A Procuradoria Especial para a Atenção aos Crimes Contra a Liberdade de Expressão (Feadle) do México, com o apoio da Polícia Federal, cumpriu em 6 de junho uma ordem de apreensão contra Juan Francisco “N”, conhecido como “Quillo”, “por sua provável participação no homicídio do jornalista Javier Valdez Cárdenas, ocorrido em 15 de maio de 2017”, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR).
A PGR informou por meio de comunicado que “Quillo” se encontra preso no Estado de Baja California e é acusado de delito agravado de posse de arma de uso exclusivo das forças armadas. Por isso, a PGR pediu ao juiz competente no Estado de Sinaloa, onde Valdez foi morto, que estabeleça a audiência inicial para que o órgão possa apresentar suas provas e a acusação contra “Quillo” pelo assassinato.
O semanário Ríodoce informou que “Quillo” foi detido por agentes da Polícia Federal e da Marinha em 24 de agosto de 2017, que encontraram em seu carro armas de fogo e munição de uso exclusivo das Forças Armadas mexicanas.
Segundo a PGR, a ordem de prisão contra “Quillo”, derivada de um trabalho conjunto de investigação entre o órgão, a Comissão Nacional de Segurança (CNS) e a Procuradoria Geral do Estado de Sinaloa, se soma à detenção de Heriberto “N”, realizada no fim de abril. Conhecido como “Koala”, ele está ligado a um grupo de traficantes de droga que atua em Baja California, informou Ríodoce na ocasião, e foi preso por envolvimento no assassinato de Valdez quase um ano após o crime.
Ríodoce, publicação co-fundada por Valdez, reportou em abril que a Feadle sustenta que os responsáveis materiais pela morte do jornalista são “Koala”, “Quillo” e Luis Idelfonso Sánchez Romero, conhecido como “Diablo”, assassinado em Sonora em setembro de 2017. Ríodoce reportou que a ordem para matar Valdez partiu do clã Dámaso. De acordo com uma nota publicada por El Universal em abril, os Dámaso lideram uma célula do cartel de Sinaloa.
De acordo com as investigações da Feadle reportadas por Ríodoce, Valdez foi assassinado por seu trabalho como jornalista, por publicações que desagradaram “o pessoal de Eldorado”, segundo uma testemunha no caso. Dámaso López Núñez, conhecido como “El Licenciado”, e seu filho Dámaso López Serrano, conhecido como “Mini Lic”, são da cidade de Eldorado, parte do município de Culiacán, onde Valdez foi morto. O Ríodoce fez uma compilação dos textos investigativos de Valdez que podem ter incomodado os Dámaso, com relatos sobre a atuação do grupo criminoso liderado por pai e filho.
Meses antes da morte de Valdez, uma onda de violência varreu Sinaloa devido a facções do Cartel de Sinaloa que estavam lutando pelo poder. Os filhos de Joaquín Guzmán Loera, conhecido como "El Chapo", chefe do referido cartel que foi recapturado em janeiro de 2016, e os filhos de Dámaso López Núñez estavam em guerra, segundo Ríodoce.
Nesse contexto, lembrou Ríodoce, Valdez entrevistou Dámaso López Nuñez via mensagens telefônicas sobre a situação e publicou a entrevista na revista em fevereiro de 2017. Os filhos de Chapo pressionaram sem sucesso Valdez a não publicar a entrevista, segundo Ríodoce.
Em 15 de maio de 2017, às 12h, Valdez foi morto perto de seu escritório por um grupo de indivíduos encapuzados que o tiraram do carro e atiraram nele 12 vezes à queima-roupa em Culiacán, Sinaloa.
O jornalista era internacionalmente reconhecido e premiado por seu trabalho. Ele era repórter e colunista no Ríodoce, jornal semanal reconhecido pela destacada e corajosa cobertura do tráfico de drogas em Sinaloa. O Estado é famoso por abrigar um dos maiores e mais violentos cartéis de drogas do México.
O país é um dos mais perigosos do Hemisfério Ocidental para se praticar jornalismo, de acordo com o Índice Global de Impunidade do CPJ, no qual o México ocupa o sexto lugar.