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Jornalistas paraguaias denunciam assédio sexual e moral no Grupo Albavisión

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  • 22 agosto, 2022

Por Víctor M. Rodríguez

"O trabalho nos meios de comunicação se desenvolveu durante décadas dentro de um código predominantemente machista", disse Yimmi Peralta, diretora do Sindicato da Imprensa do Paraguai, à LatAm Journalism Review (LJR), a respeito do assédio no trabalho sofrido por jornalistas e trabalhadoras da imprensa no Paraguai e das demissões injustificadas quando elas denunciaram o fato.

Muitas das vozes das jornalistas e trabalhadoras ainda são reféns do medo de falar, enquanto coletivos de imprensa e organizações que trabalham pela liberdade de expressão e pelos direitos das e dos trabalhadores estão se mobilizando por justiça.

Uma das vítimas e denunciante das reiteradas situações de assédio no grupo Albavisión aponta para uma rede de cumplicidade entre os membros da alta administração do meio. Ela não quis dar seu nome por medo de novas represálias. Ela lamentou que a empresa não estivesse presente na audiência no Ministério do Trabalho em 5 de agosto, "o que mostra claramente a falta de intenção da empresa de enfrentar e solucionar estas situações", argumentou.

Um grupo próximo às 20 trabalhadoras do grupo em questão tem se organizado para escrever e apresentar suas denúncias para pôr um fim a "uma prática naturalizada" nas redações, onde "jornalistas, produtoras, editoras e outras trabalhadoras têm sido sistematicamente expostas a situações de violência e assédio", disse Noelia Diaz, ex-secretária geral do Sindicato de Jornalistas do Paraguai (SPP, na sigla em espanhol).

Santiago Ortiz, secretário geral do SPP, disse à LJR que "estes atos, além de violar os direitos humanos e trabalhistas destas trabalhadoras, provocam uma deterioração das relações democráticas dentro da sociedade", uma vez que impactam diretamente "na credibilidade da mídia".

Ortiz tem acompanhado as vítimas neste trabalho de contenção, mas também de solidariedade ativa do sindicato, "porque, no Paraguai, mesmo que uma pessoa não seja membro de um sindicato, o sindicato toma para si as denúncias que violem ou ameacem os direitos dos trabalhadores onde o sindicato tem presença, como no caso de Albavisión", explicou o dirigente sindical.

Albavisión é um conglomerado de mídia com presença em 14 países da região e forma um dos três grupos de mídia mais importantes do Paraguai, onde administra meios como Paravisión, o canal SNT, C9N, e o canal regional Sur TV.

LJR tentou obter um comentário de Albavisión, mas não recebeu uma resposta oficial. Entretanto, um executivo que deseja permanecer anônimo porque não está autorizado a falar oficialmente em nome da empresa foi enfático ao salientar que: "Sob minha vigilância uma denúncia tão séria não ficará impune".

Protest signs in Spanish outside a newsroom in Paraguay.

(Foto: Cortesia da Rede de Mulheres Jornalistas do Paraguai)

A redação como o epicentro da agressão

No Sindicato "temos trabalhado em um esboço de protocolo para receber e canalizar denúncias de assédio, uma vez que é necessário criar segurança para as vítimas ao oferecer apoio legal ou sindical", disse Peralta, executiva do SPP.

Vários grupos de imprensa têm denunciado a "negligência com que as denúncias contra os agressores foram tratadas", disse Peralta. Segundo estimativas, à luz destas denúncias, a violação dos direitos das trabalhadoras da imprensa tem um histórico lamentável que poderia ser facilmente rastreada há uma década.

Em 30 de julho, a Rede de Mulheres Jornalistas e Comunicadoras do Paraguai exigiu "a intervenção imediata do Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência Social", e pediu "sanções contra esta empresa que não só encobre assediadores, mas também pune as mulheres que tomaram a decisão de denunciá-los".

Ao mesmo tempo, expressaram sua solidariedade "com as colegas demitidas do C9NParaguay, do Canal 5 de Paravisión e do Sistema Nacional de Televisión Paraguay em clara represália pelas denúncias feitas após numerosas situações de assédio sexual e trabalhista", comentaram fontes da Rede de Mulheres Jornalistas nas redes sociais.

