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Colaboração entre meios e participação cidadã impulsionaram fact-checking de Verificado 2018 durante eleição no México

Verificado 2018, um projeto de jornalismo colaborativo do site de notícias Animal Político e AJ + Español que tem dezenas de organizações da mídia e da sociedade civil como aliados, serviu como um catalisador para informações verídicas durante a campanha política e no dia da eleição no México.

Verificado2018

Redação do Verificado2018 (Divulgação)

A editora-chefe de Animal Político e diretora do Verificado 2018, Tania Montalvo, disse ao Centro Knightque durante as campanhas eleitorais, as notícias fraudulentas se concentravam em torno dos candidatos que lideravam as pesquisas de intenção de voto. No entanto, ela ressaltou que, nos dias que antecederam o dia das eleições, as informações sobre o processo em si aumentaram, assim como o que os cidadãos precisavam saber para exercer seu direito ao voto.

"Durante o processo eleitoral, Andrés Manuel [López Obrador] sempre esteve como líder nas pesquisas, então vimos como ele sempre liderou [como assunto de] notícias fraudulentas", disse Montalvo. "Muitas notícias fraudulentas foram geradas sobre ele e isso estava mudando de acordo com como o estado de espírito da opinião pública estava mudando".

Durante a campanha eleitoral, Verificado 2018 tinha três eixos de trabalho: impedir a viralização de notícias fraudulentas, refutar a desinformação por meio da verificação do discurso dos candidatos e produzir "explicadores" a respeito de informações sobre as quais as pessoas haviam expressado dúvidas, disse Montalvo.

"Nós checamos os três debates com todos os candidatos à Presidência em tempo real, e conseguimos categorizar [como falsas] 75 frases que os candidatos disseram, com as quais comprovamos que os candidatos nem sempre debatem com a verdade", destacou ela.

Fluxo de trabalho

A equipe do Verificado 2018 foi organizada em mesas de trabalho separadas durante a temporada eleitoral: uma mesa de verificação de 12 pessoas da redação do Animal Político e uma mesa visual e multimídia liderada por cinco pessoas da AJ + Español.

Conforme explicado em seu site, a metodologia de trabalho utilizada foi analisar informações que se tornaram virais na mídia e nas redes sociais e que tiveram mais de 1.000 interações no Twitter, Facebook e outras redes ou que se tornaram notícia que influenciaram a opinião pública.

Então, na mesa de tarefas ou filtros, Montalvo explicou, eles viram o que era conteúdo "quente" e como eles iriam verificá-lo.

"Talvez fazendo um vídeo, uma reportagem ou com a ajuda de um repórter de campo do Animal Político", disse ela. Em seguida, as informações iam para a mesa de produção, onde a equipe da AJ+ Español, com seus videomakers e designers, trabalhava nelas. Os checadores de fatos e os jornalistas de dados do Animal Político analisaram as informações e as reportagens, e então esse conteúdo ia para a mesa de edição para depois ser publicado nas redes sociais e nos sites de mídia aliados.

Dia de eleição

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Equipe do Animal Político no Verificado2018 (Divulgação)

No dia da eleição, disse Montalvo, o trabalho de Verificado 2018 foi mais um serviço utilitário para os eleitores. "Nós nos concentramos no que as pessoas estavam nos perguntando. Sempre houve contato e diálogo com o cidadão, que nos enviou informações com a hashtag #quieroqueloverifiquen [quero que verifiquem], por email, Whatsapp, Facebook. Eles nos enviaram suas dúvidas ou o que queriam que verificássemos, e demos prioridade a essa informação, privilegiando também o interesse público", explicou.

No decorrer de 1º de julho, as necessidades dos eleitores foram mudando e após o meio-dia as notícias enviadas pelos usuários para o Verificado não estavam mais relacionadas com informações sobre como e onde votar, mas a reportagens sobre roubo de urnas e atos de violência em alguns estados, como Puebla.

"Estávamos preparados para desmentir esses supostos surtos de violência que tinham o propósito de desencorajar as pessoas que estavam indo votar. Mas aconteceu o contrário, os surtos de violência que as pessoas começaram a relatar para verificação de fato ocorreram", disse Montalvo. "Sim, houve roubo de urnas em diferentes Estados, e tiroteios também ocorreram em diferentes locais de votação em Puebla, e nos concentramos em verificar isso".

No fim do dia da eleição, Verificado notou um "silêncio" de notícias fraudulentas. Quando a vantagem do candidato presidencial Manuel Andrés López Obrador prevaleceu sobre os outros dois candidatos que o seguiam nas urnas, as pessoas começaram a compartilhar principalmente as notícias de sua vitória.

"Não estamos vendo nenhum surto de notícias fraudulentas, não nas redes, que nós mesmos monitoramos, nem no que as pessoas estão nos enviando. Até notamos que havia algumas contas no Twitter que estavam focadas em atacar o trabalho de Verificado o tempo todo e agora eles simplesmente pararam de tuitar", disse Montalvo.

Para a diretora do Verificado 2018, ficou claro que a verificação, a checagem de fatos, não é um modismo, mas um passo indispensável no jornalismo e em qualquer publicação jornalística.

"Estou convencida de que a verificação da informação é jornalismo, isto é, simplesmente deve fazer parte do nosso trabalho diário", disse Montalvo. Segundo sua diretora, Verificado 2018 salientou a importância de sempre verificar fatos e tudo que é relatado.

“Enquanto a imprensa repetia discursos triunfalistas de qualquer um dos candidatos, Verificado 2018 sempre dava um passo adiante dizendo: 'Não é verdade; os dados são enganosos; isso não aconteceu no período em que o candidato cita”, disse Montalvo. Um dos objetivos alcançados pelo trabalho da equipe, explicou sua diretora, é conseguir fazer com que leitores e cidadãos começassem a duvidar das informações que liam e ouviam dos próprios candidatos e das notícias que eles e seus seguidores espalhavam.