Por Maira Magro
Criado para facilitar a divulgação de documentos do regime militar, o projeto Memórias Reveladas virou esta semana o centro de uma crise entre pesquisadores e autoridades federais, devido à recusa em oferecer documentos da ditadura durante as eleições, como relata o jornalista Chico Otavio no jornal O Globo. Agora o protesto dos pesquisadores ganhou o apoio de jornalistas.
O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Fernando Rodrigues, e o diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, decidiram cancelar suas participações no seminário “Acesso à Informação e Direitos Humanos”, organizado pelo Arquivo Nacional (que abriga o Memórias Reveladas) de 23 a 26 de novembro, informou a Abraji. “A recusa do Arquivo Nacional em franquear acesso a documentos de domínio público, aliada aos argumentos alegados para tal recusa, mostram que a instituição tem agido de forma incompatível com a própria motivação do seminário em questão", disse Abramo em uma carta enviada ao diretor-geral do Arquivo Nacional, citada pelo site da Abraji. A Abraji também divulgou uma nota repudiando o que chamou de “censura" a documentos da ditadura militar.
Esta semana, dois historiadores pediram desligamento do Memórias Reveladas. Um deles afirmou, em sua carta de demissão, que o motivo alegado pelos gestores do projeto para negar o acesso a documentos sobre a ditadura foi que jornalistas estariam fazendo uso indevido dessas informações. O presidente do Arquivo Nacional e coordenador do Memórias Reveladas, Jaime Antunes da Silva, negou que o órgão tivesse proibido o acesso de pesquisadores ao acervo do regime militar.
Curiosamente, o Memórias Reveladas foi criado pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, em maio do ano passado, para facilitar o acesso aos documentos sobre a ditadura, e o passado de Dilma como guerrilheira despertou a curiosidade dos jornalistas durante sua campanha à Presidência.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.