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Imprensa regional em risco no México, em Honduras, Colômbia e Brasil, os países mais perigosos para jornalistas na América

"Preciso de uma arma", pediu um jornalista, como medida de segurança para trabalhar em Veracruz, um dos lugares mais perigosos para a imprensa mexicana. Após o pedido, Daniela Pastrana, da organização mexicana Jornalistas a Pé (Periodistas a Pie) respondeu ao jornalista que uma arma de fogo não era a solução, mas seu colega de Veracruz insistiu: "Eu não quero uma arma para me defender, mas para garanti que eles não vão me pegar vivo". A resposta do repórter veio após cinco jornalistas mexicanos serem encontrados mortos com marcas de tortura nos últimos 30 dias.

Pastrana representou o México na segunda-feira, 21 de maio, no painel intitulado "Os países mais perigosos: México, Honduras, Colômbia e Brasil", durante o 10º Fórum de Austin de Jornalismo nas Américas. O Fórum deste ano foca na Segurança e Proteção para Jornalistas. O México é o país mais perigoso para o exercício da profissão na América após sete mortes de jornalistas em 2011 e cinco mortes até agora, em 2012. O painel também contou com a participação de Héctor Becerra, de Honduras, onde 29 mortes foram registradas desde 2010, bem como de Ginna Morelo, da Colômbia, e de Marcelo Moreira, do Brasil.

A tortura é a forma mais recente de assassinar jornalistas, disse Pastrana. Outras tendências identificadas nos ataques contra a imprensa incluem ataques frequentes a escritórios de mídia com explosivos, infiltração do crime organizado nas redações, o assassinato e sequestro de jornalistas mulheres, bem como o assassinato de jornalistas que faziam reportagem na internet via redes sociais.

Pastrana disse que sua organização documentou 14 desaparecimentos forçados de jornalistas mexicanos, mas familiares demoraram para registrar sumiços de jornalistas por medo de retaliação em Tamaulipas. Pastrana também chamou atenção para a solidão dos jornalistas.

Pastrana, também professor de jornalismo mexicano, disse que a situação atual se deve à transição democrática no México, que começou em 1990 e alcançou seu clímax em 2000, mas ficou concentrada na Cidade do México e em outras poucas cidades, mas nunca havia se espalhado pelo resto do país. "Para a maioria da imprensa, nunca houve uma transição ou abertura democrática. As mesmas formas de reverência a um prefeito ou governante ainda existem", disse ela.

Para prevenir que a situação piore, Pastrana disse que organizações de jornalismo e de mídia precisam se fortalecer para dar atenção emergencial e apoio emocional a jornalistas em risco, bem como treinamento para diminuir riscos e fortalecer a segurança na região.

Enquanto isso, Héctor Becerra, do Comitê por Liberdade de Expressão em Honduras (C-Libre), negou que os assassinatos e ataques contra jornalistas em Honduras sejam causados pelas altas taxas criminais no país, considerado o mais violento do mundo. Para provar isso, Becerra apresentou uma lista de países, como El Salvador e Venezuela, que têm altas taxas de homicício para cada 100 mil habitantes e onde é raro ouvir falar sobre o assassinato de um jornalista. O nível de impunidade é tão alto em Honduras que nenhum dos 63 assassinatos de policiais foram resolvidos até agora. "Até mesmo crimes contra a polícia não são investigados", disse ele.

Ginna Morelo, reporter do jornal El Meridiano, da Colômbia, e presidente do Conselho de Redações (Newsroom Concil), alertou sobre a crescente autocensura causada por riscos e ameaças contra jornalistas regionais no país que cobrem assuntos como conflitos de posse de terra e ameaças de gangues criminosas. Alguns jornalistas investigativos como Mary Luz Avedaño optaram por viver no exílio.

Enquanto isso, Marcelo Moreira, editor da TV Globo e presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), disse que autoridades e a imprensa nacional mostraram indiferença frente a seis assassinatos de jornalistas no Brasil, em 2012. Moreira disse que matar o mensageiro faz parte da natureza do crime, que é também um crime contra a sociedade, mas esses casos regionais quase nunca chegam aos tribunais federais.

Ao final do painel, os jornalistas desses países concluíram que o jornalismo regional precisa se fortalecer para financiar projetos investigativos que reflitam a agenda da imprensa nacional.

A edição de 2012 do Fórum aborda o tema "Segurança e proteção para jornalistas, blogueiros e jornalistas cidadãos" e é organizada pelo Centro Knight e pelos programas para a América Latina e de mídias das Fundações Open Society. Mais do que uma conferência anual, o Fórum de Austin é uma rede de organizações voltada para o desenvolvimento da mídia na América Latina e no Caribe. Nas edições anteriores do evento, foram abordados temas como a cobertura da migração nas Américas e a cobertura do tráfico de drogas e do crime organizado na América Latina e no Caribe.