Por Samantha Badgen
Já são 65 os casos de violações à liberdade de expressão na Venezuela entre 11 de fevereiro e 1º de março, segundo o Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS). A organização publicou que desde que começaram os protestos em 12 de fevereiro, 69 jornalistas acabaram afetados pela situação. Entre as violações houve prisões agressivas e arbitrárias por agentes de segurança do Estado e ataques de manifestantes que simpatizam com o governo ou com a oposição.
As agressões mais recentes são as prisões em 28 de fevereiro da fotojornalista italiana Francesca Commissari enquanto cobria a repressão em um protesto e em 5 de março de Jesús Tovar, chefe de fotografia do diário Avance, e de um jornalista do Grupo Capriles, ambos detidos pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB) quando registravam um protesto em Miranda, Venezuela.
Segundo IPYS, muitos outros jornalistas nacionais e internacionais denunciaram terem sido vítimas de agressões e detenções arbitrárias por parte dos agentes do Estado venezolano. Entre estes estão os jornalistas da emissora CNN em Espanhol, que tiveram a permissão de trabalho no país revogada, e a TV colombiana NTN24, cujo sinal foi bloqueado durante as transmissões dos protestos.
Depois de revogar a permissão dos jornalistas da CNN, o presidente Nicolás Maduro ameaçou tirar a CNN do ar e exigiu uma retificação após acusar a cadeia de disseminar “propaganda de guerra” por passar imagens dos fatos violentos que ocorreram durante as manifestações por todo o país. Acrescentou ainda que CNN não é imparcial, e se nega a apresentar os “grupos violentos” que promovem a desestabilização do país e buscam derrubar o governo, publicou IPYS.
Também foram registrados casos de censura aos meios. Na semana passada, Twitter denunciou que as imagens publicadas em sua rede social estavam sendo bloqueadas na Venezuela pela Companhia Anônima Nacional de Telefones da Venezuela (CANTV), que pertence ao Estado e fornece serviços para cerca de 90% do país.
Os esforços do governo venezuelano para bloquear conteúdo online não é nada novo, já que em dezembro passado o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) publicou que o governo de Nicolás Maduro estava forçando os provedores de Internet a censurar conteúdo online. Justificando suas ações com a lei de mídia de 2004, sob a qual não se pode disseminar informação que possa gerar pânico na população, Maduro obriga os provedores a bloquear páginas onde se publica a diferença de câmbio entre o bolívar e o dólar no mercado negro, onde os preços são dez vezes maiores que o número oficial.
Além das agressões contra jornalistas e da censura aos meios, IPYS disse que houve ataques contra as sedes das companhias estaduais Comisión Nacional de Telecomunicaciones (Conatel) e Venezolana de Televisión, na qual uma trabalhadora um cinegrafista foram feridos a tiros.
Desde que começaram os protestos em 12 de fevereiro, já foram registradas 18 mortes e mais de 260 pessoas feridas. Os protestos se iniciaram como manifestações estudiantis realizadas contra “os altos índices de mortes por fatos violentos registrados no território nacional, a escassez de alimentos, remédios e outros insumos, e o elevado índice de inflação que gera altos custos de bens e serviços.”
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.