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Jornalistas, artistas e influenciadores venezuelanos unem forças em teleton para arrecadar fundos para o jornalismo independente

O jornalismo venezuelano está em crise. Durante anos, organizações não governamentais denunciaram o fechamento e bloqueio sistemático de portais de notícias. No entanto, após as eleições presidenciais de 2024, a perseguição e criminalização da profissão, somadas ao corte de fontes de financiamento internacional, levaram o jornalismo independente à beira do abismo.

Como forma de salvar o jornalismo que ainda resiste dentro do país, a plataforma de mídia latino-americana Connectas organizou, em 17 de maio, um teleton para arrecadar fundos.

O evento foi chamado de Vaca Mediática. No espanhol venezuelano, a palavra "vaca", além de ser o nome da fêmea que fornece carne e leite, se refere à campanha de arrecadação de fundos que geralmente é organizada em torno de uma festa para que todos os participantes possam contribuir.

Segundo o site da Connectas, os recursos arrecadados têm como objetivo garantir os salários dos trabalhadores envolvidos no dia a dia dos veículos de comunicação independentes, resguardar a segurança dos jornalistas e das equipes, modernizar as ferramentas tecnológicas e narrativas, e capacitar os profissionais para continuar inovando na região.

"Nossos colegas na Venezuela não têm a liberdade de fazer o que estamos fazendo", disse o jornalista exilado César Batiz, diretor do meio de comunicação El Pitazo, durante a transmissão de quase 4 horas do teleton. "Estamos dando a cara por eles, e o esforço que estamos fazendo é pelos nossos colegas que estão na Venezuela trabalhando dia após dia para levar informação, apesar dos bloqueios, das perseguições, da censura e das pressões."

Assim como Batiz, todos os jornalistas, artistas e influenciadores venezuelanos que se uniram ao teleton estão radicados fora do país. A transmissão foi realizada ao vivo de um estúdio em Miami com links para outras partes do mundo.

Além disso, mensagens dos participantes do teleton foram amplamente compartilhadas nas redes sociais, preenchendo os feeds de qualquer pessoa interessada em jornalismo latino-americano.

screenshot of the telethon

“O jornalismo na Venezuela mantém sua paixão, sua coragem, seu profissionalismo e até mesmo seu humor”, disse Carlos Eduardo Huertas, diretor da Connectas. (Foto: captura de tela)

Como doar

Os beneficiários deste teleton serão 15 veículos de comunicação independentes da Venezuela: Arepita, Efecto Cocuyo, El Pitazo, Caracas Chronicles, Cazadores de Fake News, Instituto Prensa y Sociedad Venezuela (Ipys), La Vida de Nos, Medianalisis, Monitor de Víctimas, ProboxVE, Reporte Ya, Runrunes, Servicio de Información Pública, Tal Cual e VE sin Filtro.

Nenhum desses canais tem acesso pago, então as informações que eles fornecem são completamente gratuitas.

As doações podem ser feitas pelo site vacamediatica.com. Podem ser realizadas anonimamente, e também há a opção de escolher doar o dinheiro para um veículo ou organização específica.

Existem três métodos de pagamento: PayPal, cartão e transferência Zelle. Para cada dólar recebido durante o teleton, o Fundo Martin Baron prometeu doar mais 20%.

A LatAm Journalism Review (LJR) entrou em contato com a equipe da Vaca Mediática por e-mail, que informou que, em princípio, a arrecadação de fundos permanecerá aberta até 24 de maio.

"O objetivo principal da Vaca Mediática não é a arrecadação. É o começo de algo maior", disseram. "É mais uma mensagem de que estamos unidos e em aliança. Nossa colaboração nos ajuda a superar a censura e nos dá segurança."

Mantendo o humor e a fé

"O jornalismo na Venezuela mantém sua paixão, sua coragem, seu profissionalismo e até mesmo seu humor", disse Carlos Eduardo Huertas, diretor da Connectas, durante a transmissão do teleton. "Uma frase que sempre ouço muito dos venezuelanos é 'mano, tengo fe' (‘irmão, tenho fé’’ um slogan que se tornou muito popular na Venezuela, especialmente no contexto do futebol)."

Em homenagem a essa fé e humor, o teleton contou com a presença não apenas de renomados defensores dos direitos humanos e jornalistas latino-americanos, como: Laura Zommer, cofundadora do Factchequeado; Oscar Martinez, Editor-chefe do El Faro de El Salvador; Adriana León, gerente do programa de Liberdade de Imprensa do Instituto de Imprensa e Sociedade; Carlos Fernando Chamorro, fundador do Confidencial da Nicarágua; e Pedro Vaca, Relator Especial para a Liberdade de Expressão da CIDH.

Artistas e comediantes venezuelanos de várias gerações também participaram. Os primeiros a mostrar o seu apoio foram os integrantes do El Cuartico, um podcast apresentado por Chucho Roldán, Estefanía León e Daniel Enrique, que tem centenas de milhares de ouvintes semanalmente.

screenshot of the telethon

A cantora Laura Guevara falou sobre a importância da liberdade de expressão. (Foto: captura de tela)

"Utilizamos muitas informações sobre a Venezuela em nossos episódios e percebemos que está cada vez mais difícil obter dados. Por isso, estamos aqui para dar uma mão ao jornalismo venezuelano", disse Roldán. "O jornalismo é fundamental para deixar um registro e uma marca na história. Deixar de manter registros é extremamente grave."

Também participaram, do estúdio de Miami, o locutor e comediante Luis Chataing, a atriz Carolina Perpetuo e o apresentador Nelson Bustamante.

Participações especiais foram feitas pelo escritor Leonardo Padrón, pelo poeta Alberto Barrera Tyszka, pela cantora Judy Buendia, pela atriz Juliet Lima e pelos comediantes Laureano Marquez e Ricardo del Bufalo.

A cantora Laura Guevara apresentou uma música intitulada "Latidos" que fala sobre reinventar-se e se levantar apesar das dificuldades. Ela também falou sobre a importância da liberdade de expressão.

"Acho maravilhoso que estejam criando esta Vaca Mediática para reconhecer a expressão como a necessidade humana mais poderosa que todos nós temos", disse Guevara. "Serei sempre grata por, apesar de todos os desafios, vocês terem decidido se comprometer com a verdade e fazer o que é certo."

O radialista Eli Bravo fez uma contribuição financeira ao vivo e enfatizou que o jornalismo não se sustenta sozinho.

"Nos divertimos nesta Vaca Mediática porque o humor faz parte de ser venezuelano", disse Bravo. "No entanto, não podemos perder de vista a forma como os meios de comunicação independentes estão defendendo a profissão em um contexto tão difícil."



Traduzido por Marta Szpacenkopf
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