Diferentemente de outros países latino-americanos, a Colômbia não tem eleições presidenciais neste ano, mas elegerá representantes locais como governadores, prefeitos e vereadores, entre outros cargos, em 27 de outubro. Como nas eleições presidenciais, as campanhas regionais podem ser afetadas pela disseminação de informações falsas.
Por isso, Colombiacheck, o meio colombiano dedicado à verificação de dados, começou a treinar jornalistas na região antes do lançamento da Rede Nacional de Checadores (RedCheq), em 14 de agosto.
“Vendo como cobrir as eleições regionais, nos ocorreu no início do ano a realização de cursos para ensinar a jornalistas locais a metodologia de fact-checking. Ensinamos a eles ferramentas e a lógica deste trabalho”, disse Pablo Medina, coordenador da Colombiacheck, ao Centro Knight. “Naquele momento, não havíamos planejado a Rede Nacional porque não tínhamos o orçamento para montá-la. Mas sabíamos que, como a equipe [de Colombiacheck] está em Bogotá, não poderíamos checar tudo, pelo menos [com o treinamento] alguém mais poderia fazer isso.”
De todo modo, a ideia de poder verificar as informações nas regiões do país permaneceu com a equipe. O Colombiacheck, que é um projeto do Consejo de Redacción - uma associação de jornalistas colombianos que busca incentivar o jornalismo investigativo especialmente a nível regional -, não ignorava essa necessidade.
Por isso, a equipe apresentou uma proposta ao Facebook e ao Google. As empresas de tecnologia, que haviam apoiado projetos de fact-checking durante eleições presidenciais como Verificado, no México, Comprova, no Brasil, e o recente Reverso, na Argentina, também decidiram apoiar este projeto de verificação para as eleições regionais.
Segundo Medina, uma vez que o orçamento foi aprovado, eles decidiram convidar os meios que participaram das oficinas regionais e que haviam mostrado interesse em fazer fact-checking durante essas eleições.
Até agora, meios de comunicação de pelo menos 10 cidades do país aderiram, incluindo as maiores como Medellín, Cali, Cartagena, Barranquilla e Bucaramanga. Impressos, rádio, canais de televisão e mídias digitais se juntaram à rede.
"Vamos ver o quão interessante é", Medina respondeu quando perguntado quanto interesse um meio em Medellín pode ter no que acontece em uma cidade como Bucaramanga. “Também se uniram meios nacionais, assim o trabalho feito em uma cidade como Bucaramanga pode ser republicado em RCN ou El Tiempo, o que permite que tenha um impacto muito maior.”
Alguns dos meios aliados também tinham seus projetos regionais de fact-checking antes de entrar na rede. É o caso de "No sea pingo" (gíria regional que em tradução livre seria "bobo") do jornal Vanguardia em Bucaramanga, no departamento de Santander.
Para a Vanguardia, a RedCheq oferece benefícios para seu recente projeto de fact-checking, como a experiência da Colombiacheck fazendo essas verificações, bem como maior credibilidade no trabalho que está sendo feito, como Juan Carlos Chio, coordenador do 'No sea pingo' e da unidade investigativa do jornal, disse ao Centro Knight.
"Uma coisa é dizer que 'Vanguardia está fazendo checagem de dados' e outra coisa é dizer que é uma rede nacional onde 15, 20, 30 meios e instituições participam verificando os dados", disse Chio. “Um dos problemas com a checagem de dados é que, quando um meio faz isso, as pessoas às vezes duvidam. E isso é compreensível porque as pessoas, no caso dos meios de comunicação tradicional, tiveram essa desconfiança (...), mas quando isso é feito desde uma aliança, isso lhe dá muito mais peso ”.
A Vanguardia até fez alianças localmente, como com a Universidade Autônoma Bucaramanga (Unab) e seu jornal 15. De fato, além de dois jornalistas e dois estagiários da unidade investigativa, o projeto 'No sea pingo' tem dois estagiários da Unab.
Após a experiência de fact-checking para as eleições, a Vanguardia analisará se manterá o projeto permanentemente e não apenas para a temporada eleitoral. Por isso, desde que foi concebido, buscou tornar o projeto o mais próximo possível da região em que o jornal circula. Daí o uso da expressão "no sea pingo", que é "muito, muito regional", como explicou Chio, e o uso da formiga saúva-cabeça-de-vidro, típica da região, como sua imagem.
“Quisemos apelar um pouco para a idiossincrasia dos santanderianos. Queremos que seja um projeto próximo à comunidade, que as pessoas sintam que lhes pertence e que, se as pessoas tiverem alguma dúvida, sintam que podem nos escrever”, disse Chio. "Queríamos iniciar o projeto por esse lado, marcar um pouco a diferença, sem esquecer, obviamente, a metodologia de checagem usada não apenas pela Colombiacheck, mas baseada nos princípios da International Fact-Checking Network."
No entanto, ter seu próprio projeto de verificação, como no caso da Vanguardia, não é um requisito para fazer parte da RedCheq.
“Cada meio pode usar seus recursos da maneira que achar melhor”, explicou Medina.
A Rede tem uma espécie de nuvem interna para a qual todos os meios aliados enviam suas verificações, disse Medina. As verificações serão publicadas nas redes e plataformas da rede nacional, da Colombiacheck e de cada meio que assim desejar. Isso não significa que exista um compromisso para que todos os meios publiquem o que foi feito pelos outros aliados.
"Temos, sim, o compromisso de ter, em média, pelo menos quatro checagens por semana, mas eles podem fazer mais se quiserem", disse Medina.
Por enquanto, a RedCheq está programada para ir até 30 de novembro porque, como Medina explica, “sempre que há eleições, há desinformação sobre o processo de votação, sobre os formulários não estarem bem preenchidos, sobre a contagem [de votos] etc.”
"Vamos parar por aí, mas esperamos que esta rede possa estabelecer as bases para as eleições presidenciais de 2022", disse Medina.
A equipe principal do Colombiacheck será responsável por checar as eleições de Bogotá e seu departamento de Cundinamarca.
"Queremos que saibam que isso está aberto a todos os meios que queiram participar", disse Medina. “Não é a primeira ou a última aliança de meios na Colômbia, mas estamos muito felizes por termos conseguido unir tantos meios de tantas regiões.”