Já se passaram 57 anos desde que um jornalista porto-riquenho recebeu pela última vez a medalha de ouro do Prêmio Maria Moors Cabot, concedido pela Escola de Jornalismo de Columbia. Este ano, a Ilha do Encanto volta a se fazer presente com o prêmio concedido a Omaya Sosa Pascual, do Centro de Jornalismo Investigativo (CPI).
"Me sinto extremamente lisonjeada, extremamente honrada e extremamente feliz que o Caribe finalmente esteja sendo visto de uma forma diferente", disse Sosa Pascual à LatAm Journalism Review (LJR). "Sinto que este prêmio é um reconhecimento do trabalho que está sendo feito aqui, não apenas em Porto Rico, mas em todo o Caribe, um lugar tão maltratado e colonizado que tem tantas necessidades."
Esta é a segunda vez na história do prêmio que todas as quatro medalhas são concedidas a mulheres. Sosa Pascual venceu ao lado de Nora Gámez Torres, correspondente do Miami Herald e do El Nuevo Herald nos Estados Unidos; da jornalista mexicana Isabella Cota, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ); e de Natalia Viana, cofundadora da Agência Pública.
Omaya Sosa Pascual, do Centro de Jornalismo Investigativo (CPI), ganhou a Medalha de Ouro do Prêmio Maria Moors Cabot de 2025. (Foto: Cortesia)
"Antes, nós mulheres tínhamos duas dificuldades: as entrevistas com figuras do poder, que em sua maioria eram homens, e as estruturas jornalísticas onde havia um desequilíbrio marcante", disse Sosa Pascual. "Mas devo dizer que as coisas mudaram nos 29 anos em que exerço o jornalismo. Há maior presença de mulheres em cargos altos nos meios de comunicação aqui em Porto Rico."
O júri do prêmio descreveu Sosa Pascual como uma das repórteres, líderes e editoras mais importantes da região, destacando sua energia, ideias e determinação.
"Investigar o poder no Caribe com poucos recursos e, muitas vezes sozinho, é uma tarefa assustadora para jornalistas, especialmente em ilhas pequenas onde as oportunidades de emprego são escassas", disse o júri. "O comprometimento de Sosa Pascual nessas circunstâncias a transformou em um modelo a ser seguido e mentora para muitos."
Sosa Pascual iniciou sua carreira como repórter do jornal Un Nuevo Día e, em 2007, cofundou o CPI, o primeiro centro de jornalismo investigativo sem fins lucrativos da região. No mesmo ano, também criou o Noticel, o primeiro meio de comunicação exclusivamente digital de Porto Rico.
"Eu era apenas uma repórter de um meio tradicional, mas com toda essa loucura da internet me transformei por necessidade em empreendedora", contou Sosa Pascual.
O projeto do Noticel foi vendido após cinco anos sob sua liderança.
"Dessa experiência comercial tirei algumas ideias e aprendi o que deveria ser feito e para onde estava indo o futuro do jornalismo", disse ela.
Omaya Sosa Pascual cobrindo as consequências do furacão Maria em Porto Rico em 2017. (Foto: Cortesia)
Ela permaneceu como membro do CPI ao longo dos anos, treinando centenas de jornalistas caribenhos e coordenando investigações de alto nível, como os Panama Papers em Porto Rico, o vazamento de conversas do Telegram que levou à renúncia do governador Ricardo Rosselló, a corrupção no sistema eleitoral porto-riquenho e o verdadeiro número de mortos pelo furacão Maria em 2017.
"Se tivesse que escolher uma investigação entre todas as que fiz ao longo da minha carreira, escolheria a dos mortos do furacão Maria", disse Sosa Pascual. "Foi uma investigação em que voltamos ao básico do jornalismo, não tínhamos nada além de caderno e lápis. Não havia internet, não havia celulares e produzimos uma das histórias mais importantes já feitas em Porto Rico, obrigando o governo a se corrigir."
O que foi vivido durante o furacão também foi o estopim para cofundar a Es Mental, uma revista digital dedicada ao bem-estar emocional, saúde mental e relacionamentos humanos. Atualmente, Sosa Pascual divide seu tempo entre o jornalismo investigativo e a direção da revista.
A cerimônia do Prêmio Maria Moors Cabot de 2025 será realizada em 8 de outubro de 2025, na Universidade de Columbia, em Nova York.
"Muitos dos ganhadores do Cabot foram meus mentores e interagiram comigo ao longo da minha carreira: Marina Walker, Giannina Segnini, Hugo Alconada, Marcela Turati...", disse Sosa Pascual. "É realmente incrível fazer parte de um grupo de pessoas que admiro tanto."