Dias após o depoimento de uma testemunha em um julgamento nos Estados Unidos apontar para os filhos de um traficante mexicano no assassinato do jornalista Javier Valdez, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse à viúva do repórter que o governo apoiará a investigação sobre sua morte.
O jornalista Javier Valdez foi morto em Sinaloa, no México, em 15 de maio de 2017.
“Eu pedi à Secretaria de Governo que a atenda pessoalmente, que lhe dê todas as informações que temos, que converse com ela e que ela tenha a segurança plena de que vamos apoiar toda a investigação, tudo que é nossa parte e que quando ela quiser estar aqui conosco e se expressar, apareça, as portas estão abertas para ajudá-la”, disse o líder em uma entrevista coletiva em 25 de janeiro. Ele acrescentou que a Secretaria tem um relatório privado para apresentá-la.
Griselda Triana, viúva de Valdez, pediu que nenhuma linha de investigação fosse descartada no caso do assassinato.
“Não importa para mim de qual organização criminosa a ordem veio, o que importa para mim é que isso é muito claro, e também que o Procurador Geral, agora o novo Procurador Geral da República, faça seu trabalho, aprofunde suas investigações, que seja [uma investigação] muito rigorosa, muito exaustiva e determine quem deu a ordem para matar Javier”, disse ela. "É muito claro que eles o mataram por seu trabalho, porque não gostaram do que foi publicado."
Olga Sánchez Cordero, a secretária de Governo, disse que todas as linhas de investigação seriam exploradas.
Em 15 de maio de 2017, Valdez, cofundador do jornal Ríodoce, foi arrastado de seu carro e recebeu vários disparos de arma de fogo a apenas alguns quarteirões de seu local de trabalho. Ele reportava sobre o tráfico de drogas em Sinaloa e escreveu vários livros sobre o assunto.
Dois dias antes das declarações do presidente, durante o julgamento nos EUA do traficante mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán, a testemunha Damaso López Nuñez, também conhecido como El Licenciado, disse que os filhos de El Chapo mataram Valdez porque ele publicou uma entrevista depois de eles terem desautorizado a publicação, de acordo com a AFP.
O repórter "desobedeceu as ordens ameaçadoras dos filhos de meu compadre e é por isso que eles o mataram", disse López, segundo a agência de notícias.
A entrevista em questão foi com López Nuñez, em que ele negou o conteúdo de uma carta exibida no programa de outro jornalista, informou El Universal. Na carta, os filhos de Guzmán acusaram López Nuñez de tentar matá-los, disse o jornal.
Segundo López Nuñez, Ríodoce recebeu ordens para não publicar a entrevista, mas o fez assim mesmo.
Sobre o conhecimento de Guzmán dos supostos acontecimentos, López Nuñez disse: “A verdade é que talvez meu compadre não soubesse, mas agora ele sabe”, segundo El Universal.
As declarações da testemunha foram feitas depois que o advogado de defesa perguntou se ele ou seu filho tinha algo a ver com o assassinato de Valdez e ele negou, conforme relatado pelo jornal El Universal.
El Universal informou que havia relatos apontando para ele como o assassino por causa de uma reportagem crítica a seu filho.
López, que disse que começou a trabalhar para Guzmán em 2001, foi sentenciado à prisão perpétua nos EUA por tráfico de drogas, segundo a Reuters. Ele está cooperando no julgamento de Guzmán na esperança de que sua sentença seja reduzida, disse ele, segundo a agência de notícias.