A emissora colombiana Rádio Caracol informou que grupos humanitários estão trabalhando para a libertação de dois jornalistas holandeses que estão sendo detidos na região nordeste do país por membros do Exército de Libertação Nacional (ELN).
O jornalista Derk Johannes Bolt e o operador de câmera Eugenio Ernest Marie Follender foram sequestrados no dia 17 de junho, no município de El Tarra, no departamento de Norte de Santander.
Um representante do município de Tibú, naquele mesmo departamento, disse que os jornalistas estão sendo detidos pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), de acordo com a Caracol Radio. O referido representante é membro de uma comissão humanitária que fez contato com o grupo e está trabalhando para a libertação dos jornalistas.
A emissora conversou com um residente que disse que a comunidade viu os repórteres tirando fotos. Eles pararam os repórteres para ver o que estavam fazendo, mas eles fugiram e foram capturados, disse a pessoa à Caracol Radio.
A rádio afirmou que operações militares na área impedem o retorno dos estrangeiros, mas a liberação dos jornalistas é esperada nas próximas horas.
O diário El Espectador informou que os jornalistas foram interceptados por membros da Frente Héctor do ELN enquanto tiravam fotos e vídeos. O jornal disse que os homens holandeses não teriam fornecido informações sobre suas atividades às autoridades nem teriam feito contato com pessoas da região antes de visitar a área.
O jornal disse que os militares haviam direcionado um avião para reconhecimento na área onde eles acreditam que os jornalistas estão sendo mantidos. Ele acrescentou que tropas foram utilizadas para criar um cordão humanitário e que as autoridades civis estavam trabalhando para encontrar os jornalistas.
Depois que a notícia do sequestro foi tornada pública, o ELN disse via Twitter que estava "investigando para ajudar a esclarecer o caso", mas não confirmou se estava retendo os jornalistas. O grupo não fez nenhuma declaração desde que a Caracol Radio noticiou a declaração do representante municipal.
A ELN-PAZ, Delegação para o Diálogo do Exército de Libertação Nacional, divulgou um comunicado no qual afirma estar procurando esclarecer a situação dos jornalistas holandeses detidos em El Tarra, na Colômbia. No entanto, acrescentou que até o momento não pôde confirmar internamente a responsabilidade da organização devido a "dificuldades inerentes ao conflito e à falta de mecanismos ágeis de comunicação na área".
"É uma região atravessada por conflitos armados; e nesse contexto, a possibilidade de privação temporária de liberdade a pessoas desconhecidas e de fora da comunidade corresponde a uma atitude preventiva, de um exercício de proteção e segurança, natural para qualquer força insurgente," disse o comunicado.
Se eles estão sendo mantidos, a organização disse que é a política do ELN garantir a integridade das pessoas, a liberdade de imprensa, e cumprir com sua pronta liberação em coordenação com uma comissão humanitária. Eles disseram que as forças de segurança não devem interferir.
Bolt e Follender trabalham para a estação holandesa KRO-NCRV e o programa "Spoorloos", para o qual eles estavam produzindo uma reportagem sobre as "famílias biológicas de crianças colombianas adotadas por europeus," de acordo com a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP por sua sigla em Espanhol) na Colômbia.
O ELN faz parte do conflito armado em curso na Colômbia. Conforme relatado pela TeleSUR, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estão em meio à rodada final de entrega de armas, resultado de um acordo de paz assinado com o governo colombiano no ano passado. O ELN retomou suas conversas com o governo colombiano em Quito, no Equador, em 16 de maio, de acordo com El Espectador.
Esta não é a primeira vez que jornalistas foram sequestrados nesta região. A jornalista colombiano-espanhola Salud Hernández-Mora desapareceu em El Tarra em 21 de maio de 2016 durante uma viagem de reportagem. Cinco outros jornalistas foram sequestrados na mesma área em 23 de maio por homens que se identificaram como membros do ELN. Três deles foram libertados em seguida. Hernández-Mora, juntamente com os repórteres da RCN Diego D'Pablos e Carlos Melos, foram finalmente libertados no dia 27 de maio.
De acordo com a FLIP, cinco dos seis últimos sequestros de jornalistas nos últimos anos ocorreram naquela região do país.
"O Catatumbo [uma sub-região do nordeste da Colômbia] não pode continuar a ser um território proibido para a imprensa e é por isso que esta organização faz um apelo às autoridades para que fortaleçam as garantias para o jornalismo nessa área," afirmou a organização em um comunicado de imprensa.
A FLIP e outras organizações como o Comitê Para a Proteção de Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, pediram a libertação imediata dos jornalistas.
"As autoridades colombianas devem fazer todo o possível para localizar os jornalistas e liberá-los em segurança, e todos os lados do conflito civil colombiano devem respeitar o status internacionalmente reconhecido dos jornalistas como sendo civis," afirmou em um comunicado de imprensa Carlos Lauría, diretor de programa e coordenador do programa sénior para as Américas do CPJ.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.