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Dia Mundial da Liberdade de Imprensa joga luz sobre segurança de jornalistas ambientais: mais de 70% dos entrevistados foram atacados

Uma grande maioria – mais de 70% – dos jornalistas ao redor do mundo que cobrem temas ambientais relatou ter sido alvo de ataques, ameaças ou pressões ao exercerem o ofício. Entre essas pessoas, 41% foram vítimas de ataques físicos.

Estes são os resultados de uma pesquisa realizada pela Unesco e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIP), cujos resultados foram publicados neste dia 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

"Uma imprensa para o planeta: O jornalismo diante da crise ambiental" é o tema escolhido para a conferência principal que marca a data e que ocorreu em Santiago do Chile. Esta conferência vai se concentrar, entre outros temas, em analisar a segurança dos jornalistas ambientais e como enfrentar a negação e a desinformação sobre as mudanças climáticas.

"Nesta 31ª edição do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a Unesco destaca o duplo desafio que enfrentamos como humanidade neste momento: salvar nossas instituições democráticas e salvar o planeta. Por isso, o tema deste ano busca debater a relação entre liberdade de expressão e a crise ambiental que enfrentamos", disse Guilherme Canela, chefe da seção de Liberdade de Expressão e Segurança de Jornalistas da Unesco, à LatAm Journalism Review (LJR).

"Jornalistas são atores fundamentais para informar nossas sociedades sobre os vários aspectos da crise ambiental, incluindo as mudanças climáticas, combatendo os níveis brutais de desinformação que temos sobre esses temas. Eles também são fundamentais para fazer com que os poderosos prestem contas sobre questões ambientais. E esses jornalistas – os que cobrem meio ambiente – estão sob ataque", disse Canela.

Un honmbre parado sobre un barco que se encuentra sobre los restos del otrora próspero lago Poopó en Bolivia

Campanha da UNESCO para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 2024: "Esta história precisa ser contada". A imagem mostra o lago Poopó na Bolívia, declarado desaparecido em 2015.

Este ataque está refletido no estudo "A imprensa e o planeta em perigo", publicado em 3 de maio, que detalha os ataques contra jornalistas que cobrem questões ambientais por meio de análises qualitativas e quantitativas.

Um dos elementos do estudo foi a pesquisa realizada pela UNESCO e pela FIP com 905 jornalistas de 129 países que cobrem temas ambientais. Cerca de 16% deles trabalham na América Latina e no Caribe.

Além de ataques físicos, ameaças e outras formas de pressão, entre os 70% dos jornalistas que relataram terem sido atacados, 60% disseram ter experimentado assédio online. Um quarto daqueles que relataram ter sido atacados afirmou que os ataques foram de natureza legal.

Quase metade dos entrevistados na pesquisa afirmou ter praticado autocensura, por motivos que vão desde "medo de possíveis ataques" até "exposição de fontes a danos" e "consciência de que sua cobertura ambiental poderia entrar em conflito com os interesses de seus empregadores ou anunciantes".

A pesquisa também destaca as estatísticas relacionadas às jornalistas mulheres. Entre as 371 que responderam à pesquisa, 80% das jornalistas que relataram terem sido alvo de algum tipo de ataque disseram que sofreram ameaças psicológicas ou pressões por sua cobertura.

Além disso, elas foram vítimas de ataques digitais com mais frequência do que seus colegas homens: 62% relataram esse tipo de ataques. Este número coincide com outro relatório da UNESCO, "The Chilling", que identificou que as jornalistas mulheres são mais propensas à violência digital do que os homens.

Entre as jornalistas atacadas, 83% disseram que isso afetou sua saúde mental. Um número superior à média geral encontrada na pesquisa, que foi de 75%.

A desinformação relacionada às mudanças climáticas também foi analisada pela pesquisa. Dois terços dos entrevistados disseram que nos últimos anos a desinformação aumentou, mas acreditam que o jornalismo não está fazendo o suficiente para combatê-la. Desses, 68% acreditam que isso está relacionado a questões de conflito de interesses com partes interessadas.

Assassinatos e ataques nos últimos 15 anos

Outro elemento do estudo diz respeito às estatísticas registradas pela Unesco nos últimos 15 anos (de 2009 a 2003) sobre ataques a jornalistas que cobrem questões ambientais.

A agência da ONU registrou que pelo menos 749 jornalistas, grupos de jornalistas e meios de comunicação que reportavam sobre questões ambientais em 89 países nesse período foram atacados. O estudo aponta que atores estatais, como polícia, forças militares, autoridades e fucinonários governamentais, cometeram pelo menos metade desses ataques. Por outro lado, atores privados, incluindo empresas de indústrias extrativas, grupos ilegais, manifestantes e comunidades locais, são responsáveis por pelo menos um quarto desses ataques.

Banner Día Mundial de la Libertad de Prensa 2024

Banner da Unesco para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa 2024

A Unesco também afirmou que 44 jornalistas que cobriam questões ambientais e que foram assassinados nos últimos 15 anos, de 2009 a 2023. A organização também tem em seus registros 24 jornalistas que sobreviveram a tentativas de homicídio no mesmo período.

Os temas cobertos pelos jornalistas atacados nesses 15 anos incluem as causas das mudanças climáticas, mineração ilegal, desmatamento e combustíveis fósseis, bem como questões específicas a comunidades, como agroindústria, apropriação de terras, megaprojetos de infraestrutura e consequências de fenômenos meteorológicos extremos.

A cobertura de manifestações ambientais é um cenário propício para ataques aos meios de comunicação. A Unesco encontrou 194 ataques durante a cobertura de protestos, a maioria na América Latina e no Caribe, América do Norte e Europa.

As ações legais contra jornalistas e meios de comunicação também preocupam a Unesco . Pelo menos 204 deles tiveram que enfrentar esse tipo de ataques nos últimos 15 anos. Acusações criminais contra mídia e jornalistas, repórteres presos e até mesmo processos por difamação fazem parte do panorama enfrentado por aqueles que cobrem questões ambientais.

O estudo da Unesco termina com recomendações tanto para governos, mídia e jornalistas quanto para organizações de defesa. Para Canela, um dos aspectos mais importantes é o compromisso por parte dos Estados em garantir o trabalho jornalístico.

"Todos os atores, principalmente as autoridades públicas, precisam urgentemente proteger todos os jornalistas. Sem isso, nossas sociedades não terão acesso a informações verificadas para enfrentar a crise ambiental atual", enfatizou Canela.

A principal conferência do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa ocorre de 2 a 4 de maio em Santiago do Chile. Diferentes atividades estão planejadas ao redor do mundo como parte desta comemoração.

Em 2 de maio, foi concedido o Prêmio Mundial da Liberdade de Imprensa UNESCO/Guillermo Cano, que este ano foi entregue aos jornalistas palestinos que cobrem o conflito em Gaza.

Traduzido por André Duchiade
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