Por Lorenzo Holt
A série de investigação jornalística transnacional “Império das Cinzas” sobre o tráfico ilegal de cigarros na América do Sul foi anunciada como ganhadora do Prêmio Global Shining Light no dia 10 de outubro.
Composta por uma equipe de cinco jornalistas da América Latina, a série documentou o aumento do contrabando de cigarros, o elemento que mais se comercializa ilegalmente em algumas partes da América do Sul, e em particular, no Paraguai. A investigação durou cinco meses.
“Paraguai tinha 3 fábricas de cigarros em 1993. Hoje [2014] tem 32. A maioria está na fronteira para facilitar o contrabando para o Brasil”, segundo uma das matérias, “Um negócio de Estado”.
A Rede Mundial de Jornalismo Investigativo (GIJN na sigla em inglês) entregou este prêmio que busca “honrar o jornalismo de investigação realizado em um país em desenvolvimento ou em transição, produzido sob ameaça, coação, ou em piores condições”, de acordo com a GIJN. “Império de cinzas” compartilhou o primeiro lugar com “Alianças Profanas”, outra série de investigação sobre o crime organizado e a corrupção em Montenegro.
“Os Prêmios Global Shining Light nos demonstram que a chama do jornalismo investigativo continua viva, inclusive nas circunstâncias mais difíceis”, disse a jurada do prêmio Sheila Coronel, citada pela GIJN. “Desafiando riscos e ameaças, jornalistas decididos continuam pedindo prestações de contas ao poder. Os ganhadores mantêm os mais altos padrões de jornalismo de investigação”.
Esta série investigativa na América Latina implicou o rastreamento de contenedores, viagens a zonas de fronteira, a indagação de 60 empresas diferentes “e conseguiu demonstrar que o tráfico de cigarros paraguaios na chamada tríplice fronteira (Paraguai, Brasil e Argentina) superou o volume do de coca e está a ponto de superá-lo em valor”, segundo o jornal El Tiempo.
A equipe que trabalhou no projeto foi formada por Mauri König, Albari Rosa e Diego Antonelli do jornal brasileiro Gazeta do Povo; Martha Elvira Soto Franco do El Tiempo da Colômbia; e Ronny Rojas, jornalista da Costa Rica.
As reportagens cobrem tudo, desde as rotas de tráfico, as medidas tomadas pela polícia, uma operação policial onde se apreendeu contrabando no valor de US$2 milhões, além de um grau de participação do governo. Em um dos artigos da série, chamado “Um negócio de Estado”, os jornalistas apontaram que o presidente paraguaio Horacio Cartes teria um papel central neste comércio. Os jornalistas alegaram que a empresa de Cartes está indiretamente envolvida no financiamento de grupos violentos como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e os paramilitares. A série também explorou a atitude do governo do Paraguai diante das políticas contra o contrabando.
“O contrabando no Paraguai é um problema quase ancestral, uma forma de vida”, disse o Vice-ministro de Comércio paraguaio, Pablo Cuevas, segundo a Gazeta do Povo.
A série “Império de cinzas”, publicada em abril de 2014, serve como um exemplo do jornalismo investigativo transnacional que aumentou sua popularidade em todo o mundo nos últimos anos.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.