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Jornalistas venezuelanos se mudam para a rede com aumento da pressão do governo sobre veículos críticos

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  • 14 outubro, 2014

Por Dylan Baddour

O aumento na pressão sobre os veículos de comunicação na Venezuela nos últimos anos vem forçando jornalistas críticos ao governo a buscar refúgio na rede. A transição estimulou a criação de pequenas publicações online e mudou a forma como os venezuelanos, especificamente os oposicionistas, compartilham e recebem informação.

“Outros países falam da transição dos meios impressos à internet como um processo evolutivo. Não tem sido assim na Venezuela,” Luis Carlos Díaz, jornalista venezuelano e guru de novos meios, contou ao Centro Knight. “Na Venezuela (a transição) foi feita por meio de uma crise, por uma via traumática. O jornalismo se voltou à rede porque era o único lugar onde podia sobreviver.”

A oferta diversa de meios online na Venezuela foi alcançada graças a uma ferramenta de valor inestimável usada para curadoria de informação para o público: Twitter, acrescentou Díaz.

Com 4,2 milhões de usuários venezuelanos, a plataforma se tornou crucial para o jornalismo do país porque permite ao público buscar as notícias que eles acreditam ser importantes, e promovê-las entre seus seguidores.

“Não são os meios noticiosos que informam a maioria dos jovens,” disse Díaz. “É a informação curada que seus amigos compartilham nas redes sociais.”

Os meios de oposição ao governo foram em sua maioria eliminados da televisão e dos jornais nos últimos anos, despertando preocupação sobre o estado da liberdade de imprensa na Venezuela. É notável o número de importantes diários e emissoras de televisão que mudaram de proprietários em anos recentes, o que ocasionou o abandono do jornalismo crítico ao Estado. Outras estações de televisão foram fechadas com argumentos jurídicos, e a escassez nacional de papel dificultou a operação de importantes jornais nacionais.

Díaz acrescentou que muitos venezuelanos já não confiam nas notícias produzidas pelas emissoras de televisão.

Como resultado do aumento da pressão aos meios na Venezuela, muitos jornalistas optaram por mudar seu trabalho para a rede. Um exemplo é Alberto Ravell, jornalista e ex-diretor executivo do canal de televisão Globovisión. O canal abandonou sau linha editorial crítica depois de ser vendido em 2013. Ravell deixou a estação e fundou LaPatilla.com, agora considerada como o site de notícias mais popular da Venezuela. Como resultado, acrescentou Díaz, La Patilla é a maior organização do país que opera só online, depende muito de agregação, mas publica mais conteúdo que qualquer outro site de notícias.

Outro exemplo é Runrun.es, fundado por Nelson Bocaranda, um repórter venezuelano que foi forçado a abandonar os meios mais influentes após receber ameaças como resposta a seu trabalho. Bocaranda, que agora tem quase dois milhões de seguidores no Twitter, com só seis publicações da América Latina que ultrapassa esse número, costumava dirigir um programa de rádio chamado “Los Runrunes de Nelson.” A palavra runrún é o equivalente na Venezuela a rumor.

Agora, em seu site, Runrun.es, participam jornalistas que se encontram em uma situação similar, incluindo ao menos três ex-repórteres de Últimas Noticias, o jornal mais importante da Venezuela, depois de mudar de proprietários em 2013.

Pequenas publicações online apareceram para preencher os diversos nichos do jornalismo venezuelano. Por exemplo, Prodavinci.com não produz reportagens originais, mas oferece análise por parte de historiadores, científicos, filósofos e outros acadêmicos. Confirmado.com.ve adotou uma variante do modelo de verificação de dados que ganhou popularidade mundial recentementeContrapunto.com e El Estímulo são pequenas publicações online fundadas este ano que buscam produzir reportagens originais sobre eventos nacionais, mas que ainda têm que desenvolver uma audiência massiva, de acordo com Díaz.

“Nós não sabemos como se sustentam, mas têm jornalistas profissionais,” disse Díaz. “Eles estão publicando sua própria informação e estão apostando em outros tipos de desenho.”

Contudo, em um país onde a política permanece extremamente polarizada, os novos meios na Internet não conseguem manter distância entre ser meio de oposição e de situação. Os simpatizantes do governo ainda confiam nos jornais e estações de televisão que os jornalistas críticos abandonaram, afirmou Díaz.

“Ainda não ocorreu que uma só publicação consiga falar e ter a confiança de ambas as metades do país,” concluiu Díaz.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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