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Brasil teve mais jornalistas assassinados que o México em 2013, destaca relatório anual da RSF

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  • 14 fevereiro, 2014

Por Samantha Badgen

Após mais de vinte anos da queda das ditaduras militares e guerras civis que dominaram a América Latina, a região continua sendo marcada por uma forte retaliação à imprensa, segundo o mais recente índice anual do estado da liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, divulgado nesta quarta-feira, 12 de fevereiro.

O índice é um relatório anual que RSF publica desde 2002 e reflete o grau de liberdade que os jornalistas e organizações de notícias têm em cada país, e o que as autoridades fazem para garantir o respeito a essa liberdade.

Vários jornalistas e defensores de direitos humanos enfrentam uma situação de violência por parte do crime organizado, paramilitares e inclusive de seu próprio governo, diz o documento.

Um dos casos mais alarmantes é o do Brasil, que ultrapassou o México no posto de país com mais mortes de jornalistas, com cinco assassinados em 2013. Ademais, o “coronelismo brasileiro” torna o jornalismo uma arma dos barões locais, à mercê dos ajustes de contas políticos.

Em Honduras, número 129 na lista, foram registrados 30 assassinatos de jornalistas na última década; 27 vítimas durante o golpe de Estado de 28 de junho de 2009, que derrubou o presidente eleito Manuel Zelaya. Foi comprovado em nove dos casos que a morte dos jornalistas esteve relacionada com sua profissão.

“Neste Estado falido, a impunidade quase absoluta constitui a regra. Os atentados, as ameaças, as agressões e até as “canonizaçõs” de certos meios de comunicação, são obra tanto das milícias privadas contratadas pelos proprietários de terras, do exército e da polícia (de status militar), como de cartéis, muito presentes na região ", diz o relatório da RSF.

O mesmo ocorre no Peru e na Colômbia, onde cobrir o narcotráfico, corrupção, conflitos territoriais ou mineiros aumenta o risco a jornalistas. Por mais que o governo de Bogotá e as FARC cheguem a um acordo, não se apagarão as organizações “narco-paramilitares”, herdadas de anos de guerra, que colocam um risco maior para os jornalistas da área.

Uma situação similar à do México, onde cartéis como os Zetas, e outras organizações criminosas atuam com a cumplicidade de autoridades locais -- e às vezes federais -- corruptas. Com 88 jornalistas assassinados e 18 desaparecidos nos últimos 13 anos, a “ofensiva federal contra o narcotráfico” empreendida pela ex-presidente Felipe Calderón agravou a situação, além de deixar mais de 60 mil mortos.

Ao mesmo tempo, o jornalismo se torna uma arma política em países onde há um forte enfrentamento entre o setor privado e o público (o Estado). VenezuelaEquadorBolívia e, até certo ponto, Argentina ilustram isso com distintas formas de leis de comunicação.

“Por azar, o fim da censura sistemática não acabou com a excessiva concentração dos meios, que ainda obstaculiza um verdadeiro pluralismo… Mais grave ainda, as relações incestuosas entre os meios de comunicação dominantes e os centros de poder ainda ditam a agenda política em alguns países. Estes mesmos meios de comunicação dominantes tiveram um papel chave no golpe de Estado de Honduras, em 2009, e no golpe parlamentar do Paraguai, em 2012”, disse RSF, acrescentando que não está claro se se trata de regular o espaço de difusão da mídia ou de simplesmente regulá-la.

O relatório ainda expõe que as duas potências americanas, Brasil e Estados Unidos, “deveriam colocar no topo a liberdade de informação… infelizmente a realidade está muito longe de ser assim”, marcando o caso do WikiLeaks, e seu fundador Julian Assange, e Edward Snowden, que divulgou os massivos programas de vigilância desenvolvidos pela Agência Nacional de Segurança (NSA).

Nenhum país latino-americano figura entre os primeiros 20 lugares da lista, apesar de Costa Rica e Uruguai aparecerem em 21 e 26, respectivamente.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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