Assédio a comunicadoras: um segredo aberto

Segundo a jornalista Noelia Díaz Esquivel, é contraditório que por um lado "nos peçam para denunciar a violência a que estamos sujeitas, mas depois nos castiguem por falarmos".

"As situações de assédio no Canal 9 e C9, ambos canais pertencentes ao grupo Albavisión, vêm ocorrendo há muito tempo, mas as jornalistas e trabalhadoras da imprensa nunca ousaram denunciá-las", disse Díaz Esquivel à LJR.

"Em 19 de maio, um grupo de quatro jornalistas decidiu denunciar o que estava acontecendo em seus locais de trabalho", lembrou Díaz Esquivel. "A partir daí, iniciou-se um processo de acompanhamento e preservação de suas identidades para evitar a estigmatização, pois quando uma mulher denuncia, as mulheres são apontadas como as responsáveis.”

As denúncias foram apresentadas ao Ministério do Trabalho, que tem um departamento específico para a proteção das mulheres trabalhadoras, e também foi apresentada uma denúncia criminal, que em teoria está atualmente sendo investigada pelo Ministério Público.

Embora Díaz Esquivel tenha dito que no início elas enfrentaram certas limitações para poder divulgar o que estavam passando, meios locais como o ABC expôs o tema com manchetes como "Aumenta o número de jornalistas vítimas de assédio sexual em dois canais de televisão", enquanto o Última Hora manchetou "Após alegações de assédio sexual de jornalistas, grupo de mídia anuncia medidas".

Superar a fraca sindicalização ajudaria a evitar o assédio

O Sindicato dos Jornalistas do Paraguai repudiou este tipo de prática e a impunidade dos perpetradores, ao mesmo tempo em que considerou "uma prioridade canalizar as denúncias, para que estes conflitos, muitas vezes considerados pessoais ou privados, tenham apoio coletivo para a proteção e apoio das vítimas", disse Peralta.

Como detonante desta problemática, tanto as vítimas como as organizações sociais e jornalísticas apontam que "o machismo continua sendo predominante na sociedade paraguaia e a naturalização do assédio continua a ser um fantasma que nunca desaparece no contexto do trabalho de imprensa", reconheceu Peralta à LJR.

A precariedade como norma

"Quanto mais precarizado for o trabalho de uma mulher e quanto mais necessário for o seu emprego, mais provável é que esses casos ocorram, e as respostas ineficazes do Estado levam à impunidade e ao subsequente silêncio das vítimas", disse Peralta.

Díaz Esquivel, ex-secretária geral do SPP, consultada pela LJR, afirmou que "nenhuma dessas moças tinha estabilidade no emprego. Elas tinham menos de 10 anos [no cargo], que é o que um trabalhador tem que ter aqui para ter estabilidade no emprego".

Esta realidade revelou questões cruciais como a precarização trabalhista e a falta de garantias básicas para o desenvolvimento saudável da profissão. A legislação trabalhista paraguaia garante estabilidade após 10 anos no mesmo emprego, antes dos quais podem ser aplicadas demissões injustificados.

Embora cada país seja livre para estabelecer suas próprias normas trabalhistas, existe uma clara disparidade na consideração da estabilidade, pois no Peru considera-se que um trabalhador atinge este status após cinco anos e no Uruguai após 90 dias.

Os trabalhadores do consórcio Albavisión Paraguay explicaram às autoridades do Grupo Albavisión em sua sede em Miami o que estão vivenciando, mas "até agora não houve resposta dos diretores ao pedido de um relatório ‘sobre os atos de violência no local de trabalho’, solicitado pela Câmara de Senadores do Congresso Nacional", enfatizaram as vítimas.

As vítimas permanecem firmes em suas denúncias, exigindo que suas reivindicações sejam tratadas com dignidade, que sejam investigadas e que seja feita justiça, mas também que os mecanismos que garantem a não repetição de eventos como os experimentados por essas trabalhadoras sejam adaptados e atualizados.

"Nosso direito humano básico a um espaço de trabalho adequado e saudável foi violado, mas também experimentamos uma falta de sensibilidade em relação ao que nos aconteceu", lamentaram as vítimas consultadas pela LJR.

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