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Jornalistas argentinos reivindicam volta das coletivas de imprensa na Casa Rosada, suspensas no início da pandemia

O Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea, na sigla em espanhol) alertou nesta semana que a proibição de perguntas de jornalistas durante anúncios do governo sobre o coronavírus contribui para a desinformação no país.

Desde o início da crise, a Casa Rosada suspendeu a realização de coletivas de imprensa, substituídas por anúncios oficiais sem possibilidade de perguntar por parte dos jornalistas. O motivo seria para não supostamente tirar o foco do anúncio em si e garantir que a divulgação de “informação precisa e confiável, para levar tranquilidade à sociedade”, informou o Clarín citando uma fonte do governo.

Fernando Ruiz, presidente do Fórum de Jornalistas Argentinos (Fopea, em espanhol)

Segundo o Fopea, o risco é que aconteça exatamente o contrário. “A falta de respostas às perguntas não termina com elas, mas, pelo contrário, as amplifica e facilita os processos de desinformação,” alertou o fórum em comunicado divulgado nesta semana.

“Em seguida [aos anúncios], representantes do governo se multiplicam em contatos individuais com os jornalistas, a maioria em off, para explicar os detalhes das medidas,” disse Fernando Ruiz, presidente do Fopea, ao Centro Knight. “Dissemos que, neste momento, quando é necessário interromper os processos de desinformação, as entrevistas coletivas são importantes, quando estão todos os meios de comunicação jornalísticos e o funcionário fala com todos ao mesmo tempo.”

O Fopea sugere ao governo realizar entrevistas coletivas virtuais, usando ferramentas de videoconferência, e abertas para jornalistas de todo o país e não apenas aqueles baseados em Buenos Aires. “A epidemia de coronavírus nos dá a oportunidade de realizar conferências de imprensa federais, que levam essa ferramenta a inúmeros jornalistas e meios de comunicação de todo o país que hoje não têm essa possibilidade,” diz o comunicado.

O pedido para a retomada das coletivas de imprensa é um dos dez feitos pelo Fopea aos governos federal, provinciais e municipais do país para melhorar a qualidade da informação pública e contribuir para combater a pandemia.

A lista de demandas inclui ainda uma ressalva sobre a resolução que flexibilizou os requisitos para a mídia receber publicidade oficial, agilizando o registro e o recadastramento de fornecedores. “Essa medida pode servir para acelerar os pagamentos em uma situação de crise, mas também abre uma enorme brecha que queremos evitar. Por esse motivo, solicitamos que, para tornar transparente o processo de contratação da publicidade oficial, as informações sobre valores e fornecedores estejam disponíveis e acessíveis ao público,” diz a nota do Fopea.

A medida permanecerá em vigor até que o Poder Executivo ordene o fim do isolamento social e obrigatório para mitigar a disseminação do coronavírus.

“Essa resolução não é ruim em si mesma. É um mecanismo de emergência compreensível. Apenas alertamos para que não se torne um mecanismo de censura à mídia, devido à arbitrariedade que ela concede aos servidores públicos para distribuir fundos,” alertou Ruiz.

O Fopea pede ainda medidas para garantir a proteção sanitária das equipes de jornalistas atuando na cobertura da pandemia, seja quando falam com representantes do governo ou trabalham nas ruas do país. Os jornalistas querem ainda mais transparência com os gastos emergenciais, além de um detalhamento maior dos dados sobre a doença e o impacto no sistema de saúde nas províncias.

Segundo Ruiz, a lista de sugestões da Fopea, que cobre temas como segurança, acesso à informação e distribuição de verbas publicitárias estatais, se dá sob “a crescente sensação de que a pandemia será um duro golpe para o trabalho jornalístico tal como está estruturado hoje no mundo.”

“É um momento em que o jornalista vive uma situação individual e familiar de grande tensão e, ao mesmo tempo, tem uma demanda enorme do público. (...) Como nas guerras, os governos assumem um papel muito forte e, portanto, a imprensa deve manter alerta sua vocação para a prestação de contas, juntamente com o compromisso de defender a saúde da sociedade.”

O Centro Knight enviou um pedido por um comentário à Casa Rosada, mas não recebeu uma resposta imediata.

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