As eleições presidenciais que vão ocorrer no Equador em fevereiro de 2017 representam, para o jornalista Iván Flores Poveda, “uma transição democrática”. Após 10 anos no poder, o presidente Rafael Correa decidiu não se candidatar à reeleição. No entanto, segundo Flores, o presidente se transformou em uma espécie de chefe de campanha da dupla Lenín Moreno e Jorge Glass, ex e atual vice-presidentes de Correa, respectivamente.
Mas a disputa do governismo não será fácil. A forte crise econômica, as altas taxas de desemprego e a “perda notável do seu capital político”, que gerou insatisfação na sociedade, segundo o jornalista, retirou força do partido.
Nesse contexto, Flores espera que o confronto, característico de eleições anteriores, se acentue durante esta campanha, aumentando o uso de informação pouco clara ou de mentiras. Por isso a importância e a necessidade de criar o Ecuador Chequea, o primeiro meio digital do país especializado na checagem do discurso eleitoral, que foi lançado em 26 de outubro.
“A tarefa que nos colocamos é complexa porque a cultura política no Equador está determinada pela emoção, pelo carisma e pela passionalidade. E muitas vezes esses elementos saturam os debates públicos e sociais; e isso faz com que se perca de vista o poder do dado”, explicou Flores, que lidera a equipe do Ecuador Chequea, ao Centro Knight. “Nesse sentido nós vemos que o desafio é muito importante, muito motivante e complexo, mas o objetivo é justamente reafirmar as ferramentas básicas desta profissão. […] Apontar para informações mais qualificadas para ter um contexto mais favorável para as escolhas em âmbito eleitoral”.
A equipe do Ecuador Chequea, formada por Flores e três outros jornalistas, se reuniu em agosto de 2016. Durante esse tempo puderam analisar quais aspectos das experiências regionais podiam ser usadas no contexto do Equador e, com a assessoria da equipe do Chequeado de Argentina, se capacitaram em questões de metodologia, procedimentos e ética da verificação de dados.
Para a sua apresentação nesta quarta-feira, publicaram as primeiras checagens dos sete pré-candidatos que já anunciaram a sua intenção de concorrer.
Segundo Flores, o seu processo de verificação passa por três etapas de reportagem. A primeira é a checagem das frases dos candidatos. A segunda é uma radiografia da vida pública (inclusive de patrimônios) e dos planos de governo. Finalmente, a terceira etapa consiste em mergulhar naquelas narrativas que permitam uma aproximação dos mais jovens (a maioria dos eleitores tem entre 18 e 29 anos) para que eles possam entender os temas “mais sérios” da campanha. Assim, o plano inclui memes, humor gráfico, infografias animadas, “sem diminuir o rigor e a solidez dos dados que processamos de maneira aberta, coletiva e colaborativa”.
Para Flores, o curso de ferramentas digitais para o jornalismo de dados do Centro Knight foi muito útil na hora de colocar em prática esse projeto. Também insiste que o seu trabalho não será baseado na pressa, mas sim na análise e na verificação precisa da informação passada pelos atores políticos.
“Não vamos trabalhar per sé com as pautas do dia, porque temos que reconhecer que, no caso da sociedade equatoriana, não há um interesse grande pelo número ou pelo dado. A sociedade equatoriana, infelizmente, não se caracteriza por documentar os momentos importantes da vida pública”, explica Flores. “Assim, nós insistimos que não trabalharemos com pressa ou com notícias quentes, porque uma fala de um político merecerá um tempo de análise”.
No entanto, reconhece que, para os debates dos candidatos, devem realizar checagens ao vivo. Para isso, vão contar com o apoio de estudantes universitários, assim como de acadêmicos e especialistas.
Ainda que Ecuador Chequea tenha surgido com o objetivo específico de verificar o discurso eleitoral da próxima campanha, Flores espera que o esforço jornalístico da equipe permita que o projeto tenha continuidade.
“Construir uma espécie de demanda social de espaços como esse, e que isso nos leve a ser muito criativos na hora de conseguir financiar iniciativas assim”, disse Flores, para quem o mais importante do projeto é conseguir que a ideia chegue a outras redações, em benefício dos leitores.
Ecuador Chequea conta com o apoio de mais de 13 universidades, organizações sociais e meios de comunicação do país. Além do site, publica também no Twitter, Facebook e YouTube. O lançamento oficial ocorreu em 26 de outubro, no Hotel Hilton Colón de Quito, em um evento público e gratuito.
No encontro, participaram, por meio de teleconferências, membros das equipes do Chequeado, da Argentina, do Detector de Mentiras da Univisión, do Politifact dos Estados Unidos e Colombiacheck.
“Mostramos o conteúdo do nosso portal, nossas metodologias, escalas de classificação e, no final, fizemos um debate com acadêmicos sobre uma premissa que pode ser meio óbvia, mas que, no contexto mencionado é importante: o papel do dado para tomar melhores decisões e para fortalecer o debate público”.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.