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Jornalistas colombianos querem abandonar a profissão devido às precárias condições de trabalho, segundo pesquisa

Muitos jornalistas colombianos desejam ou estão considerando abandonar a profissão. Os baixos salários, a instabilidade contratual e a disparidade de gênero são alguns fatores que estão levando cada vez mais profissionais da imprensa do país a buscar alternativas de emprego em outros setores.

Isso foi demonstrado pela pesquisa "Condições de trabalho dos jornalistas na Colômbia", elaborada pelos jornalistas pesquisadores da Universidade do Rosário Diego García, Paulina Morales e Óscar Parra, e publicada em janeiro na revista Doxa Comunicación.

Pouco mais da metade de um grupo de jornalistas entrevistados afirmou ter o desejo de abandonar o jornalismo para se dedicar a outro trabalho, em comparação com 36,9% que responderam que não pretendem abandonar a profissão, segundo a pesquisa.

Colombian journalists and researchers

Paulina Morales e Diego García (à esquerda) e Óscar Parra (à direita) receberam o Prêmio Nacional de Jornalismo do Círculo de Jornalistas de Bogotá de Melhor Pesquisa Acadêmica por seu trabalho sobre as condições de trabalho dos jornalistas colombianos (Foto: Cortesia CPB e Óscar Parra).

Esses números evidenciam o grau de insatisfação dos jornalistas com suas condições de trabalho e com a profissão na Colômbia, disseram os autores.

"Estou muito impressionado que as pessoas estejam dispostas a deixar a profissão. Conheço vários casos [de jornalistas] que acabaram fazendo coisas totalmente diferentes para conseguirem financiar suas vidas porque sabem que o jornalismo não está sendo suficiente", disse Parra à Latam Journalism Review (LJR).

O desejo de abandonar o jornalismo está presente tanto em homens quanto em mulheres e em todos os níveis de renda, segundo a pesquisa. Da mesma forma, a intenção de abandonar a profissão não muda significativamente em função dos anos de experiência. Apenas jornalistas com mais de 21 anos de trajetória manifestaram igual disposição entre continuar trabalhando e se aposentar da profissão.

"Conheço vários colegas que deixaram o jornalismo e que também têm uma carreira de muitos anos e muito prestígio", disse Parra. "Mas preferiram sair porque não aguentavam mais em termos de saúde mental, acesso a bons salários e condições de trabalho."

A pesquisa revelou que os salários dos jornalistas na Colômbia são, em sua maioria, baixos e desiguais. Apenas 20% dos entrevistados ganham mais de 5 milhões de pesos colombianos por mês (US$1.225). Outros 20% ganham entre 4 e 5 milhões (entre US$980 e US$1.225) e 17% ganham entre 3 e 4 milhões (entre US$735 e US$980).

Os 43% restantes disseram que ganhavam menos de 3 milhões de pesos (US$735) por mês. Para 4% destes, o jornalismo não gera qualquer rendimento econômico.

A realidade desses números é especialmente evidente em redações pequenas e independentes, disse Parra, que também é diretor da Rutas del Conflicto, um veículo de jornalismo de dados e de investigação sobre o conflito armado na Colômbia.

"É muito frequente ver colegas que estão trabalhando em veículos desse tipo, veículos menores e de nicho que estão sofrendo muito para conseguir financiar seus veículos e seus salários", disse.

Há também uma disparidade de gênero na remuneração dos jornalistas na Colômbia. A pesquisa mostrou que os homens não só tendem a ganhar mais que as mulheres, mas também a ter melhores condições de trabalho. Dos homens entrevistados, 25% têm contrato de trabalho permanente, enquanto entre as mulheres esse número cai para 19,1%. Os tipos de contratos mais comuns entre as mulheres entrevistadas são os de prestação de serviços e os contratos por prazo determinado.

Isso, segundo os autores, provoca maior instabilidade trabalhista para as jornalistas.

"É muito contraditório porque nas faculdades de comunicação e jornalismo a proporção [de alunos] é mais ou menos 60% de mulheres, 40% de homens, talvez até mais alta", disse García à LJR. "E acontece que é mais difícil para as mulheres entrarem no mercado de trabalho e, quando entram, entram em condições diferentes das dos homens."

Um sindicato fragmentado

Quando questionados com uma pergunta de múltipla escolha sobre quais fatores consideravam que poderiam melhorar as suas condições de trabalho, as respostas mais frequentes dos jornalistas entrevistados foram salários, melhores condições contratuais, jornadas de trabalho definidas e fornecimento de ferramentas para realizar o seu trabalho.

A opção menos popular foi ter representação coletiva perante os empregadores. Ou seja, os entrevistados não veem nos sindicatos ou associações profissionais uma forma de melhorar as suas condições de trabalho.

Para García, isso tem a ver com o fato de que, historicamente, a profissão do jornalista na Colômbia tenha sido fragmentada.

"Aqui as grandes marcas da mídia, os donos dos meios de comunicação, associaram-se com mais facilidade do que os próprios jornalistas", disse García. "E acredito que esta fragmentação é um ponto muito fraco para a própria profissão."

A Federação Colombiana de Jornalistas (Fecolper) é uma organização que reúne 31 associações de jornalistas e mais de 1.200 comunicadores e trabalhadores da mídia na Colômbia, de acordo com o site deles.

