No dia 21 de outubro de 2022, Bogotá, capital da Colômbia, receberá pela primeira vez o Festival Gabo, que retoma o formato presencial após dois anos com edições online devido à pandemia de Covid-19. No mesmo dia há 40 anos, Gabriel García Márquez foi anunciado como ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. O discurso “La Soledad de América Latina” (“A Solidão da América Latina”), que proferiu ao receber o prêmio, será a inspiração para a décima edição do Festival nomeado em homenagem ao escritor e jornalista colombiano.
Nascido para celebrar o jornalismo, o Festival Gabo hoje é um evento que celebra as histórias extraordinárias que brotam pela Ibero-América. O Prêmio Gabo, que reconhece a excelência do jornalismo ibero-americano, foi o centro da primeira edição do festival, que aconteceu em 2013 em Medellín, como lembrou Daniel Marquínez, diretor de Projetos Especiais da Fundação Gabo e líder do Festival Gabo desde 2014, à LatAm Journalism Review (LJR).
“O Festival começou sendo uma série de atividades ao redor da entrega do Prêmio Gabo e foi crescendo”, disse Marquínez. “Já não é um encontro de jornalistas para jornalistas, mas sim um evento da cidade, no qual os contadores de histórias estabelecem contato com os cidadãos e entendem o valor cultural que têm as histórias que se baseiam na realidade.”
O mote do Festival este ano é #NosUnemLasHistorias, e de 21 a 23 de outubro o evento realizará encontros que tratarão de questões relacionadas a jornalismo, literatura, poesia, educação, diversidade, gênero, criatividade e inovação. Segundo a organização do Festival, estes temas estarão presentes em mais de 150 atividades que reunirão mais de 100 especialistas colombianos e de outros países.
“O Festival Gabo 2022 se propõe como um programa de fim de semana no qual cabe todo mundo. Trata-se de uma experiência ampla em que se pode participar de oficinas, conferências, espaços interativos, exposições e experiências lúdicas que incluem shows de música e oferta gastronômica dirigida a todo tipo de público”, explicou o responsável pelo evento.
A cidade, em 2022, será Bogotá, depois de sete anos de Festival Gabo em Medellín e dois anos na modalidade virtual. “Para o retorno [ao formato presencial], sempre é interessante provar novas situações, e Bogotá é uma grande urbe latino-americana com uma grande agenda cultural e, queiramos ou não, é o centro do país. É muito mais acessível para os públicos, tanto nacionais como internacionais, simplesmente pelos níveis de conectividade que a cidade tem”, disse Marquínez.
Ele também lembrou a conexão entre Bogotá e García Márquez, patrono do festival. O jornalista e escritor nasceu em Aracataca, no norte da Colômbia, em 1927, e em 1943 se mudou para a capital colombiana. Lá se consolidou “um reputado cronista” com uma coluna no jornal El Espectador, além de ter adquirido a revista Cambio em conjunto com outros sócios, conforme afirma a organização do Festival Gabo.
“E sendo os 40 anos da entrega do Nobel a Gabo, sendo uma cidade na qual Gabo se desenvolveu como jornalista em vários meios, não apenas exercendo o jornalismo mas também como responsável de meios, [Bogotá] tem toda a conexão com Gabo e com o país”, disse Marquínez.
O discurso “La Soledad de América Latina” (“A Solidão da América Latina”), proferido por García Márquez ao ganhar o Prêmio Nobel de Literatura 40 anos atrás, é a inspiração desta edição do Festival Gabo. Segundo Marquínez, as “reflexões e conteúdos [do discurso] estão mais vigentes do que nunca”, e a partir dele “desenhou-se uma agenda com os temas mais relevantes e desafiantes para a região latino-americana”.
No manifesto do Festival Gabo 2022, a organização do evento cita um dos trechos mais conhecidos do discurso: “Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e malandros, todos nós, criaturas daquela realidade desaforada, tivemos que pedir muito pouco à imaginação, porque o maior desafio para nós tem sido a insuficiência dos recursos convencionais para fazer crível nossa vida. Este é, amigos, o nó de nossa solidão.”
“Quarenta anos depois, imersos nesta realidade descomunal, pouca coisa mudou, mas já não estamos sós”, continua o manifesto. A ideia é que o Festival Gabo seja um espaço e um momento para reunir “os contadores de histórias da Ibero-América, independentemente de formatos, gêneros jornalísticos e temáticas” em busca de “novas formas de narrar a região e assim contribuir para desenredar este nó”.
Entre estes contadores de histórias estão o jornalista e escritor mexicano Juan Villoro, ganhador do Reconhecimento à Excelência do Prêmio Gabo 2022, e os ganhadores do Prêmio Gabo 2022, anunciados no dia 11 de outubro.
Villoro foi destacado pelo Conselho Diretor do Prêmio Gabo “pelo brilhante e inspirador conjunto de sua obra e trajetória, que tem dedicado a abordar, narrar e interpretar com vitalidade sempre renovada e estilo magistral, desde distintos gêneros, as realidades sociais, culturais e políticos do México, da América Latina e do mundo, sempre com uma perspectiva própria, profunda e crítica que projeta em seu exercício jornalístico com rigorosidade, ética e talento exemplares”.
Já os ganhadores do Prêmio Gabo 2022 foram selecionados dentre os 1.980 trabalhos inscritos no prêmio e publicados entre 1o de julho de 2021 e 7 de junho de 2022 em meios de países latino-americanos e de Portugal e Espanha.
A Argentina se destacou nesta edição do prêmio: os jornalistas responsáveis por três dos cinco trabalhos ganhadores são originários do país. Ricardo Robins ganhou na categoria Texto com a reportagem “El polizón y el capitán”, publicado no meio digital Rosario3; Rodrigo Abd ganhou na categoria Fotografia pela reportagem fotográfica “El dolor silencioso de Ucrania”, publicado pela Associated Press; e Nicolás Maggi e a equipe do Erre Podcast, da Radio Universidad del Rosario, ganharam na categoria Áudio pela série em 10 episódios “La Segunda Muerte del Dios Punk”.
O outro ganhador latino-americano do Prêmio Gabo 2022 é a equipe da Agencia Cocote, da Guatemala, na categoria Cobertura, pelo especial transmídia “No fue el fuego”. A investigação trata do incêndio no orfanato Hogar Seguro, na Cidade da Guatemala, em março de 2017, no qual morreram 41 meninas com idades entre 14 e 17 anos.
Na categoria Imagem, o trabalho ganhador foi “Reportagem multimídia em Andriivka: Radiografia de uma aldeia sob ocupação russa durante 30 dias”, do jornal Observador, de Portugal.