Por Maira Magro
O governo argentino apresentará nesta terça-feira um relatório de 400 páginas mostrando supostas ligações entre os dois maiores jornais do país e a ditadura militar nos anos 70, relata a agência de notícias Telam. O documento trata da compra da Papel Prensa (maior produtora de papel-jornal da Argentina) em 1976 pelos diários Clarín e La Nación, que dividem com o Estado argentino a propriedade da empresa.
Segundo o governo, o controle acionário foi obtido através de uma operação de venda ilegal durante a ditadura, quando os antigos proprietários da Papel Prensa foram torturados, relata o Estado de S. Paulo. Os dois jornais negam irregularidades e dizem que a tortura ocorreu após a venda. De acordo com La Nación, o relatório denuncia os diretores dos jornais por supostas pressões ilegais, delitos de lesa-humanidade e coação para a compra da companhia. O relatório “Papel Prensa: a verdade” será apresentado em um ato na sede do Executivo, para o qual foram convidados políticos, embaixadores e empresários, afirma a EFE.
Em meio a uma conturbada relação com o governo argentino, o Clarín e La Nación vêm denunciando em suas páginas que estão sendo perseguidos, relata La Tercera. Em um editorial sobre a Papel Prensa, no domingo, o Clarín afirmou: “O governo pretende apoderar-se dos ativos e da empresa, dominar a produção de papel para jornais e assim controlar o jornalismo independente e levá-lo a uma convivência dócil com o poder.” A Sociedade Interamericana de Imprensa e a Associação Internacional de Radiodifusão também denunciaram uma “escalada contra os meios de comunicação independentes” na Argentina, afirmou o jornal.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.