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O gráfico superior mostra os fatores que os jornalistas acham que poderiam melhorar suas condições de trabalho. O gráfico inferior mostra a proporção de jornalistas que desejam abandonar a profissão. (Foto: D. García, P. Morales e O. Parra, sob licença CC BY-NC 4.0)

Em uma pesquisa de 2020 sobre as condições de trabalho dos jornalistas colombianos, a Fecolper constatou que a taxa de sindicalização dos jornalistas é muito baixa. Apenas 1,5% dos entrevistados fazem parte de um sindicato. Uma porcentagem maior pertence a organizações profissionais, mas não a sindicatos, de acordo com o relatório da pesquisa.

A Fecolper indicou que, portanto, a negociação coletiva das condições de trabalho dos jornalistas na Colômbia é quase inexistente.

"Parece que a saída ou uma das saídas é a negociação individual e não coletiva", disse García. "O próprio jornalista não vê na sindicalização e no trabalho coletivo uma forma de defesa, como tem acontecido em outros países latino-americanos, como o Brasil ou a Argentina."

Parra disse que, embora existam várias associações e organizações de jornalismo na Colômbia, a maioria se concentra em melhorar o exercício da profissão, mas pouco fazem pela situação trabalhista de quem a exerce.

"Na Colômbia, não se consolidou um sindicato ou associação que trabalhe especificamente nas condições de trabalho", disse Parra. "As pessoas sentem que se falarem em sindicalização, a empresa irá automaticamente olhar mal para elas. Ou pode ser muito perigoso, porque em várias áreas do país há muitos sindicalistas assassinados."

Entre 1973 e 2019, mais de 3 mil sindicalistas colombianos foram assassinados, segundo a Escola Nacional Sindical (ENS). Esta violência é um dos fatores que têm gerado a baixa popularidade e estigmatização dos sindicatos no país. Apenas 4,28% dos quase 20 milhões de trabalhadores colombianos pertencem a um sindicato, de acordo com o último censo da ENS.

"A ideia de sindicalização pode ser um dos fatores que nos permite melhorar alguns dos aspectos relacionados com as condições de trabalho de quem exerce o jornalismo", disse à LJR Jonathan Bock, diretor executivo da Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP). "No entanto, devemos também compreender por que falharam repetidamente as tentativas que procuraram reconstruir esses laços de união, que foram em grande parte quebrados pela guerra e pela violência, e também pela proximidade com interesses políticos".

Os diretores do Proclama del Pacífico, um grupo de mídia do departamento de Cauca, no sudoeste da Colômbia, acreditam que, embora a união dos jornalistas num sindicato forte e organizado fosse muito útil, existem outras formas de melhorar as condições de trabalho da categoria.

Embora o grupo seja afiliado à Corporación de Periodistas del Pacífico, uma organização subsidiária da Fecolper, seu diretor, Alfonso Luna, disse que os jornalistas e os meios de comunicação onde trabalham poderiam ter uma abordagem mais proativa na defesa de suas condições de trabalho.

"É essencial que os próprios jornalistas e as suas organizações tomem a iniciativa de criar oportunidades e gerar valor através do seu trabalho. A chave é fortalecer as organizações jornalísticas, transformando-as em verdadeiras empresas que ofereçam serviços de qualidade e gerem renda para seus associados", disse Luna à LJR. "Desta forma, a situação trabalhista dos jornalistas pode ser melhorada a partir de dentro, sem depender exclusivamente da ação sindical".

Luna disse que o Proclama del Pacífico está trabalhando para construir um modelo organizacional que permita aos jornalistas se desenvolverem profissionalmente, gerarem uma renda digna e defenderem seus direitos, a fim de alcançar uma melhoria real e sustentável nas condições de trabalho de seus funcionários.

Dos dados à ação

A precariedade trabalhista, a violência e a estigmatização sofridas pelos jornalistas na Colômbia está criando cada vez mais espaços sem acesso a notícias de qualidade no país, disseram García e Parra. Esta situação poderá piorar se, como indicou a sua pesquisa, mais jornalistas decidirem abandonar a profissão para melhorar a sua qualidade de vida.

"A falta de informação já existe em muitos locais onde não há meios de comunicação, não há jornalistas. Como outras organizações já mencionaram anteriormente, são desertos de notícias", disse García. "Sendo pessimista, acredito que isto continuará a se acentuar na medida em que não há condições dignas para exercer o jornalismo e estes fatores não jornalísticos continuem a influenciar o tipo de jornalismo que é feito em certos lugares e regiões."

García disse que tanto o sindicato dos jornalistas como a indústria da mídia, o Estado e a academia devem tomar medidas para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores da imprensa.

A group of journalists from Colombian media group Proclama del Pacífico engaging in a discussion inside a radio studio.

O grupo de mídia Proclama del Pacífico, de Cauca, Colômbia, busca criar um modelo organizacional que permita aos jornalistas gerar uma renda digna e melhorar suas condições de trabalho. (Foto: Cortesia do Proclama del Pacífico)

"Temos que passar da descrição e compreensão do fenômeno à ação", disse García. "Acho que temos que continuar nos aprofundando e unindo esforços para fazer estudos sistemáticos com certa periodicidade para ver também como as situações mudam, se tendem a piorar ou melhorar."

García disse que no ano passado eles compartilharam os resultados da sua pesquisa com o Ministério do Interior com a intenção de que fossem levados em conta na criação da nova política pública de proteção da prática jornalística que o governo colombiano planeja construir.

A pesquisa da Universidad de Rosario foi eleita a Melhor Pesquisa Docente na última entrega do Prêmio Nacional de Jornalismo do Círculo de Jornalistas de Bogotá, em 7 de fevereiro.

Traduzido por Marta Szpacenkopf
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