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Ataques contra jornalistas durante protestos antimineração põem à mostra crescente hostilidade à imprensa no Panamá

Em seus 12 anos como cinegrafista jornalístico, Victor Rivas nunca antes havia se sentido ameaçado ao fazer o seu trabalho. A primeira vez ocorreu em 23 de outubro de 2023, enquanto ele fazia uma cobertura para o veículo de mídia panamenho Telemetro Reporta, ele contou à LatAm Journalism Review (LJR).

"Naquele dia, fui cobrir um dos protestos... Quando os policiais de choque chegaram e se preparavam para reprimir, os manifestantes começaram a atirar pedras. Primeiro em nossa direção e depois na direção dos policiais. Uma dessas pedras quicou no chão e acertou minha perna", disse Rivas.

Por mais de um mês, o Panamá se viu envolvido em protestos que deixaram pelo menos quatro mortos. Eles começaram em 19 de outubro e tiveram como motivação um contrato de mineração entre o Estado panamenho e a Minera Panamá, uma subsidiária da canadense First Quantum Minerals, para o desenvolvimento da maior mina de cobre a céu aberto da América Central, com duração de 40 anos.

Especialistas apontam o descontentamento de ambos os grupos em relação à forma como a mídia cobria as manifestações e às tentativas decorrentes de controlá-las.

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O cinegrafista Victor Rivas ficou ferido enquanto cobria manifestações (Foto: Screenshot publicado por @AlvaroAlvaradoC)

No caso de Rivas, o ferimento não foi grave, e ele continuou a cobrir os protestos, tomando maiores precauções de segurança.

Ataques à Imprensa

Os sindicatos de jornalistas fizeram vários apelos públicos para garantir "a segurança física e material dos jornalistas que desempenham o dever de informar".

O Sindicato de Jornalistas do Panamá alertou que o jornalismo não é um crime e pediu às partes em conflito que não promovessem um discurso de ódio.

Até mesmo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu ao governo panamenho que garantisse que os jornalistas pudessem cobrir os protestos sem serem agredidos. Em sua declaração, na qual instava o Estado a proteger o direito ao protesto pacífico, a CIDH também citava denúncias de uso excessivo da força por parte de agentes da unidade policial antidistúrbios.

Em 19 de outubro, enquanto os manifestantes se mobilizavam contra o contrato, o fotógrafo freelancer e ambientalista Aubrey Baxter estava documentando os acontecimentos em frente à Assembleia Nacional do Panamá.

Ele contou à LJR que, de repente, foi atingido por vários tiros de balas de pimenta, um dos quais acertou diretamente abaixo de seu olho direito.

O fotógrafo disse que não recebeu ajuda da polícia. Ele perdeu a visão daquele olho.

A polícia nacional negou ser responsável, e o Ministério Público abriu uma investigação sobre o caso.

No mesmo dia do ataque à equipe do Telemetro Reporta, a unidade móvel da TVN Noticias foi vandalizada durante a cobertura dos protestos, nos arredores da Praça 5 de Maio, um dos espaços públicos mais importantes da cidade do Panamá.

Também foram denunciados outros casos de empurrões, danos a equipamentos e insultos a jornalistas que cobriam as manifestações. No entanto, não há um registro preciso do número de agressões em todo o país.

Pesquisadora do Centro Internacional de Estudos Políticos e Sociais do Panamá (CIEPS), Raisa Urribarri disse à LJR que os ataques a jornalistas não ocorreram apenas na Cidade do Panamá, mas também em regiões fronteiriças com a Costa Rica a oeste e a Colômbia a leste, ou seja, ao longo de toda a Rodovia Interamericana.

"Naquela região, também ocorreram agressões contra jornalistas no exercício de seu trabalho, mas não foram tão bem documentadas, e não temos um registro preciso de todas elas. Apenas sabemos por meio de notas de imprensa, pelas denúncias dos próprios colegas jornalistas que se encarregaram de fazê-las", disse Urribarri.

Raúl López, diretor do Colégio Nacional de Jornalistas do Panamá, disse à LJR que eles não têm um registro exato dos ataques, mas receberam denúncias de agressões a jornalistas em províncias como Chiriquí, Veraguas e Colón.

"Os jornalistas em nível nacional conseguiram cobrir e fornecer informações à população de forma oportuna, apesar das dificuldades. Além dos ataques, os jornalistas em províncias como Chiriquí tiveram seu trabalho prejudicado pela falta de combustível. Isso os impedia de se deslocar para todos os pontos e na hora necessária", disse López.

A desmobilização dos protestos só ocorreu em 2 de dezembro, quando foi publicada no Diário Oficial a decisão da Suprema Corte do Panamá de declarar inconstitucional o contrato de mineração com a canadense First Quantum Minerals.

Padrões de Hostilidade

Urribarri identifica dois padrões diferentes de hostilidade em relação à imprensa no recente ciclo de protestos no Panamá. Em primeiro lugar, as agressões por parte da polícia. Em segundo lugar, as provenientes dos manifestantes.

Protests in Panama

"É o que poderíamos chamar de insatisfação do manifestante em relação à cobertura de alguns meios de comunicação. Ou seja, ocorreram situações de assédio. Tem sido bastante consistente a crítica à forma como os meios de comunicação em geral cobriram os protestos", disse Urribarri.

Esse padrão é confirmado por Rivas, que, além de ter sido ferido, em outras ocasiões durante os protestos, ele e sua equipe receberam ameaças e gritos com a frase “A Telemetro está vendida” por parte dos manifestantes.

O professor de jornalismo René Hernández González afirma que o problema é que diversos setores esperam que a imprensa cubra os eventos conforme sua própria visão.

"Se o governo sentir que não está recebendo a cobertura que espera, se sente ofendido e pode recorrer a pressões por meio dos mecanismos disponíveis para o governo. Por outro lado, há os manifestantes, que também exigem uma ampla cobertura de suas ações. Isso faz com que, quando um jornalista está na rua, ambos os setores sintam que têm o direito de criticar e apontar o dedo para o jornalista", disse à LJR.

Os sindicatos de jornalistas enfatizaram a importância de um jornalismo livre, equilibrado e comprometido para a sustentação da democracia no país.

"O que realmente me preocupa, como pesquisadora da comunicação latino-americana, é que, quando se ataca os meios de comunicação e o jornalismo, a democracia também é atacada", disse Urribarri.

Traduzido por André Duchiade
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