Por Tim Rogers, autor convidado
Na primeira vez que minha mulher me enviou uma mensagem instantânea no Facebook, para perguntar se eu queria sair para almoçar, percebi, com uma nostalgia hesitante, que estávamos prestes a cruzar outra fronteira rumo à era da comunicação digital. Eu estava em frente ao meu computador, no escritório de casa, e minha mulher, a 20 passos de mim, no sofá, com o laptop dela. Eu poderia (talvez, eu deveria) ter me virado para ela e dito: “sim, querida, vamos caçar sanduíches”, mas, em vez disso, mergulhei com ela no próximo nível do universo cibernético ao digitar: “Sim amor, vamos.”
O advento da era digital mudou muitos dos nossos hábitos cotidianos. Os rituais de procurar notícias, comprar coisas das quais não precisamos, expressar nossos sentimentos e nos comunicarmos com pessoas sentadas do nosso lado hoje são realizados por meio de uma tela brilhante, teclando furiosamente. Mesmo em tradicionais contextos low-tech, como numa mesa de bar na minha vizinhança, em Granada, na Nicarágua, não é mais estranho ver uma mesa cheia de pessoas caladas, usando seus smartphones.
Como editor de um (hoje extinto) jornal comunitário, eu esta ciente, com tristeza, de que nossa publicação semanal – meu trabalho de coração, para o qual dediquei incontáveis horas a cada semana – era anacrônica… mesmo na Nicarágua.
Quando o jornal acabou, em fevereiro passado, comecei a repensar o que significava ser um jornal comunitário num era digital, de comunidades globais e virtuais. Para fazer um novo projeto ter sucesso, decidi que o conceito de publicação comunitária precisa ser global, digital e interativo. E, para que o projeto funcione na Nicarágua, deveria ser informativo e perspicaz, mas também democrático, participativo e inclusivo.
Depois de meses tentando juntar essas idéias em algo coerente - além de, ao mesmo tempo, buscar financiamento e ir atrás de colaborações na Nicarágua e no exterior -, lancei, no dia 17 de outubro, o Nicaragua Dispatch. O site tem cinco seções de notícias (breaking news, política, especiais, negócios/viagem e entrevistas), além de duas áreas para contribuições de leitores, com artigos de opinião, blogs e notícias comunitárias.
A idéia é não só informar os leitores, mas oferecer às pessoas um espaço virtual de encontros, para buscar e compartilhar idéias e projetos, discutir e debater questões de forma civilizada - uma prática democrática não encorajada na Nicarágua.
No dia do lançamento, tivemos mais de mil leitores, de quase 300 cidades, de 10 países – não é nada mau, considerando que tivemos apenas um pouco de publicidade local na Nicarágua e nossos textos ainda não estão sendo indexados pelo Google. Mais interessante ainda é a diversidade do público desde o primeiro dia.
Na primeiras horas de lançamento, recebi e-mails, comentários no Facebook e Tweets em inglês, espanhol e em uma mistura dos dois idiomas, de pessoas da Nicarágua que vivem aqui e no exterior e de estrangeiros de todos os cantos mundo.
Essa é nossa comunidade global. Eles são de diferentes países, com realidade econômicas, experiências culturais únicas e bagagens diferentes. São pessoas com as quais você não compartilharia o mesmo espaço em outras circunstâncias. Ainda assim, todos visitaram o Nicaragua Dispatch na segunda-feira por compartilharem um interesse pela Nicarágua e muitos têm opiniões e idéias para discutir sobre como ajudar o país a sobreviver e prosperar. Esses leitores são pessoas que nunca poderíamos ter alcançado por meio do produto impresso, que, de muitas maneiras, limita a diversidade dos leitores e desencoraja a participação.
Quando minha mulher me deu um abraço e um beijo de "parabéns", depois de eu, com dedos trêmulos, colocar o site no ar, na segunda-feira, a abracei de volta e pensei: "Isso é melhor do que todos os e-mail e comentários de apoio". Em certas situações, não há substitutos modernos para a comunicação.
O jornalista Tim Rogers é editor do Nicaragua Dispatch, um site de notícias independente em inglês.