A situação da segurança para a imprensa colombiana parece estar piorando em meio ao processo de negociação de paz entre o governo e grupos guerrilheiros do país.
Ao desaparecimento da jornalista colombo-espanhola Salud Hernández-Mora, divulgado em 23 de maio, se somou a denúncia da captura de ao menos cinco jornalistas que haviam chegado ao lugar para investigar a respeito de Hernández-Mora, segundo a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP).
Três jornalistas foram liberados, mas há suspeita de que outros dois repórteres tenham sido sequestrados pelo grupo guerrilheiro Exército de Liberação Nacional (ELN).
Foi o que informou a RCN Televisión, meio para o qual trabalham o jornalista Diego D’Pablos e o repórter cinematográfico Carlos Melo. Não há informações sobre ambos desde 23 de maio, tarde em que chegaram ao município de El Tarra, zona de Catatumbo, departamento Norte de Santander.
O jornalista Diego Veloza, correspondente da Caracol TV e um dos três jornalistas liberados, disse à emissora Blu Radio que ele, um repórter cinematográfico camarógrafo e uma jornalista local foram capturados por quatro homens que se identificaram como membros do ELN, informou a RCN.
De acordo com Veloza, apesar de não terem visto os outros jornalistas, quem os capturou disse que estava com a equipe da RCN, acrescentou a rede.
Para Catalina Botero, ex-relatora Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), a situação é muito grave, levando em conta o importante papel que cumprem os jornalistas nas zonas de conflito. Ela acrescentou que os ataques são uma violação do Direito Internacional Humanitário (DIH).
“A função dos jornalistas, principalmente em zonas de conflito, é fundamental. A imprensa, sem dúvida, ajuda a diminuir a crueldade e o sofrimento de populações afetadas pela violência ao denunciar e alertar sobre o que acontece”, disse Botero em entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. “Pela importância do trabalho que fazem, o direito internacional ordena proteger os jornalistas que cobrem estas zonas. São civis protegidos e qualquer crime contra eles é uma grave violação do DIH.
Botero acrescentou que neste momento é de vital importância não responsabilizar os jornalistas por cumprir um trabalho em zonas consideradas perigosas, mas sim responsabilizar os grupos que os capturaram, se for o caso.
“Não se pode nunca afirmar que um jornalista que tenta reportar dessas zonas e aproximar essas realidades do resto da sociedade está passando dos limites. Ao contrário, ele está cumprindo exatamente a função extraordinária que tem a imprensa. E qualquer ‘captura’ não é senão um sequestro que viola o DIH, os direitos do jornalista e o direito de toda sociedade de estar informada. É um crime castigado não só pelo direito interno, mas também pelo direito internacional”, acrescentou.
Nessa mesma linha, a FLIP exigiu a “liberdade imediata e retorno dos jornalistas ao exercício de seu ofício sem condições, zelando pela vida e integridade dos repórteres”, e fez um chamado para que se respeitem as normas do DIH.
O desaparecimento dos jornalistas ocorre em meio a um processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o maior grupo guerrilheiro do país, e do anúncio de um processo similar com o ELN, no qual uma das condições é de que o grupo coloque seus reféns em liberdade.
Frank Pearl, negociador do governo no processo com o ELN, pediu que o grupo libere os jornalistas que estão em seu poder.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.