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Jorge Ramos ganha Reconhecimento de Excelência García Márquez e dedica prêmio para jornalistas mortos por questionarem o poder

Nos seus mais de 30 anos como jornalista, Jorge Ramos se dedicou a ser um fiscal do poder, a ser rebelde, a desobedecer –como ele próprio se define e aconselha as próximas gerações de jornalistas a fazerem o mesmo–, "causar sempre desconforto e fazer isso através do jornalismo", como explica a jornalista venezuelana Laura Weffer.

Então, quando Donald Trump decidiu concorrer à presidência dos Estados Unidos, Ramos –que se vê não só como jornalista, mas como imigrante– decidiu enfrentar, por meio do jornalismo, o candidato, que classificou como racista, sexista e xenófobo, segundo suas palavras.

E foi com esse princípio de atuar como contrapeso do poder que o jornalista começou a causar certo "desconforto" a Donald Trump com perguntas em uma coletiva de imprensa em Iowa. O atual presidente decidiu expulsar o jornalista da coletiva, demonstrando uma relação com a imprensa que marcaria sua administração e que seria condenada por organizações como o CPJ, por ameaçar a liberdade de expressão. O trabalho de Ramos, que já era reconhecido em grande parte da América Latina e da comunidade hispânica dos Estados Unidos, cruzou mais fronteiras com este evento.

A sua cobertura das eleições nos EUA foi precisamente um dos aspectos destacados pelo Conselho Reitor da Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-Americano (FNPI), quando concedeu por unanimidade o Reconhecimento de Excelência de 2017 do Prêmio de Jornalismo Gabriel García Márquez (GGM) pela sua carreira jornalística.

"O Conselho Reitor quer destacar a coragem e a convicção democrática com que o jornalista Jorge Ramos expôs os problemas e defendeu a voz e os direitos da comunidade hispânica nos Estados Unidos. Sua longa e estreita relação com as minorias latinas, que o vêem, o escutam e o seguem como um jornalista sério e confiável por reportar notícias e interpretar seus sonhos, frustrações e medos por meio de diferentes canais de comunicação, especialmente na televisão e nas mídias sociais, cresceu durante o processo eleitoral que ocorreu nos Estados Unidos durante a última eleição presidencial", afirmou o conselho na ata de reconhecimento de excelência de 2017.

"Ramos deu uma grande contribuição para a democracia com um jornalismo político incisivo, honesto e inteligente, no meio de uma campanha em que muitos não conseguiram analisar e ver o que realmente estava acontecendo", acrescentou o documento.

Em sua conta no Twitter, Ramos agradeceu e dedicou o prêmio aos jornalistas "assassinados por questionar o poder".

Em grande medida, Ramos desenvolveu a sua carreira jornalística nos EUA –a motivação por trás desse reconhecimento– depois de fugir da censura no México há mais de 30 anos. Durante esse período, ele cobriu cinco guerras, incluindo a Guerra Civil de El Salvador, a Guerra do Golfo e as guerras no Afeganistão e no Iraque; ele também esteve presente em coberturas importantes, como a queda do Muro de Berlim, o fim do apartheid na África do Sul e os atentados de 11 de setembro, entre outros.

Atualmente é apresentador do Noticiero Univisión e do programa político Al Punto. No entanto, como Daniel Coronell, presidente da Univisión Noticias, afirmou: "Jorge é um repórter do começo ao fim", pois participa da seleção de temas, dos ângulos da investigação e até da apresentação das histórias.

O Reconhecimento da Excelência é dado anualmente a um jornalista ou a uma equipe de jornalistas "de reconhecida independência, integridade e compromisso com os ideais do serviço público de jornalismo" e cuja carreira ou contribuição especial na "busca da verdade ou do avanço do jornalismo" merece ser reconhecida.

Nos anos anteriores, jornalistas como Dorrit Harazim (Brasil), Giannina Segnini (Costa Rica), Javier Darío Restrepo (Colômbia), Marcela Turati (México) e o time de El Faro (El Salvador) receberam esse prêmio.

O Conselho Reitor inclui Jean-François Fogel, Carlos Fernando Chamorro, Germán Rey, Héctor Feliciano, Jon Lee Anderson, María Teresa Ronderos, Martín Caparrós, Mónica González, Sergio Ramírez e Rosental Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Ramos receberá seu Reconhecimento de Excelência em 29 de setembro em Medellín, Colômbia, durante a cerimônia do Prêmio GGM no Festival Gabriel García Márquez. Como parte da programação do Festival, Ramos falará com Rosental Alves, membro do Conselho Reitor, e María Elvira Arango, diretora do programa Los Informantes, da Colômbia.

O Festival e o Prêmio é organizado pela FNPI, com o objetivo de "encorajar a busca pela excelência, inovação, rigor no tratamento de fatos e coerência ética no jornalismo".

Durante a cerimônia, os vencedores também serão anunciados para as outras categorias do concurso: texto, imagem, cobertura e inovação; e o Prêmio Clemente Manuel Zabala será entregue a um editor colombiano exemplar.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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