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Várias preocupações e busca de diversificação de receita: previsões do Instituto Reuters para o jornalismo em 2023

A indústria jornalística vem enfrentando desafios constantes há anos e 2023 parece não ser uma exceção. A guerra na Ucrânia, as consequências econômicas da pandemia, o impacto das mudanças climáticas e os avanços da inteligência artificial abriram o caminho e levantaram preocupações sobre a sustentabilidade de alguns meios de comunicação.

O relatório  "Journalism, media and technology: Trends and predictions for 2023" (“Jornalismo, Mídia e Tecnologia: Tendências e Previsões para 2023”), escrito pelo jornalista Nic Newman e publicado pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo (RISJ na sigla em inglês), lança luz sobre o que o setor pode esperar em 2023. Os resultados são baseados em uma pesquisa com 303 líderes de meios (CEOs, editores, chefes digitais e de inovação, entre outros) de 53 países, realizada durante os últimos meses de 2022.

Jornalistas de Equador, Costa Rica, Nicarágua, Venezuela, Uruguai, México, Brasil e Colômbia fazem parte da amostra. A seguir, a LatAm Journalism Review (LJR) resume os aspectos mais relevantes do relatório.

Principais preocupações

Segundo o relatório, as maiores preocupações dos líderes de meios para 2023 estão ligadas ao aspecto econômico: aumento de custos, menor interesse dos anunciantes, estagnação das assinaturas e demissões para reduzir despesas.

Em termos de dados, 72% dos entrevistados estão preocupados com o aumento do número de pessoas que evitam as notícias. Por esse motivo, os meios planejam combater essa tendência com conteúdo explicativo (94%), formatos de perguntas e respostas (87%) e histórias inspiradoras (66%).

Além disso, outra preocupação dos trabalhadores de meios é a possível promulgação de mais leis para restringir conteúdos "nocivos" nas redes sociais porque isso, por sua vez, poderia afetar a publicação de notícias que não seriam do agrado dos governos. Mais de 50% estão preocupados com o uso de leis para atacar a liberdade de expressão.

Diversificar as fontes de renda

Em termos de receita, o relatório ressalta que em 2023 será importante que os meios contem com várias fontes de renda diferentes.

Uma delas é a receita das assinaturas. E apesar de que a maioria dos entrevistados espera um crescimento no número de assinaturas neste ano, o foco será reter os assinantes existentes, mais do que adicionar novos assinantes.

Além das plataformas pagas, a fonte de renda que mais tem crescido nos últimos tempos é o financiamento de plataformas tecnológicas. Um terço dos entrevistados afirma que a receita por licenças de conteúdo ou inovação é hoje uma importante fonte de renda. Isso se refere, por exemplo, a pagamentos feitos por empresas como Google e Facebook a diversos meios para venda de conteúdo.

No entanto, muitos desses acordos não serão renovados em 2023. Além disso, os negócios de publicidade de empresas como Amazon, Apple, Microsoft e TikTok estão crescendo rapidamente, competindo assim diretamente com os meios jornalísticos.

Uso de redes sociais

Em relação ao uso das redes sociais, a atenção está se centrando cada vez mais no TikTok. O relatório do Instituto Reuters mostra que cerca de metade dos principais meios publica conteúdo no TikTok regularmente, apesar dos supostos conflitos de segurança (sobre os dados dos usuários) que acompanham o uso do aplicativo, devido a sua origem chinesa.

O Facebook e o Twitter, por sua vez, estão deixando de ser prioridade. No caso do Twitter, por causa da chegada de Elon Musk como CEO e proprietário, e do possível fechamento da plataforma. Cerca de 51% dos entrevistados disseram que a possível perda ou enfraquecimento do Twitter seria prejudicial para o jornalismo.

Uma plataforma que está surgindo como alternativa é o LinkedIn, porque permite a criação de newsletters e recursos de assinatura.

Mais valores jornalísticos e especialização

De acordo com o relatório do Instituto Reuters, em 2023 os meios estarão mais focados na qualidade de seu jornalismo e na sua missão como comunicadores. Por isso, o jornalismo de soluções e o jornalismo construtivo parecem ganhar cada vez mais força.

Questões como a guerra na Ucrânia e a emergência climática têm levado a uma busca cada vez maior por especialização em temas específicos. Por exemplo, sobre o tema das mudanças climáticas, 49% dos entrevistados afirmam ter criado equipes especializadas para reforçar a cobertura, e um terço contratou mais pessoal.

Os entrevistados também disseram que durante 2023 vão alocar mais recursos para podcasts e áudio digital, assim como para newsletters. Esses formatos têm demonstrado aumentar a fidelidade do usuário às marcas. Também investirão mais em formatos de vídeo digital.

Inovação

Em termos de inovação, a inteligência artificial (IA) vem sendo experimentada em produtos jornalísticos. As ferramentas de IA para transcrição já são comuns nas redações e ferramentas como MidJourneyDALL-E agora estão sendo usadas para gerar ilustrações para artigos e postagens em redes sociais.

Da mesma forma, o ChatGPT se tornou um dos maiores avanços da Internet porque com ele os computadores criam não apenas palavras, mas também imagens, vídeos e até mundos virtuais a partir de solicitações simples. Resta saber como ele será usado no jornalismo e o que isso significará.

Pouca esperança

Embora menos da metade dos entrevistados se sinta otimista sobre o que vai acontecer em 2023, pelo menos eles acreditam que estão sendo desenvolvidos os produtos certos.

Além disso, a percepção é de que existe um processo claro para melhorar e otimizar os produtos existentes (54%) e uma cultura de aprender com os erros (52%).

“Os próximos anos serão definidos não pela rapidez com que adotaremos o digital, mas pela forma como transformaremos nosso conteúdo digital para atender a um público cujas expectativas mudam rapidamente”, diz o relatório. “Ao mesmo tempo, o jornalismo precisará dar ênfase a suas qualidades humanas e a seu histórico como disseminador de conteúdo confiável se quiser se destacar em meio à enorme quantidade de meios automatizados e sintéticos que ameaça sobrecarregar o público na internet.”

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