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Pesquisa sobre impactos da mudança climática no Uruguai alcança repercussão midiática e social

Pela primeira vez no Uruguai, uma equipe de cientistas e jornalistas analisou diferentes bancos de dados sobre a linha de áreas passíveis de inundação e o seu impacto na população e infraestrutura da costa de Montevidéu. O resultado foi a investigação "A cidade submersa", trabalho vencedor Prêmios Sigma 2023, que celebram o melhor do jornalismo de dados no mundo.

"A cidade submersa é jornalismo de dados executado com visão. O projeto de Amenaza Roboto (Ameaça Robô) é um ótimo exemplo de jornalismo como um gatilho para o bem, já que as descobertas da equipe provavelmente moldarão as políticas climáticas do Uruguai nos próximos anos. É também um esforço de dados que pode inspirar outras pessoas em todo o mundo a abordar o mesmo tópico da mesma maneira limpa e visualmente atraente”, disse o júri do Sigma Awards durante o anúncio da decisão em março.

A ideia de realizar esta investigação surgiu da mão de Miguel Ángel Dobrich, jornalista e diretor da Amenaza Roboto, e de Gabriel Farías, jornalista de dados e líder da Mesa de Projetos Especiais da Amenaza Roboto. Dobrich, que em 2022 fez parte do segunda grupo da Oxford Climate Journalism Network do Instituto Reuters da Universidade de Oxford, aproveitou para apresentar o projeto "A Cidade Submersa" no Concurso Aberto de Dados Climáticos do Ministério do Meio Ambiente do Uruguai onde obteve capital inicial para tornar sua visão uma realidade.

“Depois de intensas conversas sobre melhores práticas com jornalistas que admiramos, como Surya Mattu (anteriormente The Markup, líder do Digital Witness Lab do CITP da Universidade de Princeton) e Luis Melgar (repórter gráfico do The Washington Post), montamos uma equipe interdisciplinar e multicultural, formada por membros do Uruguai, Argentina e México, com quem trabalhamos em 'A cidade submersa'", disse Dobrich à LatAm Journalism Review (LJR).

Com esta investigação, a equipe da Amenaza Roboto, fundada em 2018 como uma plataforma dedicada ao jornalismo tecnológico e científico, inaugurou a sua unidade de jornalismo de dados e alterações climáticas.

a group of 8 people on a zoom call

"A cidade submersa é um esforço de dados que pode inspirar outras pessoas em todo o mundo a abordar o mesmo tópico da mesma maneira limpa e visualmente atraente”, disse o júri do Sigma Awards durante o anúncio da decisão .

“Escolhemos este tema porque nos parece relevante, e o jornalismo existe para servir ao público, às nossas comunidades... Estou convencido de que no 'Sul Global', as pequenas redações têm a oportunidade de cobrir temas que a grande mídia não pode", disse o jornalista.

 

Metodologia

 

A equipe final de “A Cidade Submersa” foi formada por Miguel Dobrich e Gabriel Farías junto com cientistas e tecnólogos de diferentes áreas: Natalie Aubet, geocientista e cientista de dados uruguaia; Nahuel Lamas, especialista argentino em imagens geoespaciais; Matilde Campodónico, fotógrafa uruguaia; e Antar Kuri, designer mexicano.

Segundo os seus responsáveis "A Cidade Submersa" foi realizada em quatro etapas: aquisição de dados, desenvolvimento de um banco de dados integrado, geração de mapas temáticos e narrativa. Entre os dados usados há os do Ministério do Meio Ambiente do Uruguai, do Instituto Nacional de Estatística (INE), do Ministério do Desenvolvimento Social, do Município de Montevidéu, entre outros. As superfícies de inundação foram extraídas do relatório Plano Nacional de Adaptação à Mudança Climática e Variabilidade das Zonas Costeiras do Uruguai (2021).

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A equipe de 'La ciudad sumergida' foi treinada por jornalistas, cientistas e especialistas em tecnologia de diferentes áreas. Foto: Cortesia.

“A infraestrutura e os dados demográficos foram georreferenciados usando o software ArcGIS e os dados adquiridos das fontes acima foram usados ​​para desenvolver um banco de dados integrado. Os resultados das análises realizadas nas etapas anteriores foram visualizados em mapas temáticos. Também foram usadas ferramentas de densidade de núcleo, de reclassificação raster e uma calculadora raster para esse fim”, explicou Dobrich. “Os mapas temáticos representam a interseção dos dados demográficos e de infraestrutura com as superfícies de inundação calculadas para o ano de 2100 a partir dos cenários RCP 8.5 para um período de retorno de 500 anos”, acrescentou o jornalista.

A parte técnica também foi integrada com entrevistas com cientistas e representantes de órgãos governamentais e revisão de informações públicas. O projeto e o conjunto de dados completo foram publicados em um repositório de dados aberto no GitHub.

 

Impacto

 

A cidade submersa, como explica a própria reportagem, é uma ferramenta que mostra os danos potenciais se não forem desenvolvidas estratégias de adaptação em todos os níveis da administração pública do Uruguai. A equipe da Amenaza Roboto acredita que, com o seu trabalho, pode exercer a capacidade de ação dos cidadãos e contribuir para o desenvolvimento de melhores políticas públicas.

Até o momento, a investigação teve um grande impacto social e na mídia, tanto local quanto internacionalmente.

Além da premiação do Open Climatic Data Contest e do Sigma Awards, vários noticiários de rádio e televisão locais ecoaram os resultados da investigação da Amenaza Roboto. Da mesma forma, os resultados da investigação também foram divulgados em formato podcast tendo bons números de reproduções.

Two men posing for a picture in a rural area

Miguel Dobrich e Gabriel Farías trabalhando na nova investigação que financia o Centro Pulitzer. Foto: Cortesia.

Segundo os autores, esse trabalho também serviu de base para que eles obtivessem uma bolsa do Centro Pulitzer para a realização de seu próximo projeto e tem servido de inspiração para jornalistas de outros países.

“Há dias fomos informados de que Visão Coop, uma ONG de uma das regiões mais pobres do Rio de Janeiro (Brasil) que utiliza jornalismo investigativo e dados abertos online para apoiar ações de desenvolvimento social, se inspirou em nosso trabalho e, como consequência disso, trabalharão com Nicole González (Stanford) e outros 'favela labs' de Pará, Pernambuco e Minas para criar um ‘mapa nacional de inundações’”, comentou Dobrich. "Mesmo sendo um otimista crônico, fiquei surpreso com o grande impacto social e midiático que nossa pesquisa teve... É a primeira vez que um time do Uruguai ganha um Sigma e isso nos enche de orgulho."

 

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