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Mulheres jornalistas fazem manifestações por direitos iguais e contra violência de gênero na América Latina

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, milhares de mulheres, incluindo jornalistas, tomaram as ruas das principais cidades do México, Brasil, Argentina e Chile.

No México, em um protesto massivo sem precedentes segundo a imprensa do país, jornalistas de vários veículos,  muitas como parte do coletivo Periodistas Unidas Mexicanas (Jornalistas Mexicanas Unidas), aderiram à marcha de 8 de março para protestar contra a "mídia macho" e o assédio sexual e trabalhista que enfrentam em seus empregos, segundo a revista mexicana Proceso.

Etiqueta contra os #MediosMachos no México

Etiqueta contra os #MediosMachos no México

“Hoje, #8M2020, as jornalistas protestam contra a violência que é exercida contra nós todos os dias pelo simples fato de sermos mulheres. E, em particular, contra os #MediosMachos que nos discriminam em suas redações e em seu conteúdo”, publicou o coletivo em sua conta no Twitter.

Em seu comunicado, o coletivo exigiu salários iguais de seus empregadores salários iguais por trabalhos de igual valor, paridade em coberturas e nos conselhos editoriais e atenção imediata ao assédio sexual e trabalhista que elas enfrentam no exercício de sua profissão como mulheres jornalistas no México.

Durante a marcha, algumas jornalistas presentes foram atacadas. Segundo a agência espanhola EFE, homens desconhecidos jogaram pó de extintor de incêndio e um gás não identificado nos rostos de duas jornalistas na Cidade do México.

De acordo com a agência, a marcha de 8 de março reuniu mais de 80.000 pessoas. A maioria das mulheres usava roupas lilás como representação de seu gênero e exigia justiça para as mulheres assassinadas no país diante da crescente onda de feminicídios. Segundo dados oficiais, durante 2019 mais de mil mulheres foram assassinadas, publicou Telemundo.

Muitas jornalistas também aderiram à greve nacional de mulheres proposta para 9 de março, como #UnDíaSinEllas ou também #UnDíaSinMujeres. As redes sociais mostraram as redações quase vazias devido à ausência de mulheres jornalistas naquele dia.

Chile, Brasil, Argentina, entre outros países da região, também participaram do #UnDíaSinMujeres, embora em menor número. Para alguns, como a Argentina, 9 de março foi o segundo dia de protestos.

Argentina

Na Argentina, os protestos de 8 de março foram amplamente liderados pelo movimento #NiUnaMenos contra a violência de gênero, em prol da legalização do aborto e da inclusão de uma perspectiva de gênero, segundo o El País.

 Marcha por el 8M en Paraná, Entre Ríos, Argentina - Justicia por Fátima Acevedo (Paula Kindsvater / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0))

Marcha por el 8M en Paraná, Entre Ríos, Argentina - Justicia por Fátima Acevedo (Paula Kindsvater / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0))

A marcha massiva teve duas cores, o lilás, que caracteriza o movimento feminista, e verde para a luta pela independência do corpo da mulher.

Várias agremiações de jornalistas, entre outros grupos de direitos humanos, assinaram uma declaração publicada no portal argentino Página 12.

“Exigimos a licença por violência de gênero em nossos empregos e pessoal especializado para implementá-las sem impedimentos. Também exigimos a ratificação da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), contra a violência no mundo do trabalho”, afirmou o comunicado. "Pare o assédio sexual e a violência de gênero".

Brasil

As manifestações no Brasil também foram numerosas e em várias partes do país, mas principalmente em grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, segundo a mídia nacional.

De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os principais problemas enfrentados pelas mulheres jornalistas no Brasil são o assédio moral e sexual nas redes sociais.

Desde o início de março, segundo Fenaj, a comissão de mulheres da federação convocou todas as jornalistas do Brasil a participar de uma série de atividades agendadas para o dia 8 de março em seus estados e municípios.

"Diante dos recentes ataques sexistas, machistas e misóginos, decidimos nomear o dia 9 de março como o Dia da Luta de Mulheres Jornalistas, convidando os profissionais a usarem lilás e a se unirem à luta pela dignidade", afirmou. Samira de Castro, vice-presidente da Fenaj, em 8 de março.

Segundo um relatório da Fenaj publicado em janeiro de 2020, os ataques a jornalistas e a mídia no Brasil aumentaram 54% em 2019 em comparação a 2018. Mais da metade dos ataques veio do presidente Jair Bolsonaro.

“Diante dos recentes ataques sexistas, machistas e misóginos, resolvemos chamar o 9 de março como o Dia de Luta das Mulheres Jornalistas, conclamando as trabalhadoras a vestirem lilás e incorporarem a luta por dignidade e respeito”, disse Samira de Castro, vice-presidente da Fenaj, em 8 de março.

Segundo um relatório da Fenaj publicado em janeiro de 2020, os ataques a jornalistas e a meios de comunicação no Brasil aumentaram 54% em 2019 em comparação a 2018. Mais da metade dos ataques veio do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Em 10 de março, o grupo Jornalistas contra o Assédio fizeram um tuitaço contra o assédio sexual, com a hashtag #MulheresJornalistasEmLuta, segundo o Catraca Livre. Foi um dia de tweets a favor dos direitos à igualdade de gênero e contra o assédio de mulheres jornalistas.

“O ataque contra elas, como observado de maneira cada vez mais violenta nos últimos meses e endossado também por agentes públicos detentores de mandato, representa uma tentativa de silenciamento que não é prejudicial somente à liberdade de imprensa, garantida pela Constituição Brasileira, mas, sobretudo, para o direito de informação do cidadão”, disse o coletivo.

Chile

Um milhão de pessoas foram às ruas nas principais cidades do Chile em 8 de março, embora os protestos tenham sofrido forte repressão policial, conforme reportado pelo Perfil.

Etiqueta para #MediosNoSexistas no Chile

Etiqueta para #MediosNoSexistas no Chile

Sobre a manifestação pelos direitos das mulheres, o Colegio de Periodistas de Chile falou sobre a diferença salarial, a violência de gênero e o assédio sofrido por mulheres jornalistas no país, publicou o site chileno Edición Cero.

Muitas agremiações de jornalistas chilenas, como a Red Periodistas Feministas de Chile, Mujeres En el Medio, entre outros, se juntaram para exigir #MediosNoSexistas. As jornalistas demandaram melhores práticas jornalísticas, sem discriminação ou estereótipos de gênero e violência, de acordo com comunicados publicados no Twitter.

Segundo o relatório mais recente da Relatoria para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), "Mulheres jornalistas e liberdade de expressão", os assassinatos e a violência contra mulheres jornalistas aumentaram em todo o mundo. Isso se manifesta de diferentes maneiras, "desde assassinato, violência sexual, incluindo assédio sexual, até intimidação, abuso de poder e ameaças baseadas no gênero", afirma o relatório.

"A violência contra as mulheres é praticada por diferentes atores, como funcionários do Estado, fontes de informação ou colegas, e ocorre em vários contextos e espaços, incluindo nas ruas, locais de trabalho e escritórios ou instituições do Estado", afirmou.

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