O 15º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que estava previsto para acontecer em junho e precisou ser adiado por causa da pandemia de coronavírus, foi realizado pela primeira vez de forma totalmente virtual em 11 e 12 setembro.
Esta edição, que foi gratuita, bateu recorde de participação: foram mais de 10 mil inscritos no congresso, além de 2,4 mil no 2º Domingo de Dados e 1,4 mil no VII Seminário de Pesquisa. No ano passado, a edição presencial teve 1.200 participantes.
O sucesso foi tanto que os organizadores consideram mudar o formato do congresso nos próximos anos. "O resultado foi tão positivo que a avaliação da diretoria e do conselho é de que o online veio para ficar. [...] Vamos estudar formas de fazer um Congresso ainda melhor em 2021, e, se a pandemia permitir, de forma híbrida, com uma parte presencial e uma virtual", disse a jornalista e secretária-executiva da Abraji, Cristina Zahar, à LatAm Journalism Review.
Antes desta edição, o recorde de participantes tinha sido de 1,3 mil pessoas em 2013, quando o congresso foi realizado no Rio de Janeiro, em combinação com o congresso mundial da Global Investigative Journalism Network . Além de ter um alcance maior, o modelo online permitiu que o público fosse mais diverso, com estudantes, jornalistas e professores de várias regiões do país, afirmou Zahar, incluindo pessoas que talvez não tivessem recursos para viajar até São Paulo.
"Também contribuiu para esse público recorde a decisão de fazer o congresso gratuito pela primeira vez, já que a crise econômica provocada pela pandemia impactou as redações. Muitos jornalistas foram demitidos ou tiveram salários reduzidos", disse ela.
Como não havia ingresso, a Abraji pediu que, quem pudesse, contribuísse com um valor para a associação. Zahar afirma que as doações atingiram 10% do valor da bilheteria de 2019, o que ela considera muito positivo.
Há vantagens e desvantagens do modelo virtual, segundo Zahar. A logística foi mais simples, porque não incluiu passagens aéreas, reservas de hotéis, restaurantes, montagem de estandes, credenciais ou kits para os participantes. Por outro lado, ela conta que fazer o congresso online foi como "trocar o pneu com o carro andando". "A verdade é que os eventos passaram a ser online de uma hora para outra, e ninguém sabia direito como fazer".
Outra vantagem, afirma Zahar, foi que grandes nomes do jornalismo, nacionais e internacionais, que talvez não tivessem disponibilidade em tempos normais, puderam participar.
Um ponto negativo do congresso virtual é que as oportunidades para trocas profissionais são muito reduzidas, em comparação com o evento presencial. Nesta edição, os organizadores optaram por gravar parte das palestras, cursos e oficinas, para evitar problemas de instabilidade na internet, e manter algumas atividades ao vivo, para tentar estimular a interação.
"A vida é feita de escolhas, não se pode ter tudo, não é mesmo? Ao ter sessões 50%-50% (metade gravadas e metade ao vivo) e algumas masterclasses 100% live compensamos um pouco essa perda de interação. No entanto, temos plena consciência de que o networking é uma característica forte do presencial que dificilmente o virtual conseguirá compensar", avalia Zahar.
As atividades foram sobre temas variados, que abordaram desde os impactos da pandemia na economia e nas redações, bem como na saúde física e mental de jornalistas. Outra mesa que teve bastante repercussão foi focada no racismo dentro e fora das redações. Os palestrantes falaram ainda sobre desinformação, polarização e os ataques online contra jornalistas. Neste link é possível ver um balanço do congresso.
Uma particularidade desta edição é que todas as atividades vão ficar disponíveis por 30 dias, até 12 de outubro, por meio da plataforma do congresso. Então ainda é possível se inscrever. Quem assistir a 50% dos eventos pode gerar um certificado de participação. Zahar disse que os organizadores estão estudando colocar o conteúdo no YouTube após esse período.
Além do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, que é apoiador institucional do congresso, o evento contou com o patrocínio de Facebook Journalism Project, Google News Initiative, Grupo Globo e Luminate, além de Estadão, Folha de S. Paulo, Itaú, JSK, Poder360, Trust Project, Twitter e UOL, e apoio de mídia de CBN, Correio e Grupo RBS.