Por Ingrid Bachmann
O resgate dos 33 mineiros no Chile prometia ser o grande evento da semana, e foi. O reencontro com os mineiros presos por 69 dias a 700 metros abaixo do solo concentrou a atenção do mundo inteiro, com transmissões de TV ao vivo e constantes atualizações na internet, diz a agência italiana ANSA. Estima-se que 1 bilhão de pessoas tenham acompanhado a operação pela televisão.
O evento também gerou interesse nas redes sociais, com um nível de expectativa e emoção comparado à chegada do homem a Lua, à visita do Papa João Paulo II à Polônia, aos momentos pós-queda do muro de Berlim, e ao resgate da missão Apolo 13.
Foi o que o observador de mídia note americana Howard Kurtz chamou de ”um episódio de TV perfeito”, com um toque de perigo e um “esperado final feliz”. Capas de jornais do mundo todo anunciaram a notícia vitoriosa do resgate. Com mais jornalistas que familiares abarrotando o acampamento Esperanza — o refúgio temporário junto à mina —, o elevado perfil midiático da operação praticamente paralisou o país e foi acompanhado por milhões de pessoas na Europa, na Ásia e pelo resto do mundo.
”Isso é mais do que uma história, é um evento global”, disse Yuen Ying Chan, professor da Universidade de Hong Kong, citado pela CNN Internacional. “Não apenas tem um forte componente humano, mas também envolve um grande número de pessoas, tem suspense e está relacionado a temas de vida e morte que, em última instância, atraem a curiosidade das pessoas”.
Uma equipe oficial do governo, a cargo de transmitir o resgate, teve acesso a zonas restritas para o resto dos meios de comunicação, e as imagens feitas por ela estão disponíveis para canais chilenos e estrangeiros. Segundo La Tercera, as autoridades avaliaram a possibilidade de não transmitir o resgate ao vivo, mas, finalmente, o presidente Sebastián Piñera decretou que o episódio fosse transmitido diretamente e deu instruções para que não fossem exibidas imagens da deterioração física dos mineiros.
O governo chileno mantém uma galeria oficial dos mineiros no Flickr (com detalhes em inglês). A transmissão oficial conta com oito câmeras e uma equipe de produção de 45 pessoas, encabeçada por Reynaldo Sepúlveda, um conhecido diretor de televisão, reportou El Mercurio. Diante do receio de uma exposição excessiva dos mineiros e a midiatização de seu resgate, Sepúlveda assegurou que a transmissão não seria “um show” e que a cobertura seria muito cuidadosa.
O resgate tem sido "genuinamente emotivo "e até repórteres experientes choraram no momento da saída dos mineiros, disse Alessandra Stanley, do New York Times.
Diante da expectativa de assédio dos jornalistas, os mineiros já estabeleceram um acordo para coordenar suas aparições na mídia.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.