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Crise por falta de insumos de imprensa na Venezuela piora e faz com que o jornal mais antigo do país interrompa edição impressa

Atualização  (11 de jan.): O jornal El Impulso recebeu nesta quarta-feira, 11 de janeiro, o tão esperado carregamento de papel para imprensa (cerca de 30 bobinas) da entidade estatal Complexo Editorial Alfredo Maneiro (Ceam), informou o veículo.

O decano da imprensa venezuelana poderá circular a sua versão impressa por aproximadamente ​três semanas, a partir desta quinta-feira, 12 de janeiro. No entanto, para os donos do jornal e seus mais de 180 trabalhadores continua a incerteza se o Ceam vai autorizar o El Impulso a comprar outro novo lote de papel de imprensa que os permita seguir produzindo e publicando a edição impressa, sem interrupções.

Original (6 de jan.): Devido à falta de papel-jornal e de outros insumos de imprensa, 22 mídias impressas venezuelanas tiveram que diminuir sua paginação e suspender encartes e edições especiais durante o último semestre de 2016, segundo reportou o Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela (IPYS Venezuela) em seu relatório de fim de ano.

Pelas mesmas razões, o jornal mais antigo da Venezuela, El Impulso, não pôde celebrar seu 113º aniversário no dia 1 de janeiro em sua edição impressa. O dia 31 de dezembro de 2016 marcou a última vez que a gráfica imprimiu o jornal, devido à falta de papel.

Recentemente, a entidade governamental encarregada de importar e distribuir papel-jornal ao meios de comunicação impressos informou que a última encomenda de insumos do El Impulso será atendida, com a qual o jornal pode ser impresso por mais três semanas. No entanto, ainda não há data de entrega definida.

De acordo com o IPYS Venezuela, o El Impulso, da cidade de Barquisimeto, no estado de Lara, imprimiu as edições dos últimos dias de novembro de 2016 com papel emprestado. Apenas recentemente, no dia 1º de dezembro, a mídia recebeu um documento solicitado no dia 18 de novembro do Complejo Editorial Alfredo Maneiro (CEAM).

Desde que o CEAM foi criado pelo governo, em maio de 2013, como a única empresa por meio da qual a mídia pode importar material de imprensa, o IPYS Venezuela registrou inúmeras queixas de executivos e profissionais de mídia impressa contra a entidade por sua má gestão e atrasos de entrega.

Nesse sentido, a obtenção de materiais de imprensa que não são produzidos na Venezuela, como papel-jornal, placas fotográficas e tinta, está se tornando cada vez mais difícil para os quase 90 meios de comunicação impressos que circulam no país. Especialmente depois que, em 2012, o Ministério do Planejamento e Finanças excluiu esses insumos da lista de bens de importação prioritários.

Carlos Eduardo Carmona, presidente do El Impulso, disse no site do jornal que continua surpreso que, embora os meios de comunicação oficiais nunca tenham enfrentado problemas com o fornecimento de papel, os jornais independentes que circulam pelo país precisem passar por tortura para obter matéria-prima.

"Quem faz parte da família El Impulso fez os maiores esforços para continuar informando o povo de Lara e de todo o país, de forma verdadeira, objetiva e oportuna. Nunca mudamos nossa linha editorial definida por nossos antepassados, respeitosa, porém firme e sem adulações, que é o que nos permitiu obter o respeito e o apoio de todos. Estamos confiantes de que em breve estaremos de volta às ruas", declarou Carmona.

O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) também comentou sobre o agravamento da crise que afeta a produção de mídia impressa.
Mario Ruiz, secretário nacional do SNTP, disse ao Tal Cual que vai apresentar uma queixa à Organização Internacional do Trabalho (OIT) para restabelecer os direitos dos trabalhadores da imprensa, que estão sendo violados "por capricho de funcionários do governo."

Sobre o simbólico caso do El Impulso, Ruiz também disse que vai entrar em contato com o CEAM, a Procuradoria Geral da República e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, para que as autoridades respondam por que a publicação não recebe papel-jornal.

O El Impulso expressou gratidão em seu site por todas as demonstrações de solidariedade demonstrados pela situação em que o jornal se encontra. No entanto, apesar da resposta do CEAM, a incerteza continua sobre a próxima edição impressa será lançada.

Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) lamentou que, na Venezuela, 2016 se encerre com a censura e "a mais dura" restrição à imprensa do país, referindo-se principalmente à suspensão da edição impressa do El Impulso.

Roberto Rock, presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, condenou "a insolência com a qual o governo venezuelano aplica a censura, de forma tão sutil quanto grosseira", de acordo com um comunicado de imprensa da organização.

No dia 4 de janeiro, representantes de diferentes partidos políticos e da sociedade civil que compõem a Mesa da Unidade Democrática (MUD) convocaram uma entrevista coletiva para discutir a suspensão do impresso do El Impulso e a crise dos jornais em geral.

Eles pediram publicamente que os representantes do Poder Executivo, o presidente Nicolás Maduro, o Procurador dos Direitos do Cidadão Tarek William Saab e o CEAM reestabelecessem o fornecimento de materiais de imprensa ao El Impulso e a todos os jornais da Venezuela que sofram as mesmas restrições que violam o livre exercício do jornalismo, o direito à liberdade de expressão e de informação.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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