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Todos os prêmios Cabot vão para mulheres pela primeira vez na história da premiação que homenageia jornalistas nas Américas

Pela primeira vez desde a sua fundação em 1938, todos os Prêmios Maria Moors Cabot vão ser dados para mulheres jornalistas.

Cabot Prize winners 2021

As vencedoras de 2021 são Eliane Brum, jornalista freelancer brasileira; Adela Navarro Bello, diretora geral da revista mexicana ZETA; Mary Beth Sheridan, correspondente no México e América Central do The Washington Post; e Adriana Zehbrauskas, fotojornalista brasileira radicada nos EUA.

As menções especiais vão para a repórter mexicana Regina Martínez Pérez, que foi morta em 2012, eo  The Cartel Project, uma colaboração com uma equipe multinacional de repórteres que continuou as suas investigações.

Outra citação especial será dada à equipe do site hondurenho Contra Corriente, "por seu trabalho de reportagem inestimável e intrépido em um momento de grande crise" para o país.

Os prêmios Cabot, concedidos pela Columbia Journalism School dos Estados Unidos, "homenageiam jornalistas e organizações de notícias pela excelência de carreira e cobertura do Hemisfério Ocidental que promova o entendimento interamericano".

Os vencedores recebem medalhas de ouro e um honorário de US$ 5.000, a cerimônia é em 12 de outubro.

"Com o aumento das ameaças contra a imprensa nas Américas, incluindo ataques físicos e online contra repórteres mulheres, eu comemoro a seleção do Júri do Cabot de quatro jornalistas mulheres notáveis para receber os prêmios Cabot deste ano", disse o presidente da Columbia Lee C. Bollinger, de acordo com um comunicado de imprensa da universidade. "Em nome de toda a Universidade, gostaria de dar os meus parabéns e agradecer aos homenageados pelo seu talento e coragem."

A ganhadora do prêmio Eliane Brum, uma veterana de 30 anos no jornalismo, foi reconhecida por sua cobertura da Amazônia e outras questões sociais e ambientais no Brasil e considerada “uma das vozes mais respeitadas do jornalismo brasileiro” pelos prêmios.

“Eu ficaria muito honrada em receber este prêmio em qualquer momento. Mas é particularmente significativo neste momento em que a profissão de jornalista está sob ataque”, disse Brum à LatAm Journalism Review (LJR). “Isso é ainda mais verdadeiro no Brasil, que tem seu pior presidente da história, um homem que ataca com frequência jornalistas, especialmente mulheres jornalistas, um homem que é o grande responsável pelo meio milhão de mortes de brasileiros por COVID-19, um homem que acelerou a destruição da maior floresta tropical do planeta."

“Para mim, como jornalista freelancer radicada no interior da Amazônia que escreve sobre povos da floresta e a ligação entre a crise climática e os direitos humanos e não-humanos, este prêmio é um reconhecimento muito importante ao meu trabalho e uma poderosa forma de chamar a atenção para o que está acontecendo no Brasil ”, continuou. “Neste momento sombrio, quando tantas pessoas em tantos países estão sofrendo as terríveis consequências da crise do clima, há poucas oportunidades de sentir alegria. Mas alegria é exatamente o que sinto depois de ser selecionada para este prêmio incrível. Minha alegria é ainda maior porque estou do lado de mulheres maravilhosas!”

Navarro, chamada de “potência do jornalismo nas Américas”, foi indicada por sua equipe na ZETA, que investiga corrupção, abuso de poder e crime organizado, apesar de ser alvo de ataques e campanhas de difamação.

Sheridan foi reconhecida por usar "sua vasta experiência para criar histórias com nuances que ajudam a explicar a região em uma prosa narrativa envolvente". Ela é uma correspondente veterana na cobertura de países da América Latina pela imprensa americana e de agências de notícias.

