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Veículos digitais lançam solução para distribuir e monetizar notícias sobre a periferia de São Paulo

Quatro iniciativas jornalísticas com foco editorial em áreas periféricas e favelas do Brasil lançaram na terça-feira, 24 de agosto, uma solução para distribuição e monetização das suas notícias. A plataforma Território da Notícias (TN) conta com 25 telas instaladas em estabelecimentos comerciais nas periferias e favelas da cidade de São Paulo. Além de mostrar notícias, as telas mostram também anúncios.

Tela da TN instalada em mercado na zona sul de São Paulo. Ao todo, serão 25 telas, com audiência estimada entre 500 e 800 mil pessoas por mês. Foto: Patrícia Santos

Tela da TN instalada em mercado na zona sul de São Paulo. Ao todo, serão 25 telas, com audiência estimada entre 500 e 800 mil pessoas por mês. Foto: Patrícia Santos

“Cada tela significa um alcance de público que as redes sociais não possibilitam e também geração de renda que vai monetizar a audiência. Não é só exibir o conteúdo e sim transformar essa estratégia em geração de renda,” disse à LatAm Journalism Review (LJR) Ronaldo Matos, gerente comercial do TN, jornalista e co-fundador do site de notícias Desenrola e Não Me Enrola.

Além da Desenrola, a TN conta ainda com os coletivos jornalísticos Alma Preta, Embarque Nodireito e Periferia em Movimento. O conteúdo de cada uma mostrado nas telas pode ser acessado via um QR code.

“A gente tem um debate muito forte sobre os desertos de notícias, mas muitas vezes a notícia que a gente produz ela não chega até quem precisa porque tem um gargalo de distribuição,” disse à LJR Simone Freire, gerente de marketing da TN.

A comparação das dificuldades enfrentadas pelo jornalismo local em periferias e favelas com os desertos de notícias é pertinente. De acordo com a edição mais recente do Atlas da Notícia, 17,9% dos municípios brasileiros não têm nenhum veículo jornalístico em atividade. Em geral, são municípios pequenos, com população mediana de 7.100 habitantes.

Simone Freire, gerente de marketing da TN: ‘mapeamos estabelecimento comerciais parceiros pensando na audiência e juntamos com a grande produção jornalística que já vem desses coletivos’

Simone Freire, gerente de marketing da TN: ‘mapeamos estabelecimento comerciais parceiros pensando na audiência e juntamos com a grande produção jornalística que já vem desses coletivos’

Embora periferias e favelas de grandes cidades não sejam consideradas desertos de notícias, pois em geral fazem parte de cidades maiores onde há veículos de jornalismo, essas populações têm necessidades de informação específicas. Mesmo quando existem veículos locais produzindo conteúdo, a distribuição é uma barreira adicional.

Uma pesquisa do Fórum Comunicação e Territórios identificou 97 iniciativas de jornalismo local ativas em 2019 na cidade de São Paulo, a maior do Brasil com 12 milhões de habitantes. A TN estima que as suas 25 telas iniciais vão atingir entre 500 a 800 mil pessoas por mês.

A inspiração da TN vem de displays publicitários que existem em elevadores de prédios corporativos, em pontos de ônibus e estações de trem e metrô. Muitos deles, além dos anúncios, também mostram manchetes do noticiário como forma de atrair a atenção dos transeuntes.

“Mapeamos estabelecimento comerciais parceiros pensando na audiência. Precisavam ter grande fluxo de clientes e juntamos com a grande produção jornalística que já vem desses coletivos,” explicou Freire.

A TN surgiu a partir de um projeto selecionado pelo Desafio de Inovação Google News Initiative na América Latina em 2019. Com o dinheiro, a equipe desenvolveu a solução tecnológica própria que interliga as telas com o sistema de publicação de notícias e anúncios. Ele é mantido por uma equipe de 20 pessoas, entre jornalistas e técnicos, com apoio de equipes de vendas, financeira e de marketing.

Ronaldo Matos, gerente comercial da TN: ‘o deserto não é só de produção de notícias, mas também de distribuição’. Foto: cortesia

Ronaldo Matos, gerente comercial da TN: ‘o deserto não é só de produção de notícias, mas também de distribuição’. Foto: cortesia

“Um dos nossos grandes desafios é conseguir investidores para a nossa operação. Temos tecnologia própria, equipe própria. Além disso, o plano e método de venda de anúncios é nosso. O produto adaptado à desigualdade estruturante do acesso à internet no Brasil, onde o celular é a principal ferramenta de conexão,” disse Matos.

E investimentos serão necessários para, uma vez consolidada, a TN amplie a sua abrangência na cidade de São Paulo, inclua novas iniciativas jornalísticas. Também está nos planos entrar em novas cidades, como o Rio de Janeiro, que, assim como São Paulo, conta com uma cena importante de jornalismo produzido nas favelas.

“Quem se formar na faculdade daqui a cinco anos, vai poder criar um portal de jornalismo no seu bairro com a rede de longo alcance da TN,” prevê Matos. “Vai ser também capaz de monetizar o seu conteúdo, numa alternativa às redes sociais, atendendo a princípios éticos e editoriais de qualidade jornalística”.

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