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Jornalistas latino-americanos são destaque em campanha do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade

Por Daniel Guerra

Muitos jornalistas latino-americanos foram destaque como parte do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade, campanha de um mês do International Freedom of Expression Network (IFEX) que conta como jornalistas, ativistas de direitos humanos e artistas de todo o mundo foram violentamente silenciados por sua defesa da liberdade de expressão. A campanha será celebrada nesta sexta feira, 23 de novembro.

Ela objetiva aumentar a consciência sobre o que descreve como uma cultura de impunidade, que "existe quando aqueles que procuram controlar a liberdade de expressão dos outros fazem isso sabendo que é improvável que eles sejam responsabilizados por suas ações."

"No IFEX nós narramos violações à liberdade de expressão. Vemos jornalistas, blogueiros, artistas, pessoas cujos direitos estão sendo violados e são forçados a viver com medo, na cadeia ou no exílio, todos os dias. Embora um Dia Internacional não seja a solução, é a oportunidade de levantar uma voz global em conjunto para exigir às autoridades que assumam a responsabilidade e ponham fim às violações", disse o diretor-executivo do IFEX, Annie Game, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Entre as ferramentas desenvolvidas para promover a campanha estão um site, um vídeo curto e23 perfis de jornalistas e ativistas de direitos humanos do mundo todo contando histórias sobre os diferentes tipos de ameaças que eles enfrentam de outras pessoas ou do governo de seus países. IFEX destacou os casos dos quatro jornalistas da América Latina a seguir:

A jornalista colombiana Jineth Bedoya Lima foi sequestrada e estuprada em 2001 durante uma investigação sobre uma suposta rede de tráfico de armas em uma prisão colombiana que envolvia a participação de funcionários do governo e membros do grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC).

Em um artigo de 2011 escrito pelo Atlantic, Bedoya descreveu os perigos que jornalistas mulheres enfrentam. Ela contou sua experiência de ser torturada e estuprada por três homens, que depois a abandonaram em um lixão ao lado da estrada. A falta de ação das autoridades colombianas obrigou Bedoya a apelar por justiça para o seu caso na Comissão Inter-Americana, em Washington, DC.

"Antes havia o risco - sempre temos medo de algo nos acontecer quando cobrimos uma situação de conflito, mas agora eu tenho o medo adicional do que pode acontecer comigo por ser mulher, especificamente a vulnerabilidade do que pode acontecer para o meu corpo, porque eu sou uma mulher ", disse Bedoya ao Atlantic.

Lydia Cacho é uma importante jornalista mexicana investigativa que foi forçada a deixar o país em agosto de 2012, após receber ameaças pela publicação de seu livro, "Escravidão Inc.: a história não contada de tráfico sexual internacional". Cacho também havia sido vítima de sequestro, em 2005, depois de suas investigações sobre uma rede de pedofilia que envolvia vários políticos e empresários mexicanos. A Suprema Corte do México negou provimento ao caso em razão da insuficiência de provas.

"As pessoas às vezes se aproximam para me dizer que sou uma heroína", contou Cacho em uma entrevista para a ONG Anistia Internacional. "Mas não sou uma super-mulher... Me dou conta de que ainda vivo em uma cultura de impunidade e que os prêmios em uma parede não podem me proteger".

O escritor e ativista de direitos humanos guianense Freddie Kissoon foi demitido de seu cargo como professor da Universidade de Guyana - um centro educativo estatal-, e atualmente está sendo processado em uma ação que pede 40 mil dólares de indenização por difamação, interposta pelo ex-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo. Kissoon escreveu, em 12 de agosto, uma coluna de opinião para a publicação Kaieteur News em que fala sobre um incidente no qual lhe atiraram excrementos humanos, e descreve a maneira como sua esposa perdeu o trabalho em uma empresa estatal. Kissoon afirma que estas ações são represálias por suas críticas contra o governo.

"Eu sou um ativista de direitos humanos, como tantos outros. Escrevo sobre temas que o governo não vê com bons olhos. Mas há analistas governistas em toda a Guiana e não vejo a oposição os atacando ou assediando", escreve Kissoon em seu artigo.

A jornalista e cartunista política Rayma Suprani começou a receber ameaças após publicar várias caricaturas no jornal venezuelano El Universal criticando as políticas do governo de Chávez. Os partidários do mandatário fizeram dela um alvo no Twitter, onde criaram a hashtag #RaymaApátrida para publicar ameaças e insultos contra ela.

Em uma entrevista com a revista digital Sampsonia Way, Suprani descreve a maneira como critica o regime de Chávez em seus desenhos mesmo sem desenhá-lo nas charges.

"Tenho sido ameaçada por chavistas, mas o governo não os castiga por suas ações, ja que os apoia", disse Suprani. "Às vezes é difícil expressar as coisas, mas o compromisso do caricaturista é sempre com os leitores e com os fatos".

O Dia Internacional pelo Fim da Impunidade, que começou em 2011, marca o aniversário do massacre de Ampatuan nas Filipinas, onde 46 pessoas, entre elas 32 jornalistas e trabalhadores da mídia foram assassinados em 23 de novembro de 2009. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificou o massacre como o dia mais mortífero para os jornalistas desde que começaram a monitorar as estatísticas, em 1992. Vários eventos -incluindo alguns em México, Guatemala e Venezuela- foram realizados por conta da data, para prestar homenagens aos profissionais mortos e exigir justiça contra esses crimes.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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