As autoridades colombianas informaram sobre a captura do ex-parlamentar e político do país Ferney Tapasco que foi sentenciado como autor intelectual do assassinato do jornalista Orlando Sierra. A captura, feita pela Promotoria junto com a Polícia Nacional, ocorreu na madrugada de 1º de novembro, segundo o jornal La Patria.
Tapasco estava foragido desde 24 de junho, quando o Tribunal Superior da cidade de Manizales o condenou a 36 anos de prisão ao considerá-lo culpado de homicídio agravado como autor intelectual do assassinato de Sierra, de 42 anos, ocorrido em janeiro de 2002.
As primeiras versões afirmavam que Tapasco estava disfarçado em uma festa de Halloween. Contudo, a Polícia esclareceu que ele foi encontrado em um apartamento, ainda dormindo e com mudanças em seu aspecto físico.
A sentença contra Tapasco se tornou histórica no país, pois o caso de Sierra foi o primeiro de um assassinato de um jornalista na Colômbia em que toda a cadeia criminal, desde os autores materiais até os intelectuais, é condenada pela justiça.
Organizações como a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ na sigla em inglês) e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entre outras, se pronunciaram positivamente sobre esta decisão judicial.
Contudo, desde que foi divulgada a sentença, o paradeiro de Taspaco era incerto e rumores diziam que ele havia deixado o país, segundo El Espectador. Seus advogados tentaram buscar alternativas para a entrega de Tapasco por considerar que a sentença era “injusta”, de acordo com Semana.
Semanas antes da captura, o filho de Tapasco afirmou em uma entrevista a Blu Radio que seu pai “não fugiu, mas que não se apresentou às autoridades”, informou o portal da emissora.
De acordo com a justiça, Sierra, que era o sub-diretor do jornal de Manizales La Patria, foi assassinado como direta represália por seu trabalho jornalístico. Nos anos 90, Sierra começou a escrever sobre Tapasco, que foi o presidente do partido Liberal no estado de Caldas, e os crimes pelos quais havia sido condenado. O jornalista inclusive “investigou vínculos possíveis entre Tapasco e um esquadrão da morte”, disse no momento da sentença ao CPJ.
Sierra também havia denunciado a corrupção entre os políticos de Caldas em sua coluna dominical ‘Punto de Encuentro’.
Na sentença de 24 de junho de 2015, também foram condenados Fabio López Escobar e Jorge Hernando López Escobar a quase 29 anos de prisão, que haviam negociado com o grupo de pistoleiros o assassinato de Sierra. A polícia segue em sua busca, segundo Semana.
Pelo caso Sierra também foram condenadas outras pessoas. Luis Fernando Soto Zapata foi sentenciado a 19 anos de prisão, apontado como autor material do crime, mas foi deixado em liberdade antes do tempo. Foi assassinado depois de um tiroteio com a polícia na cidade de Cali. Francisco Antonio Quintero Tabares e Luis Arley Orozco foram condenados a 28 anos de prisão como co-autores do assassinato.
A captura de Tapasco ocorreu um dia antes do Dia Internacional para por fim à impunidade dos crimes contra jornalistas proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em uma resolução de dezembro de 2013.
Embora os assassinatos de jornalistas na Colômbia tenham diminuído e o país não tenha entrado no Índice Global de Impunidade 2015 do CPJ, a busca por justiça nos crimes contra jornalistas segue sendo uma grande preocupação no país. Especialmente pela possibilidade que existe na legislação colombiana da prescrição dos crimes, ou seja, do término do tempo legal para que se realizem as investigações e julgamentos pertinentes. Uma vez terminado este tempo, o caso fica encerrado. Segundo números da FLIP, desde 1977 até 2015, 144 jornalistas foram assassinados no país. Para outubro de 2014, 67 desses casos haviam prescrito, de acordo com a organização.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.