A 82ª cerimônia, que neste ano será virtual, será seguida de um painel com os vencedores. Jornalistas da região estão convidados a se inscrever para o evento, que acontece nesta quarta-feira, 14 de outubro, às 20h (Brasília).
Dois repórteres investigativos, um fotojornalista independente e uma repórter veterana de rádio pública são os vencedores prêmios Maria Moors Cabot 2020, que homenageia jornalistas por sua “excelência na carreira e cobertura do Hemisfério Ocidental que promove o entendimento interamericano”, de acordo com comunicado da Columbia Journalism School que anunciou o resultado.
Os prêmios Cabot deste ano foram para Ricardo Calderón, Revista Semana, Colômbia; Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo, Brasil; Stephen Ferry, fotojornalista, Estados Unidos; e Carrie Kahn, NPR, Estados Unidos.
Cada vencedor receberá uma medalha de ouro e uma premiação de US$ 5.000. Os homenageados do Prêmio Cabot 2020 serão celebrados numa cerimônia virtual agendada para terça-feira, 13 de outubro, disse o comunicado.
"Numa época em que os jornalistas estão cada vez mais sob ataque por realizarem seu trabalho, o apoio global a uma imprensa livre e ao fluxo livre de informações nunca foi tão importante," disse o presidente de Columbia, Lee C. Bollinger, no comunicado à imprensa. “Em nome de toda a Universidade, ofereço aos medalhistas do Prêmio Cabot deste ano meus parabéns e minha gratidão pelo trabalho corajoso e incansável na cobertura das notícias da América Latina e do Caribe.”
Campos Mello foi descrita como uma “repórter investigativa destemida [que] está na linha de frente cobrindo as notícias e buscando a verdade há mais de duas décadas,” pela Columbia Journalism School. A instituição mencionou seu trabalho de investigação sobre profissionais de saúde que tratam de pacientes com Ebola, Zika e agora COVID-19, bem como seu trabalho em zonas de guerra. Seu trabalho, afirmou a Columbia Journalism School, teve um grande impacto no Brasil, mas Mello também enfrentou assédio e ameaças depois que publicou uma série de reportagens sobre o suposto esquema financeiro para eleger o presidente de Jair Bolsonaro no Brasil, e ela também foi alvo ataques verbais de Bolsonaro.
“Nos momentos difíceis em que o jornalismo independente está sendo atacado no Brasil e em outros países das Américas, o Conselho Maria Moors Cabot homenageia Patrícia Campos Mello como um excelente exemplo de jornalista profissional que continua fazendo seu trabalho diante das adversidades. Não há democracia sem Patrícias, sem imprensa livre”, dizia o comunicado do prêmio.
"É uma grande honra receber o prêmio Maria Moors Cabot, e eu o recebo em nome de todos os jornalistas brasileiros, especialmente mulheres jornalistas, que estão enfrentando campanhas sistemáticas de intimidação no Brasil. Esse prêmio nos força a continuar investigando e cumprindo nosso dever, agindo como um cão de guarda", disse Campos Mello à LatAm Journalism Review.
Em 25 anos de carreira, Calderón se estabeleceu como um dos principais jornalistas investigativos da Colômbia. Suas reportagens levaram à remoções de cargo de agentes públicos, detenções e ações judiciais, diz o comunicado. A Columbia Journalism School destacou suas denúncias de corrupção, desde oficiais militares levando vidas luxuosas terem sido presos por crimes contra a humanidade a funcionários da inteligência por espionagem ilegal.
“Por seu trabalho corajoso, Calderón foi repetidamente atacado e recebeu sérias ameaças de morte. Em 2013, ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato depois que assaltantes não identificados atiraram em seu carro fora de Bogotá. Nesta era de saturação das mídias sociais, Calderón continua a cultivar um perfil discreto, publicando suas investigações anonimamente”, afirma o comunicado.
“Este prêmio é uma imensa honra, e nós da Revista Semana somos muito gratos aos jurados e ao prêmio por esse reconhecimento, que levamos como uma exaltação a todos os repórteres do país, especialmente nas regiões onde eles fazem reportagens diariamente de maneira anônima, que ajudam a comunidade,” disse Calderón à LJR.
O trabalho de fotojornalismo de Ferry, que se estende por mais de 30 anos, tornou-se "modelos de fotojornalismo imersivo", conforme descrito pela Columbia Journalism School. A instituição destacou seu trabalho documentando a exumação do massacre de El Mozote em El Salvador, publicado no The New York Times e na The New Yorker. Suas imagens foram publicadas no National Geographic e The Wall Street Journal, entre outros. Ele é professor da Fundação para um Novo Jornalismo Ibero-Americano.
“Ao longo de seu impressionante corpo de trabalho, a fotografia de Ferry revela um olhar quase poético para as tensões inerentes ao cotidiano de pessoas forçadas a viver à beira da resistência humana, onde a violência e o conflito parecem sempre prestes a entrar em erupção,” disse o comunicado do prêmio.
“Estou emocionado por receber o prêmio Maria Moors Cabot 2020. Eu respeito muito o trabalho dos outros vencedores e sinto orgulho de estar em sua companhia”, disse Ferry à LJR. "Este prêmio ajuda a promover a comunicação entre as Américas, o que é especialmente importante no momento em que políticos e mídias sociais costumam traficar em estereótipos que estigmatizam a América Latina."
Kahn trabalha como correspondente internacional da NPR com sede no México há oito anos e trabalha na rádio há quase uma década, relatando histórias do México e do Caribe. A Columbia Journalism School escreveu sobre sua dedicação e compromisso com a cobertura da região. Eles destacaram sua cobertura no Haiti depois de ser a primeira jornalista a chegar à ilha após o terremoto de 2010, bem como suas reportagens sobre a violência no México, turbulência política e migração.
O comunicado também falou sobre sua cobertura de mexicanos que foram sequestrados ou assassinados pelos capangas de El Chapo quando o nome dele estava nas manchetes, e sobre as reportagens sobre refugiados da América Central que enfrentaram graves perigos ao atravessar o México para os Estados Unidos.
“Ela registrou a angústia dos pais separados dos filhos e as esperanças frustradas dos deportados. Por meio do imediatismo do áudio, a reportagem de Kahn revela a América Latina a milhões de ouvintes americanos”, disse o comunicado do prêmio.
Nota do editor: Rosental Alves, fundador e diretor do Centro Knight de Jornalismo nas Américas, faz parte do Conselho do Prêmio Cabot.