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Site argentino de checagem de declarações públicas faz campanha para levantar financiamento por crowdfunding

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  • 23 setembro, 2014

Por Dylan Baddour

Em uma paisagem de mídia digital saturada e em rápida evolução, discernir a verdade da falácia tem se mostrado um desafio para os leitores, especialmente no caso do discurso do governo. Em resposta a uma demanda crescente por notícias confiáveis ​​e precisas, a prática de checagem dos fatos surgiu para permitir que os jornalistas mantenham os funcionários públicos responsáveis ​​por suas declarações.

Exemplo desse tipo de operação, o projeto argentino Chequeado (espanhol para “checado”), está iniciando um esforço que busca financiar seu trabalho por crowdsourcing. Com mais de 66 mil seguidores no Twitter, o website está usando as redes sociais e outras formas de campanhas online para obter o financiamento necessário para distanciá-los de grandes doadores. Em vez deles, Chequeado quer indivíduos, aqueles aos quais estão procurando servir no seu trabalho, para financiar a sua checagem dos fatos.

A diretora-executiva do Chequeado, Laura Zommer, diz que a checagem de fatos representa um retorno ao básico do jornalismo, onde qualquer pessoa pode usar ferramentas on-line disponíveis para combater a desinformação.

“"As lideranças não vão parar de usar fatos estrategicamente - todo mundo vai usar os fatos para contar a história que lhe sirva mais. Isso não vai mudar", disse Zommer ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. "Agora, a comunidade pode optar por não tolerar esta trapaça intelectual, quando os governantes dizem o que querem."

A verificação de fatos não é algo novo, mas Chequeado procura agora o apoio do público para financiar seu trabalho. Quando mais de 50 grupos de todo o mundo se reuniram na Global Fact-Checking Summit do Instituto Poynter, em Londres em junho passado, Chequeado foi apresentado como um estudo de caso devido às suas fontes únicas e diversificadas de receita. Em 2013, estima-se que 37% do rendimento de sua equipe de oito pessoas vieram de pequenos doadores.

É um sucesso que tem sido amplamente atribuído a uma abordagem feita CEO Laura Zommer, que foi contratada em 2012 com o objetivo de fazer Chequeado independente de seus fundadores, que lançaram o site com patrimônio pessoal em 2010. Na entrevista com o Centro Knight, Zommer disse que não quer simplesmente substituir grandes doadores por outros grandes doadores.

A maioria dos sites de checagem de fatos representados no Summit do Poynter depende de financiamento de filantropos, grupos de mídia ou empresas seguindo diretrizes de responsabilidade social corporativa. Tais doadores podem inesperadamente revogar o financiamento, ressaltou Zommer, o que é um risco da dependência de tais fontes, mas este tipo de apoio também levanta questionamentos de muitos leitores sobre sua influência potencial na elaboração de reportagens.

Na Argentina, onde o campo da política é fortemente polarizado e governistas e opositores confiam em mídias partidárias, a checagem de fatos independente de grandes doadores carrega o potencial de impactar positivamente a percepção pública da mídia e suas reportagens.

“Isso torna o Chequeado legítimo para ambos os lados”, afirmou Zommer. “Quando postamos um ‘falso’ para a presidente, a oposição usa e divulga isso. Quando colocamos um ‘verdadeiro’ para a presidência, então os ministros e os apoiadores do governo usam a informação.”

Desde 2010, o site vem ganhando força por toda a Argentina, e Zommer afirma políticos citam as checagens e as pessoas começaram a usar o website como um verbo – perguntando pelo Twitter se declarações oficiais foram“chequeadas”.

Operações de checagem de fatos tiveram efeitos semelhantes em outros lugares. PolitiFact, fundado em 2007, foi um dos primeiros a chamar maior atenção à prática, especialmente quando se tornou uma franquia nacional nos Estados Unidos em 2010.

“A checagem de fatos tem sido uma força disruptiva na política americana", disse o fundador do PolitiFact, Bill Adair, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. "Os políticos costumam citar as nossos checagens e muitas vezes tomam mais cuidado com o que dizem, porque sabem estamos observando."

No ano passado, o laboratório Laboratório de Repórteres da Universidade de Duke, que opera atualmente sob a direção de Adair, começou a compilar um banco de dados de operações de checagem de fatos e encontrou 44 organizações atualmente ativas em todo o mundo.

“Nossa pesquisa mostra que a checagem de fatos está crescendo e fortalecendo democracias por todo o mundo”, contou Adair. “Nós encontramos sites de checagem em alguns lugares improváveis como a Ucrânia, onde os checadores estão oferecendo às pessoas informação vital contra a desinformação política e a propaganda.”

Na América Latina, alguns projetos recém-lançados de checagem de fatos vêm de O Globo e Agência Pública no Brasil, La Silla Vacia na Colômbia, El Observador no Uruguai, e Polígrafo no Chile.

Chequeado tem feito uma campanha de crowdfunding muito no estilo do desafio do balde de gelo. Sob a hashtag #NoMandenFruta (literalmente “não mandem fruta”, uma expressão local para "sem conversa fiada"), usuários das redes sociais postaram vídeos deles próprios comendo um limão e indicando um amigo. A ideia, segundo Zommer, é aumentar a consciência sobre a importância do papel do público na manutenção de funcionários responsáveis.

“Neste momento, existem organizações na Argentina que trabalham com crowdfunding, mas elas são em sua maioria relacionadas a assuntos ecológicos, trabalhando com baleias e florestas. Essas são mais dóceis do que os nossos problemas", disse Zommer. "Não existe uma cultura [na Argentina] de organizações apoiadas publicamente que trabalhem com prestação de contas públicas. Estamos mudando isso.”

Até agora, o site já arrecadou mais de 5 mil dólares de 97 doadores através de uma campanha de crowdfunding do IndieVoices, com mais 7 dias para atingir a meta de 10 mil dólares e um total de 200 doadores.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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