Mais um jornalista foi morto em Quintana Roo, se tornando o terceiro profissional de mídia a ser assassinado no estado mexicano nos últimos dois meses. Os motivos por trás de sua morte ainda não estão claros, mas jornalistas e organizações de mídia estão pedindo às autoridades que explorem todas as linhas de investigação possíveis.
O jornalista Javier Rodríguez Valladares (28), cinegrafista do time de notícias do Canal 10, em Cancún, no estado de Quintana Roo, foi morto a tiros na rua, enquanto conversava com outra pessoa, que também morreu, segundo vários meios de comunicação nacionais.
O jornalista José Chan Dzib, do semanário Weekly Playa News, que cobria questões policiais e havia anteriormente recebido ameaças, foi morto a tiros em 29 de junho, no município de Felipe Carillo, na véspera das eleições gerais no país. Rubén Pat Caiuch, diretor do Playa News, foi morto em 24 de julho em frente a um bar em Playa del Carmen. Pat tinha proteção do governo por ter sido anteriormente agredido por policiais. Os ataques foram resultado de suas reportagens sobre o crime organizado em sua cidade.
O procurador-geral do Estado de Quintana Roo informou que a execução de Rodríguez e seu companheiro aconteceu por volta de 18 horas em 29 de agosto e que os fatos já são investigados, de acordo com o Animal Político.
Jornalistas locais e correspondentes criticaram as conclusões do procurador-geral de Quintana Roo por imediatamente descartar que a morte de Rodríguez foi causada por seu trabalho, publicou o La Silla Rota.
"De maneira preliminar, sabemos que o cinegrafista estava fora de seu horário de trabalho e sem uniforme, então, por enquanto, sua morte é descartada como um ataque direto à liberdade de expressão", disse a instituição em um comunicado.
Nahum Patiño Arbea, diretor de investigação e acusação da área norte do escritório da procuradoria-geral do Estado de Quintana Roo disse, em um vídeo transmitido pelo Facebook, que Rodríguez estava no local onde o crime aconteceu a convite da outra pessoa que também foi assassinada. "Nós sabemos que essa outra pessoa tem investigações abertas há muito tempo e estamos as verificando com diferentes autoridades", disse Patiño.
Segundo o CPJ, Rodríguez não recebeu qualquer ameaça e o veículo de comunicação para o qual trabalhava também não está incluso em qualquer programa de proteção federal. No entanto, em outubro de 2017, o prédio da sede do canal foi baleado diversas vezes por pessoas desconhecidas, segundo relatou o CPJ.
"O assassinato de Javier Enrique Rodríguez Valladares perpetua uma série de ataques mortais contra jornalistas neste ano em Quintana Roo, estado que até recentemente não era um dos mais perigosos lugares para jornalistas no México", disse a representante do CPJ no México, Jan-Albert Hootsen.
O jornalista Germán Espiridión, diretor da página de notícias El Balcón no Facebook e colega de Rodríguez desde que trabalharam juntos na Televisa, disse lamentar a morte de seu colaborador e amigo, e afirmou que Rodríguez era muito talentoso, trabalhador e amado pelos amigos.
"Cancún está no meio de uma onda incontrolável de violência que nenhuma autoridade foi capaz de deter. Mais de 360 pessoas foram executadas até agora neste ano. Exigimos, não como mídia, não como jornalistas, não como comunicadores, mas como cidadãos de Cancún, que os fatos sejam esclarecidos", disse Espiridión.
O conselho consultivo da Comissão de Direitos Humanos de Quintana Roo emitiu uma declaração na qual lamentou profundamente o assassinato de Rodríguez Valladares e descreveu a morte do terceiro jornalista no estado neste ano como inaceitável, já que o jornalismo é um exercício fundamental para a democracia.
"É importante enfatizar que a violência não deve ser normalizada e que toda perda humana como resultado disso deve ser enfaticamente levada à justiça através de nossas instituições", disse o documento.
Profissionais de comunicação agendaram uma marcha em Cancún hoje às 18 horas para exigir o fim da violência e ataques contra a liberdade de expressão em Quintana Roo, de acordo com o site Quequi.
Emmanuel Colombié, chefe do escritório da América Latina para os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) disse que este foi o oitavo assassinato de um jornalista no México em 2018. Ele enfatizou que "o novo governo deve perceber a urgência da situação e dar um fim ao ciclo vicioso de violência, fornecendo à mídia proteção efetiva e duradoura."