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In.Visibles conta histórias esquecidas das vítimas do crime organizado na América Latina

A América Latina está repleta de histórias sobre o crime organizado. No entanto, de acordo com jornalistas especializados no assunto, a grande maioria das histórias publicadas concentra-se naqueles que estão no topo da pirâmide criminosa e não nas pessoas que sofrem violência colateral. 

Foi sob essa premissa que nasceu In.Visibles, um meio de comunicação independente, regional e bilíngue apoiado pela SembraMedia e pelo primeiro programa de incubação de novos meios da Google News Initiative

O objetivo desse programa era apoiar o desenvolvimento de empreendimentos jornalísticos na América Latina, não apenas com fundos, mas também com acompanhamento personalizado focado na ideia de sustentabilidade a longo prazo. 

"A ideia da In.Visibles, que foi lançada em 4 de agosto, é o produto de muitos anos de conversas e troca de ideias com outros jornalistas e criativos da região", disse Josefina Salomón, cofundadora e diretora editorial da In.Visibles, à LatAm Journalism Review (LJR)

"Estamos acostumados a ver essa história de um único ponto de vista, mas acreditamos que as questões mais relevantes para a atual discussão sobre segurança têm a ver com todas as outras pessoas quase anônimas: as mulheres que constituem a maior proporção de pessoas presas por crimes de microtráfico, as comunidades indígenas sequestradas por gangues criminosas em suas próprias terras, agentes públicos que tentam mudar a realidade, mas não têm o apoio de que precisam, para citar alguns exemplos", acrescentou. 

O crime organizado é um problema na América Latina. De acordo com o Índice Global de Crime Organizado, o crime aumentou na maioria dos países da região em 2022. Três países latino-americanos estão entre os cinco piores do mundo em termos de criminalidade: Colômbia, México e Paraguai.

Para a equipe da In.Visibles, descrever a dinâmica das organizações ou contabilizar suas economias ilegais não é suficiente. Eles explicam que é essencial contar as histórias de baixo para cima, e não o contrário, pois é isso que informará o tipo de políticas de segurança que podem tirar a região da crise em que se encontra. 

"Por que as pessoas que cultivam coca não se dedicam a outras atividades? Qual é o papel das prisões no desenvolvimento de organizações criminosas? Que soluções as comunidades indígenas da Amazônia propõem? Sem explorar esses tipos de questões, qualquer cobertura fica incompleta", disse Salomón. 

Em seu site, a In.Visibles explica que seu trabalho se baseia em quatro eixos relacionados ao impacto do crime organizado: gênero, prisões, meio ambiente e migração.

Até o momento, eles publicaram duas histórias. A primeira é sobre uma intervenção em um bairro de Caracas pelas forças de segurança do Estado venezuelano para derrubar uma gangue de mega criminosos. O foco está em como a situação afetou os moradores locais. 

O segundo conta as histórias de jornalistas que tiveram de fugir do Equador após serem ameaçados por grupos criminosos ou pressionados pelo governo.

Eles também têm uma seção de conversas com especialistas na cobertura do crime organizado na América Latina e outro espaço para explicar conceitos básicos relacionados ao tema da violência. 

A equipe do In.Visibles é um pequeno grupo de sete pessoas de diferentes partes da América Latina, com predominância de mulheres. Tanto Salomón quanto as outras duas jornalistas da equipe, Ronna Rísquez e Madeleine Penman, têm ampla experiência na cobertura de desigualdade, drogas, violência, gênero e direitos humanos na região.

Elas também estão acompanhadas pelo documentarista mexicano Sergio Ortiz. Elas contam com o apoio de uma especialista em captação de recursos, um web designer e desenvolvedor e um responsável pelas redes sociais. 

Atualmente, eles estão trabalhando em dois projetos investigativos.

O primeiro examinará como a dinâmica das prisões contribui para a expansão das organizações criminosas e possíveis estratégias alternativas. O segundo se concentrará na investigação do impacto dos grupos criminosos sobre as diversidades. 

"Queremos que nossas histórias sejam realmente uma janela para a vida de pessoas das quais quase nunca ouvimos falar", disse Solomon. 

 

Como deve ser um jornalista que cobre o crime organizado?

 

De acordo com Josefina Salomón, há uma série de características que um jornalista deve ter para cobrir com eficiência o crime organizado na América Latina. Elas estão listadas abaixo:

 

       1. Curiosidade e perseverança 

 

Para Salomón, essa é uma das características mais importantes, pois o jornalismo não é uma profissão fácil e exige muito trabalho. Embora as satisfações também possam ser enormes nessa carreira, sem curiosidade e perseverança, a frustração pode se instalar. 

 

        2. Ética e empatia 

 

Ao contar histórias sobre pessoas afetadas pela violência e pelo crime organizado, é essencial respeitar e cuidar das fontes. Além disso, a ética e a empatia devem se estender ao interior das organizações. 

"A ideia de que, para obter resultados, é preciso explorar as equipes a ponto de levá-las ao burnout, acho que pertence a outra época, embora seja a dinâmica na qual a maioria de nós foi formada", disse Salomón. 

 

         3. Trabalho colaborativo 

 

Na In.Visibles, o trabalho colaborativo e um ambiente de trabalho positivo e de respeito mútuo são uma prioridade. Os trabalhos publicados até agora contaram com a participação de jornalistas de diferentes países e meios de comunicação.

 

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