O 10º Fórum de Austin para o Jornalismo nas Américas começou no domingo, 20 de maio, com uma análise dos maiores problemas de segurança que os jornalistas no continente americano enfrentam. Durante a sessão de abertura do Fórum, Frank La Rue, relator especial para a liberdade de expressão das Nações Unidas, e editores de jornais do México e da Guatemala, ressaltaram os riscos de fazer jornalismo independente em uma região cada vez mais atormentada pela violência, corrupção e impunidade desenfreadas.
A edição de 2012, sobre "Segurança e proteção para jornalistas, blogueiros e jornalistas cidadãos", é organizada pelo Centro Knight e pelos programas para a América Latina e de mídias das Fundações Open Society.
Todo mundo sabe que jornalistas estão enfrentando problemas de liberdade de imprensa e segurança diariamente, disse Rosental Calmon Alves, fundador e diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e catedrático Knight de Jornalismo e UNESCO de Comunicação na Universidade do Texas em Austin. Portanto, a idéia por trás do Fórum é "articular o que fazer sobre isso. Como podemos tirar vantagem da rede de organizações presentes aqui, dos fundadores presentes aqui e dos jornalistas que estão engajados nessa preocupação global sobre problemas de segurança", disse Alves.
José Rubén Zamora, editor e diretor geral do jornal elPeriódico na Guatemala, observou que o jornalismo independente e investigativo -- apesar de gerar uma repercussão em nível nacional positiva e resultar na prisão de oficiais corruptos e criminosos -- infelizmente, também resulta em reação contra o jornal. Por exemplo, o jornal perdeu publicidade e jornalistas vêm sendo alvo de campanhas para desacreditá-los. Zamora discutiu também sobre o trauma que ele e sua família sofreram por causa de seu seqüestro e sobre a decisão de se exilarem depois que sua casa foi invadida e armas foram apontadas para suas cabeças.
Heriberto Cantú, editor do jornal El Manana em Nuevo Laredo, no México, também discutiu a violência que seu jornal e seus jornalistas têm enfrentado, como o ataque a tiros ao escritório do jornal no começo de maio. "Eu tenho muito orgulho, porque ainda assim nós conseguimos fazer uma boa edição no dia seguinte", ele disse. Cantú defendeu uma maior transparência por parte do governo e consciência dos cidadãos como meios de combater a violência -- o México é o país da região mais perigoso para jornalistas -- e acabar com a impunidade. "Ataques contra a imprensa são ataques contra a liberdade e a democracia", disse ele.
La Rue destacou vários fenômenos por trás da crescente violência contra a imprensa, o crime organizado, governos repressivos ou governos fracos comprados pelo crime organizado. A verdadeira raiz do problema, no entanto, segundo ele, é a impunidade, já que os governos não estão investigando crimes contra jornalistas e punindo aqueles que são responsáveis.
"Um caso de impunidade gera muitos outros atos de violência, porque a mensagem é que eles podem continuar com a violência" e por isso "temos de insistir na responsabilidade do estado", disse La Rue. "Estados devem ter a obrigação de proteger os setores mais vulneráveis, a obrigação de proteger jornalistas e defensores dos direitos humanos".
Por exemplo, Cantú observou que no México somente um ou dois de cada 100 crimes é resolvido ou punido.
Além de violência e impunidade, La Rue disse que a região também sofre de uma tendência a criminalizar a liberdade de expressão, estando os blogueiros e jornalistas cidadãos especialmente vulneráveis. La Rue defendeu que uma democracia saudável requer uma imprensa crítica, e que leis de difamação trabalham contra isso, lembrando do processo de 40 milhões de dólares do presidente equatoriano Rafael Correa contra o jornal El Universo, considerado pelo relator "trágico" e "absurdo".
Alves afirmou que o objetivo do Fórum deste ano não é somente discutir os problemas de violência e de segurança de jornalistas, mas também achar medidas práticas para protegê-los. O Fórum continua nesta segunda-feira, 21 de maio, com uma apresentação de abertura de Catalina Botero, relatora especial para a liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que vai falar de estratégias para melhorar a segurança e medidas de proteção para lutar contra a impunidade.
Mais do que uma conferência anual, o Fórum de Austin é uma rede de organizações voltada para o desenvolvimento da mídia na América Latina e no Caribe. Na edições anteriores do evento, foram abordados temas como a cobertura da migração nas Américas e a cobertura do tráfico de drogas e do crime organizado na América Latina e no Caribe.