundo os registros da Artigo 19, são 15 jornalistas mortos durante a administração Duarte.
Veracruz se tornou nos últimos anos um dos lugares mais perigosos do mundo para exercício do jornalismo. No passado, a CPJ assinalou que o governo de Duarte "tentou desvincular qualquer possível vínculo entre mortes de jornalistas e sua profissão".
Em muitas ocasiões, inclusive acusa os jornalistas de colaborar com grupos criminosos, "citando fundamentalmente evidências circunstanciais pouco comprováveis", disse Lauría. Duarte também tem sido acusado de casos de corrupção e de ter vínculos com grupos criminosos.
"Em um país com um sistema democrático estável e instituições de confiança, tais antecedentes seriam suficientes para pelo menos dar início a um processo de juízo político por não cumprimento dos deveres de um funcionário público", continua Lauría. "Com um pouco de bom senso e de dignidade, considerando que ele perdeu sua legitimidade como representante dos cidadãos de Veracruz, Duarte deveria demitir-se e assegurar uma saída ordenada do poder antes das eleições de junho próximo. Tal decisão abriria talvez a possibilidade de justiça para os jornalistas mortos em Veracruz."
Em outras ocasiões, Duarte negou essas acusações, e em uma série de tweets postados no final de semana não apenas rechaçou as críticas, mas disse que o crime organizado é a maior ameaça ao jornalismo.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.