Tudo começou em Medellín, Colômbia, no Festival Gabo. Em 2018, jornalistas das revistas Mongólia da Espanha, El Chamuco do México e Barcelona da Argentina, sentados na mesma mesa, falaram em gargalhadas e depois com mais seriedade sobre como iniciar uma Aliança Satírica International. A oportunidade veio mais tarde com a pandemia e a onda de notícias falsas em torno do novo coronavírus.
"Acreditamos que o coronavírus é o grande tema de nossa era e que deve ser tratado por todos os gêneros jornalísticos existentes, incluindo a sátira", disse Pere Rusiñol, sócio e cofundador da Mongólia, ao Centro Knight.
No final de abril, a International Satírica lançou sua primeira publicação conjunta, "Kit de sobrevivência: Máscaras para todos e todas", incluindo a revista satírica chilena The Clinic no grupo.
"Nesse caso, pensamos que se nós, que zombamos de tudo, continuarmos fazendo isso, mas levando a sério como as máscaras podem ajudar, alguns que são naturalmente irreverentes e desconfiam de tudo o que emana do poder (incluindo nós mesmos) também vão levar isso a sério”, disse Rusiñol.
A iniciativa de produzir um especial com textos e gráficos sobre o uso de máscaras durante a pandemia foi proposta pelo humorista gráfico argentino Javier Rodríguez, conhecido como El Niño Rodríguez, segundo Rusiñol.
“El Niño Rodríguez, um humorista gráfico que colabora com a Mongólia e a Barcelona, sugeriu que nós fizéssemos algo para levar as máscaras a sério e nos ocorreu que era a primeira coisa tangível a compartilhar, já que o El Niño já está colaborando com duas das revistas. E também propusemos à Clinic, porque para nós sempre foi uma referência", disse Rusiñol.
Rodríguez disse ao Centro Knight que propôs a questão do uso de máscaras nas ruas durante a pandemia, porque encontrou muitas contradições entre o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse e vários estudos que recomendavam o uso.
"Os governos já estavam pedindo esse 'lockdown', ... e eu entendi que a máscara era um meio de parar o contágio e também um meio de interromper a quarentena", disse Rodríguez. "As máscaras justamente nos permitiam cuidar da vida e continuar a economia... E me parecia necessário divulgar essa idéia", acrescentou.
O especial sobre máscaras explica, com informações gráficas, escritas e humorísticas, por que elas são necessárias neste momento, sejam cirúrgicas ou caseiras, e quais países rapidamente exigiram seu uso e que efeitos positivos isso teve na mitigação do contágio do vírus e no desconfinamento de seus cidadãos.
O especial foi publicado simultaneamente nos sites da Mongólia, El Chamuco, The Clinic e Barcelona às 18h, horário espanhol, em 29 de abril. O diretor de arte da Mongólia Fernando Rapa Carballo fez o design e o layout, e Rusiñol editou os textos de El Niño Rodríguez , que também ilustrou o especial.
"Temos um público cativo, colecionadores da revista, mas ela não vai além de 4.000, 5.000 cópias vendidas, com certeza, em todo o México, mas fomos capazes de agitar [a publicação] nas nossas redes sociais mais fortes", disse Rafael Pineda, editor do El Chamuco, ao Centro Knight.
"Neste momento, é essencial usar as melhores ferramentas para se comunicar durante essa 'infodêmia' que estamos enfrentando", afirmou Pineda.
Segundo Pineda, a sociedade está sendo o objeto dessa dinâmica de divulgação de notícias falsas e, no México, as principais pessoas afetadas por esse "infodêmia" da pandemia de COVID-19 são o pessoal de saúde e serviços de saúde. "Particularmente no México, isso está acontecendo de uma maneira lamentável e grotesca, e é claro que precisamos apontar isso".
O que a sátira traz "é uma visão alternativa para entender as notícias", disse Fernando Sánchez, editor de Barcelona, ao Centro Knight.
“Em Barcelona, o nosso material de trabalho é a notícia; de fato, nós somos jornalistas, não humoristas. Satirizamos o discurso da mídia que define a agenda e que constitui ou representa um poder real além daqueles que estão circunstancialmente no governo. Nesse sentido, se ficarmos na calçada do outro lado da rua e através do absurdo e da caricatura, daremos nosso ponto de vista. O fato de ser engraçado é uma consequência, mas não necessariamente uma busca deliberada”, afirmou.
Para Pineda, é "muito comprovado" que a sátira chega às pessoas de maneira mais eficaz. “É uma excelente maneira de quebrar o gelo entre as pessoas, o humor sempre abre portas. Nós temos isso claro, é um trabalho que tentamos desenvolver e usar para informar, explicar, enunciar, para tudo isso que as caricaturas políticas, a sátira política servem”.
Por exemplo, a sátira torna possível fazer piada das notícias falsas, dos políticos que espalham essas notícias falsas, acrescentou Pineada, "como Trump e Bolsonaro, ou todos aqueles que têm uma enorme responsabilidade social, política e econômica, e acho que temos que usar a sátira, então, para evidenciar isso".
Para que a mídia sobreviva à crise econômica que se arrasta há anos com a queda da publicidade e que piorou exponencialmente devido à atual pandemia, novos formatos, associações e apoios devem ser tentados, segundo Fernando Sánchez, editor de Barcelona. "A imprensa gráfica está em crise, a mídia que nasceu no papel deve se reconfigurar se quisermos sobreviver", disse Sánchez.
“Unir esforços nesse sentido nos parece crucial: compartilhar experiências, idéias, projetos para nos mantermos. Em tempos de redes sociais em que há muito conteúdo "humorístico" gratuito e, em muitos casos, conteúdo amador, precisamos ver como fazer nosso trabalho valer com propostas sustentáveis e atraentes", disse Sánchez.
A International Satírica ainda não tem uma data para uma segunda publicação conjunta, mas eles esperam que em breve surjam mais iniciativas que mantenham a união.