Por Jonathon David Orta
O ativista mexicano Atilano Román Tirado foi morto no dia 13 de outubro enquanto participava de um programa de rádio ao vivo em Mazatlan, no estado de Sinaloa. Ouvintes do programa de rádio de Román Tirado disseram ter ouvido tiros depois que desconhecidos invadiram o estúdio da emissora de rádio onde o líder comunitário estava.
Segudo relatórios iniciais, o ataque ocorreu às 10h40 de segunda-feira (13/10), quando dois homens armados chegaram à rádio e pediram informação sobre o convidado à recepcionista. Um dos homens teria ficado esperando do lado de fora enquanto o outro entrou na estação e na sala onde Román Tirado estava trabalhando. Ele disparou contra o ativista, que ficou gravemente ferido e morreu antes de chegar ao hospital.
“Na transmissão deu para ouvir quando o tiro foi disparado, e então um dos meus colegas de trabalho diz 'ah não, mataram ele, mataram ele'", contou o diretor da rádio Sergio Ontiveros ao The Independent. “E então a transmissão foi cortada... o operador da rádio se atirou no chão e chutou o cabo mestre".
Román Tirado era um dos líderes do Comuneros de la Presa Picachos, um grupo de 800 membros de moradores de uma área que foi inundada após a construção da Barragem Picachos (Presa Picachos), que deu nome ao grupo.
Após a construção da barragem começar em 2006, inundações deslocaram centenas de famílias, que foram transferidas para habitações do governo. Os membros da comunidade liderada por Román Tirado começaram a organizar protestos para chamar a atenção para os efeitos negativos da construção da barragem.
Ontiveros disse à Associated Press que “[Román Tirado] foi militante em seus comentários, ele foi crítico, muito crítico. Sua situação exigia isso dele”.
Nos últimos meses, o líder comunitário tinha aumentado os esforços de organização, chamando protestos para exigir que pescadores na represa Picachos tivessem licenças de pesca. De acordo com o Latino Post, essas mobilizações elevaram as tensões entre grupos comunitários.
O governador de Sinaloa Mario López Valdez, em uma matéria da Voxxi, prometeu que o assassinato não ficaria impune.
Mas a morte de Román Tirado ocorre em meio a uma recente onda de violência contra jornalistas no estado de Sinaloa e por todo o México. De acordo com a PanAm Post, o crime aconteceu um dia depois do desaparecimento do jornalista mexicano Jesús Antonio Gamboa Urías, diretor da revista sobre política Nueva Prensa, também em Sinaloa. O estado nortenho continua a ser um reduto do cartel de Sinaloa e, desde a prisão de seu líder Joaquin “El Chapo” Guzman em fevereiro de 2014, o estado tem observado um aumento da violência.
Na quarta-feira, a jornalista cidadã Maria Del Rosario foi sequestrada, torturada e morta por seu trabalho expondo a atividade do cartel no estado de Tamaulipas, levantando ainda mais preocupações sobre a segurança dos jornalistas que trabalham no México.
De acordo com o Comitê de Proteção aos Jornalistas, 30 jornalistas foram mortos no México desde 1992. O país ocupa o 152º lugar entre 180 países no índice de liberdade de imprensa de 2014 da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Em resposta à morte de Román Tirado, Repórteres Sem Fronteiras divulgou um comunicado no qual o vice-diretor do programa, Virginie Dangles, afirma: "Instamos as autoridades a realizar uma investigação completa sobre o assassinato chocante de Atilano Román e levar os responsáveis à justiça ... O assassinato de um apresentador de rádio em estúdio, enquanto ele está no ar , mostra que a violência contra jornalistas não conhece limites no México".
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.