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Porcentagem de mulheres e pessoas negras liderando redações na América Latina está estagnada, segundo estudos do Reuters Institute

O Reuters Institute vem analisando a desigualdade de gênero e a porcentagem de pessoas negras na liderança das redações desde 2020. Os resultados não tên sido animadores.

De acordo com o estudo Women and leadership in the news media 2024: Evidence from 12 markets  (Mulheres e liderança em meios jornalísticos em 2024: evidências de 12 mercados ), as mulheres ocupam 24% dos 174 principais cargos de liderança nas 240 redações pesquisadas em quatro continentes. Esse número é dois pontos percentuais maior que o do ano passado, que foi de 22%.

No México, por exemplo, a cifra de mulheres em cargos seniores até 2024 é de apenas 6%, o mesmo que em 2020.

Outro estudo recente do instituto, Race and leadership in the news media 2024: Evidence from five markets (Raça e liderança em meios jornalísticos em 2024: evidências de cinco mercados), observa que a porcentagem de editores negros continua abaixo da porcentagem de pessoas negras nas populações dos países pesquisados (Brasil, Alemanha, África do Sul, Reino Unido e EUA).

Apenas 23% dos 75 principais editores das 100 marcas de mídia pesquisadas são negros.

No Brasil, como tem sido o caso nos últimos três anos, nenhum dos meios de comunicação da amostra usada no estudo tem uma pessoa negra como editora-chefe.

O futuro não parece mais promissor em termos de igualdade racial e de gênero.

De acordo com o Reuters Institute, projeções indicam que a paridade de gênero pode ser alcançada em 2074. No entanto, projeções mais cautelosas (levando em conta a porcentagem média de mulheres ao longo dos últimos cinco anos em dez mercados) indicam que, no ritmo atual, nunca haverá igualdade.

O mesmo se aplica à raça.

"Manter a diversidade racial e étnica em primeiro plano nas conversas do setor e nas redações, especialmente em tempos difíceis para as organizações jornalísticas, não acontecerá sem a intenção e o compromisso de fazer isso. Embora muitos continuem a se esforçar para isso, os dados mais recentes não deixam claro que está havendo mais progresso e há um risco real de se produza maior estagnação ou retrocesso", diz o relatório sobre raça e liderança.

Ambas as pesquisas do Reuters Institute foram conduzidas por Kirsten Eddy, Amy Ross Arguedas, Mitali Mukherjee e Rasmus Kleis Nielsen.

Baixo consumo de meios liderados por mulheres

O mapeamento de gênero dos cargos de liderança em meios jornalísticos foi realizado na África do Sul e no Quênia, na África; em Hong Kong, no Japão e na Coreia do Sul, na Ásia; na Finlândia, na Alemanha, na Espanha e no Reino Unido, na Europa; e nos Estados Unidos, no México e no Brasil, nas Américas.

No caso do Brasil, a porcentagem aumentou consideravelmente no último ano (de 13% para 23%). No entanto, o relatório esclarece que isso pode ser devido a uma atualização de seu conjunto de dados que afetou a codificação dos dados.

"Conseguimos encontrar informações adicionais/melhores este ano, o que nos levou a mudar a pessoa que havíamos identificado como diretor de um meio específico no Brasil (anteriormente um homem, que atualizamos com uma mulher). Como resultado, a codificação de gênero da liderança desse meio mudou, mas não porque houve uma mudança na liderança da organização, mas porque fizemos uma correção. Portanto, o aumento da porcentagem no Brasil deveu-se principalmente a isso e não ao fato de ter havido uma mudança recente na liderança", explicou Ross Arguedas à LatAm Journalism Review (LJR).

A América Latina continua a ter as menores porcentagens de usuários de notícias online que consomem informações de pelo menos um meio de comunicação liderado por uma mulher. O Brasil continua com 27% e o México caiu de 18% para 17% no último ano.

Finlândia, Coreia do Sul e África do Sul estão no topo, com mais de 70% cada.

"Menos da metade dos usuários acessou notícias de pelo menos um grande meio de comunicação liderado por uma mulher. A média nos 12 mercados é de 44%: isso é um pouco menos do que o número que registramos quando nossa pesquisa começou em 2020 (49% em dez locais)", afirma o relatório.

Sem causa clara

Os dados coletados por esses estudos nos permitem documentar a situação e as tendências ao longo do tempo, mas não determinar as causas, explicaram os pesquisadores à LJR.

A falta de progresso em termos de equidade "corrobora as preocupações expressas por alguns membros do setor de que as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) com foco em raça e etnia estão perdendo força e diminuindo os esforços para reduzir as disparidades entre homens e mulheres", diz o relatório sobre raça e liderança.

De acordo com Ross Arguedas, o problema da sub-representação em termos de gênero já existe entre jornalistas e é ampliado em cargos de liderança.

No caso da baixa porcentagem de mulheres em cargos de chefia, isso não pode ser atribuído apenas à falta de mulheres no jornalismo e é provável que existam barreiras adicionais que impeçam ou desencorajem as jornalistas a ocupar cargos de chefia editorial, de acordo com os pesquisadores.

"O que está claro é que a sub-representação de mulheres no topo de meios mexicanos que encontramos este ano não é uma anomalia, mas uma continuação do que encontramos nos anos anteriores", disse Ross Arguedas.

"Para provocar uma mudança em algo que parece ser a norma, seria necessária uma vontade expressa e um compromisso real da indústria e, no momento, não vemos nenhuma evidência disso", acrescentou ela. "Mudar essa tendência exigirá intenção e estratégia, internamente nas organizações e talvez em toda a indústria... Caso contrário, provavelmente continuaremos a ver mais do mesmo."

Traduzido por Carolina de Assis
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