"É uma honra receber o prêmio Cabot e fazer parte desta fraternidade - e irmandade feminina! - de jornalistas ilustres que cobrem a América Latina, disse Sheridan à LJR."A lista de vencedores anteriores inclui tantas pessoas que me inspiraram ao longo da minha carreira". 

A fotojornalista e documentarista Zehbrauskas foi elogiada por seu respeito e humanidade ao retratar os marginalizados e aqueles que sofrem. Os Prêmios destacaram seus "retratos iluminadores de pessoas em circunstâncias desesperadoras... conhecidas por sua intimidade e empatia".

“É uma grande honra ser reconhecida com este prêmio, mas o mais importante, ele mostra o poder que o fotojornalismo tem de construir pontes e trazer compreensão por meio de histórias visuais empáticas e compassivas”, disse Zehbrauskas à LJR. “É uma honra compartilhar o prêmio com um grupo tão incrível de jornalistas e recebê-lo em nome de todos os meus bravos colegas que enfrentam condições de trabalho extremamente difíceis e muitas vezes angustiantes diariamente.”

2021 Cabot Special Citations

A vencedora póstuma da menção especial, Martínez Pérez foi uma corajosa repórter investigativa em um dos lugares mais perigosos para os jornalistas. Ela foi morta em Veracruz, no México, em 2012, e os mentores intelectuais de seu assassinato ainda não foram punidos. Como parte do The Cartel Project, repórteres de todo o mundo investigaram seu assassinato, bem como o crime organizado e suas conexões políticas.

O Prêmio chamou Martínez Pérez e o The Cartel Project de exemplos duradouros de "resistência e de enfrentamento diante da adversidade, dor e morte".

"Forbidden Stories e todos os parceiros do Cartel Project estão extremamente honrados de que este trabalho de continuar o trabalho de Regina Martinez tenha sido reconhecido pela escola de Jornalismo de Columbia", disse a equipe de Forbidden Stories à LJR. "Desde o início da nossa aventura colaborativa, quase quatro anos atrás, temos dito isso repetidamente: Matar um jornalista não vai matar a história."

O site hondurenho Contra Corriente, também destinatário da citação especial, tem apenas quatro anos, mas reporta sobre tráfico de drogas, violência criminal, destruição ambiental e ataques aos direitos indígenas, conforme consta dos prêmios. O Prêmio observou especificamente como o veículo “preencheu um vazio” na cobertura da migração.

“Em Honduras, um país controlado por máfias, fazer jornalismo pode ser um grande desafio. Com o encerramento dos espaços democráticos, com o caminho acelerado para a autocracia, os jornalistas de Contra Corriente, muitos deles muito jovens e entusiasmados, aprendem todos os dias a se proteger no exercício rigoroso e ético da sua profissão ”, Jennifer Ávila, cofundadora de Contra Corriente, disse a LJR.

“Para estes jornalistas, que apostaram nesta pequena redação que conta grandes histórias e também faz grandes investigações, esta menção é mais um incentivo para continuar, um empurrão e também uma forma de nos lembrarmos que o que fazemos é uma grande responsabilidade,” ela continuou. “Contra Corriente é um espaço construído graças a esses jornalistas que estão sempre em busca da verdade, mas também a colaboradores, artistas, voluntários locais e estrangeiros, pessoal administrativo, gestores de rede, programadores e webmasters, cronistas e uma enorme rede de apoio na América Latina que nos protege e nos incentiva a continuar reportando sobre este país ”

Os membros do Conselho do Prêmio Cabot deste ano incluíram Rosental Alves, Hugo Alconada Mon, Juan Enríquez Cabot, Carlos Dada, Gustavo Gorriti, Marjorie Miller, Julia Preston, Giannina Segnini, Elena Cabral, Tracy Wilkinson e Abi Wright.

*Nota do editor: Rosental Alves, que faz parte do Conselho do Prêmio Cabot é fundador e diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, que publica a LatAm Journalism Review

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