Por Olívia Freitas*
O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, criticou, nesta segunda-feira (14), a atuação jornalística na cobertura do STF. Segundo ele, a imprensa é monotemática e despreparada para cobrir a pauta.
Barbosa participou da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na PUC-Rio até terça (15). A mesa "Brasil - avanços e retrocessos instituições" também contou com a presença do professor da Universidade do Texas e diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, Rosental Alves, e do colunista da Folha de S.Paulo Fernando Rodrigues.
“Sinto falta de uma cobertura com especialização e profissionalismo. Não vejo repórteres com astúcia de descobrir um grande fato jornalístico nas entrelinhas”, opinou. Para ele as pautas são obsessivas pelo Mensalão.
Censura prévia
O ministro se apresentou contra a proibiçāo de biografias não autorizadas. Mas considera que indenizações mais pesadas devem ser aplicadas aqueles que violam os direitos dos biografados. O tema entrou em pauta após uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo que mostra que os músicos Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo Carlos se uniram a Roberto Carlos para evitarem que biografias aos seus respeitos sejam publicadas sem autorização.
“Não há censura prévia no Brasil. Da mesma forma que a constituição protege a liberdade de expressão, protege outros direitos, a intimidade, a privacidade, a honra e a reputação de todos em pé de igualdade”, explicou. “Alguém pode alegar que seu direito está sendo violado”, completou. Barbosa acredita que há um conflito constitucional e que fica a cargo do juiz a decisão para algum dos lados.
Para o ministro do STF, a liberdade de expressão deveria ser assegurada em todos os casos. “O ideal seria liberdade total de publicação, mas cada um assume os riscos e responder financeiramente por isso”, opinou. Ele aponta como solução a liberação para uso de domínio público após 10 anos da morte do biografado.
O jornalismo brasileiro
Barbosa voltou a falar sobre a situação dos negros nas redações. Segundo ele, há pouquíssimos negros em cargos de lideranças em empresas jornalísticas. “É preciso de um plano nas redações jornalísticas por parte de quem tem o poder decisório, os proprietários, os diretores de redação, as pessoas que tem o poder de recrutar. Os recrutadores não resolverão, porque a descriminação racial é algo instintivo”, considerou.
O ministro também criticou o jornalismo online. Para ele, a plataforma tem levado uma baixa qualidade de informação à população. Também falou da falta de pluralidade na imprensa escrita. “É necessário aumentar a diversidade política e ideológica no âmbito da imprensa escrita que possa abarcar as mais diversas formas de pensamento sem silenciar ou marginalizar essa ou aquela posição indesejável”, opinou.
O grande desafio atual do jornalismo é aprofundar a ética na conduta profissional e a pluralidade diante dos desafios atuais, é o que acredita Barbosa. “A imprensa tem dito um papel importantíssimo no aprimoramento das instituições e na conscientização brasileira”, disse.
“O jornal investigativo brasileiro presta um enorme serviço ao público, ocupa o espaço deixado pela falta de institucionalidade de algumas de nossas instituições”, acredita Barbosa. Porém, para ele, o jornalista informa, mas não presta o serviço social cobrando resultados e dando continuidade à pauta. Criando dessa maneira uma falsa expectativa na população que as autoridades estão dando continuidade ao assunto.
Questionado se a responsabilidade maior não seria das instituições apurarem e penalizarem após as denúncias jornalísticas, disse que não há dúvidas. “Porém, em um país como o nosso, os problemas da falta de funcionalidade do sistema político e as múltiplas interferências levam à acomodação”, respondeu.
Sobre entrar na carreira política e ser candidato à presidência, o ministro disse que pensará nisso quando deixar o judiciário. "Nunca cogitei a política, sempre tive uma carreira técnica. O dia em que eu deixar o STF eu ainda terei tempo para refletir sobre isso. No momento, não tenho nenhuma intenção de me lançar candidato a presidente, mas pode ser que no futuro isso mude", admitiu.
*Olívia Freitas é aluna de jornalismo do 4° ano na faculdade São Judas Tadeu.
Esta matéria foi publicada originalmente no site oficial da Conferência Global de Jornalismo Investigativo.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.